Moscou nos primeiros anos do poder soviético (FOTOS)

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
O mais ilustre fotógrafo de arquitetura da época em Moscou, Naum Granóvski registrou a cidade ao longo de várias décadas. Confira algumas de suas melhores fotos dos anos 1920 e 30.

A extensa obra de Naum Granóvski mostra como a aparência e a arquitetura da capital russa mudaram e se desenvolveram entre os anos 1920 e 1980 – de uma cidade predominantemente mercantil no início do século, passando pelo estilo do ‘Império Estalinista’ até chegar ao modernismo.

Em 1918, quando a liderança soviética transferiu a capital de Petrogrado (atual São Petersburgo) para Moscou, o processo de reconstrução da cidade teve início.

Moscou se tornaria não apenas o coração da “Terra dos Soviéticos”, mas a capital do primeiro Estado socialista do mundo.

A década de 1920 presenciou o início de um cronograma ativo de renovação, que deu origem a novos palácios, centros culturais e edifícios de escritórios de imprensa.

Mas as fotografias de Naum Granóvski durante esse período não retratam nenhum projeto de construção grandioso e quase nenhuma peça de arquitetura nova; em vez disso, o espectador tem um vislumbre de como a cidade era sob o antigo regime.

“Ele captura a Moscou antiga, quase perdida. Vendo essas fotos, tem-se a impressão de que Granóvski está estabelecendo o parâmetro pelo qual todas as imagens subsequentes serão comparadas”, diz Elizaveta Likhatcheva, diretora do Museu Estatal de Arquitetura Schusev.

Na década de 1920, Granóvski era um jovem correspondente da TASS.

No início de sua carreira criativa, experimentou diferentes técnicas de filmagem, e seu arquivo contém imagens em estilo construtivista.

Já nos anos 1930, até a arquitetura era política. Novos edifícios, avenidas e praças eram necessários para incorporar visualmente os sucessos do jovem Estado soviético. Granóvski registrava agora, conscientemente, a construção da nova Moscou.

A fama de Naum Granóvski como “o cronista de Moscou” começou em 1934. Na época, ele trabalhava para a editora Izoguiz, que se dedicava, entre outras tarefas, a fotografar a arquitetura do “crescente e florescente” país.

Pouco a pouco, no final da década de 1930, as marcas do estilo de fotografia urbana de Granóvski começaram a se cristalizar: uma composição estritamente calibrada com visão da via pública se estendendo ao longo e linha do horizonte elevada.

A cidade se transformou em um gigantesco canteiro de obras: a rua Górki (atual Tverskaya) foi alargada, e os edifícios do Hotel Moskva, da Biblioteca Lênin e da Casa na Margem (do rio Moscou) foram erguidos. No local dos antigos distritos de Okhotni Riad, Kitai-Gorod e Zariadie, surgiram novas praças e ruas.

Iniciou-se um programa em grande escala para construção de metrôs, culminando com a adoção, em 1935, do Plano Geral para a Reconstrução de Moscou – que, com alguns ajustes, vigorou até o início dos anos 1970. O estilo arquitetônico Bolshoi passou a predominar em Moscou, mais tarde conhecido como stalinista.

“Quando você olha as plantas dos arquitetos soviéticos, tem a estranha impressão de que esses edifícios magníficos foram planejados para alguma outra cidade. Eles são enormes e opressores; carros, pessoas, às vezes até aviões parecem brinquedos contra o pano de fundo dessas estruturas gigantescas”, escreve Elizaveta Likhatcheva na monografia “Naum Granóvski 1920-1980”. Para Likhatcheva, essa arquitetura não é para ou sobre as pessoas, mas demonstração de grandeza e o poder do Estado.

Mas as fotos de Granóvski mostram não apenas a “arquitetura totalitária”; ele fotografa a cidade, registrando seu desenvolvimento e mudanças. Tanto é que seu trabalho revisita diversas vezes as mesmas praças e ruas.

Ainda mais importante, Granóvski fotografava moscovitas comuns. Assim, “o que parece avassalador na prancheta se funde naturalmente com a cidade”, diz Likhatcheva. “Granóvski reduz o estilo Bolshoi ao nível da percepção humana.”

A retrospectiva “Moscou de Naum Granóvski 1920-1980”, em homenagem ao 110º aniversário do fotógrafo, segue em cartaz no Centro de Fotografia dos Irmãos Lumière, sob os auspícios da Still Art Foundation, até 31 de outubro.

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