Dezenas de milhares de crianças e adolescentes participaram do conflito mais brutal e sangrento da história da humanidade, a Segunda Guerra Mundial. É claro que os menores não estavam sujeitos a recrutamento e trabalhavam principalmente nas fábricas de munições na retaguarda. No entanto, havia aqueles que estavam tão ansiosos para lutar contra o inimigo que fugiam de casa e entravam na frente de batalha de modo não oficial.
Na maioria dos casos, os menores participavam de operações de reconhecimento ajudando a organizar de emboscadas, tornavam-se soldados da infantaria, carregadores de projéteis, atiradores e alguns até conseguiam pilotar aeronaves militares.
Foi assim que, por exemplo, o britânico Tom Dobney, de 14 anos, entrou na escola de aviação depois de falsificar sua certidão de nascimento e, um ano depois, tornou-se piloto de um bombardeiro noturno da Força Aérea Real. Ele participou de 20 missões antes que a falsificação fosse descoberta.
Houve um caso semelhante na aviação soviética. Mas Arkádi Kamânin, de 14 anos, não precisou enganar ninguém para se tornar o mais jovem piloto da Força Aérea do Exército Vermelho. Arkádi era descendente do famoso piloto militar Nikolai Kamânin, um dos primeiros Heróis da União Soviética, depois de resgatar a tripulação do navio "Tcheliúskin", que afundava no gelo ártico em 1934.
A família de Nikolai Kamânin tinha que viajar muito pelo país, e em todos esses paradeiros Arkádi corria para o campo de aviação, onde passava todo seu tempo livre. “Na Ásia Central, no primeiro ano da guerra, ele passou em hangares o dia todo. Na época me parecia bastante natural, já que todos os jovens adoram os aviões", escreveu seu pai, Nikolai, em seu livro de memórias — a partir de 1960, o pai também chefiou a seleção e preparação dos primeiros cosmonautas soviéticos.
Arkádi Kamânin com o pai, Nikolai Petrôvitch Kamânin.
Domínio públicoAos 13 anos, o menino conhecia tão bem a estrutura das aeronaves que recebeu autorização para trabalhar em oficinas de reparo de aviões. “Junto com os outros, ele consertava furos, limpava peças, reparava danos, substituía blocos", escreveu o pai.
Em 1942, Nikolai Kamânin, que era então comandante da aviação no Distrito Militar da Ásia Central, foi transferido de Tashkent para a frente soviético-alemã. No início de 1943, a família insistiu para ir junto.
Em seu novo destino, Arkádi, aos quatorze anosde idade, uniu-se às fileiras do Exército Vermelho, tornando-se um mecânico de equipamentos especiais para o esquadrão de comunicações do quartel-general. Mas isso não bastava: ele sonhava em voar.
Arkádi Kamânin com o pai, Nikolai Petrôvitch Kamânin, em 1944
Domínio públicoOs pilotos soviéticos passaram então a treinar Kâmanin: inicialmente, eles permitiam que ele dirigisse o avião no solo e, depois, que o pilotasse em voo horizontal e realizasse manobras simples. Logo o menino conseguiria decolar, pousar e fazer acrobacias complexas.
Surgiu então um impasse: deviam ou não permitir que Arkádi voasse de forma independente? O comando não autorizou que ele pilotasse aeronaves de ataque, mas considerou adequado para o jovem piloto o biplano multifuncional de baixa velocidade U-2 (Po-2), que foi usado pelas Forças Aéreas do Exército Vermelho como aeronave de comunicação e de reconhecimento aeronave e como bombardeiro noturno.
Em julho de 1943, Arkádi passou nos exames e foi nomeado piloto do 423º Esquadrão de Aviação de Comunicação.
Arkádi Kamânin
Domínio públicoDurante um de seus voos, Kamânin viu uma aeronave de ataque Il-2 danificada em terra. Sob fogo inimigo, ele pousou ao lado do avião, conseguiu salvar o piloto ferido, encontrou seu equipamento fotográfico e material secreto e levou o homem ao hospital. Mais tarde, Kamânin foi condecorado com a Ordem da Estrela Vermelha.
Em 1944, Arkádi conseguiu defender o quartel-general da frente de batalha de um ataque de unidades de ultranacionalistas do Exército Insurgente Ucraniano (reconhecido como organização extremista proibida na Federação Russa), lançando, do ar, granadas de mão no inimigo. Pelo feito, ele foi premiado com sua segunda Ordem da Estrela Vermelha.
No final da guerra, Arkádi Kamânin, aos 16 anos, tinha realizado mais de 650 missões de combate. Além de duas ordens da Estrela Vermelha, ele foi premiado com a Ordem da Bandeira Vermelha, medalhas "Pela captura de Budapeste", "Pela captura de Viena" e "Pela vitória sobre a Alemanha na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945".
Mas Arkádi nunca se tornou piloto de caças. Ele sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, mas morreu de meningite em 1947, com apenas 18 anos de idade.
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