De rave a desfile de moda, os acontecimentos mais inusitados do metrô de Moscou

Sputnik; Olga Chveitser/TASS; Legion Media
Ao longo de seus 86 anos de existência, o Metrô de Moscou não só transportou passageiros, mas também serviu como pista de dança, passarela, biblioteca e até maternidade!

1. Biblioteca, maternidade e sala de palestras durante a Segunda Guerra

Metrô Maiakóvski, 1941.

“Dou uma passada quase diariamente [na estação]. Não porque tome o trem nessa estação para voltar para casa, mas especialmente para ler jornais e fazer outras leituras... A única desvantagem qua não dá para evitar é a contínua circulação de ar devido ao movimento dos trens e o fluxo contínuo de passageiros”, escreveu sobre a estação de metrô Kúrskaia o engenheiro Bogdánov (cujo nome completo é desconhecido), no primeiro ano da Grande Guerra Patriótica (a participação soviética na Segunda Guerra).

Até o início da guerra ali, foram construídas três linhas de metrô e, durante o bombardeio de Moscou, os residentes foram evacuados justamente para seus subterrâneos. É difícil imaginar, mas nos anos da guerra o metrô funcionava 24 horas por dia — de dia, os trens transportavam passageiros e, à noite, as estações se convertiam em abrigos.

As estações tinham banheiros, bebedouros de água e muitas tarimbas e berços para os cidadãos dormirem. As mulheres com bebês, os idosos e os deficientes passavam a noite nos vagões, de acordo com documentos históricos disponíveis no site da prefeitura de Moscou.

Em algumas estações, as pessoas recebiam tratamento médico e ocorriam até mesmo partos. Da mesma forma, funcionavam ali lojas e cabeleireiros. Havia aulas de afazeres para as crianças, que aprendiam a costurar e desenhar, e os adultos podiam assistir a exibições de filmes, concertos e exposições históricas.

Discurso de Stalin em estação de metrô, em 6 de novembro de 1941.

Até o líder soviético Iôssif Stálin desceu para o metrô, em 6 de novembro de 1941, durante o Conselho de Deputados na estação Maiakóvskaia. Para recebê-lo, cobriram o chão todo de carpetes e instalaram uma tribuna para discursar, e um retrato seu na parede, diante do busto de Lênin. Depois do evento oficial houve um bufê, e os convidados tomavam cerveja e comiam biscoitos e sanduíches dentro dos vagões.

2. Apresentação da revista “Ptiutch” na Krásnie Vorôta

Inauguração da revista

Copos e pratos descartáveis ​​com sobras espalhavam-se pelas escadas rolantes, assim como jovens, alguns vestindo blusões, alguns de jeans e camisetas estampadas, alguns de terno.

Parecia uma rave da moda, mas era o lançamento da revista “Ptiutch”, em 1994, diretamente na estação de metrô Krásnie Vorôta, em Moscou. A revista, como era de se esperar, tratava principalmente de música techno e reportagens de raves, além, é claro, da casa noturna homônima em Moscou, de propriedade do dono da revista. A capa frequentemente trazia modelos andróginos, travestis, designers e músicos.

A “Ptiutch” era radical e publicava em suas páginas meninos urinando com órgãos que tinham o tamanho dos de adultos e palavrões. Lembro nitidamente o letreiro: ‘VÁ PARA O C...’”, escreveu o repórter Maksím Semeliak.

A “Ptiutch” fechou em 2003, com o fim dos anos 90. Mas a memória de seu lançamento no metrô está viva.

3. ÓperaitaliananaKropôtkinskaia

Ópera de Pietro Mascagnino metrô de Moscou.

O metrô de Moscou geralmente funciona até 1h da manhã, quando um último punhado de passageiros corre para pegar o último trem. Mas na noite de 14 de maio de 2016, uma multidão inteira se reuniu na estação de metrô Kropôtkinskaia, onde a plataforma foi convertida em um mini palco para 170 pessoas.

O metrô de Moscou celebrava seu 81º aniversário, e os funcionários assistiam a uma apresentação da ópera “Cavalleria Rusticana” — ironicamente, do compositor fascista italiano Pietro Mascagni — pela Orquestra Presidencial Russa, repleta de maestros e cinco solistas. Uma das partes do solo foi executada pela prima donna da Ópera Real Dinamarquesa Natalia Leontieva.

“Durante a Segunda Guerra Mundial, minha mãe se escondeu do bombardeio nesta mesma estação”, disse Leontieva. Uma orquestra sinfônica se apresentou na mesma estação em 2010, mas a ópera em 2016 foi o maior evento da história do metrô moscovita.

Ópera italiana em metrô russo.

4. Desfile de moda no depósito

Desfile da Givenchy no metrô moscovita.

Alguns policiais se postam em cada vagão do metrô, enquanto passageiros felizardos e vestindo casacos de pele estão sentados e os garçons servem champanhe no trem em movimento. O trem chega a uma estação cheia de fileiras de cadeiras e uma passarela na qual modelos estão prestes a desfilar ao som da música, como se estivessem na série de TV “Sex and the City”.

Foi assim que, em 1997, a Givenchy fez um desfile em Moscou no depósito da estação de metrô Sôkol, com a presença de Alexander McQueen, que também veio visitar sua própria loja no GUM. De acordo com o jornal Kommersant, McQueen não subiu na passarela, preferindo observar a reação dos convidados de lado.

Desfile de Aleksandr Terekhov, em 2016.

Em 2016, o metrô de Moscou organizou outro desfile de moda, desta vez de Aleksandr Terekhov, na estação Dostoiévski. Mas não havia passarela dessa vez: em vez disso, as modelos percorriam o piso de mármore escorregadio do saguão.

Desfile no metrô.

Desfiles de vários estilistas russos foram realizados em 2019 na estação Delovôi Tsentr, ao mesmo tempo em que se iniciava a Semana da Moda de Moscou. As modelos desciam diretamente pela escada rolante ao som das rodas do trem como acompanhamento “musical”.

5. Velório na Linha do Anel

Uma mulher sem blusa está sentada em um vagão do metrô e come uma salada com o garfo, posando para a câmera. No primeiro plano há uma mesa festiva cheia de vodca, diante da qual homens e mulheres estão sentados. Todos estão comendo e bebendo ali mesmo, no vagão, sem brindar. Alguns recitam poesia em uníssono, outros cantam canções ao violão. Os recém-chegados ao vagão também recebem comida e bebida e não há nenhum policial à vista.

A certa altura, um dos homens diz: “Obrigado, terminamos a Linha do Anel”. Todos se preparam para descer do trem, deixando a mesa dentro do vagão.

“Vamos deixar a mesa?! Não vou a lugar algum sem ela!”, diz uma das mulheres. Mas ela não tem tempo de pegá-la quando as portas se fecham e o trem vai embora.

Não era um banquete aleatório, mas um velório realizado pelo coletivo artístico “Voiná” (em português, “Guerra”), 40 dias após a morte do escritor e poeta russo de vanguarda Dmítri Prigov, agosto de 2007. Em homenagem a ele, os artistas performáticos percorreram a Linha do Anel metrô de Moscou com o banquete.

Em vida, Prigov ficou conhecido por realizar performances extraordinárias. Uma das mais memoráveis ​​foi a ópera digital “Rússia”, na qual ele tentava ensinar um gato a pronunciar o nome do país.

“Antes de começar, tentamos adivinhar depois de estações a polícia nos pegaria. Incrivelmente, nem um único policial entrou em nosso vagão, apesar de todos os trens da Linha do Anel terem câmeras de vigilância”, disse o membro do Voiná Oleg Vorotnikov.

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