A extensa obra de Naum Granóvski mostra como a aparência e a arquitetura da capital russa mudaram e se desenvolveram entre os anos 1920 e 1980 – de uma cidade predominantemente mercantil no início do século, passando pelo estilo do ‘Império Estalinista’ até chegar ao modernismo.
Vista do Mercado Sukharev e da Torre Sukharev. Década de 1920
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreEm 1918, quando a liderança soviética transferiu a capital de Petrogrado (atual São Petersburgo) para Moscou, o processo de reconstrução da cidade teve início.
Moscou se tornaria não apenas o coração da “Terra dos Soviéticos”, mas a capital do primeiro Estado socialista do mundo.
A década de 1920 presenciou o início de um cronograma ativo de renovação, que deu origem a novos palácios, centros culturais e edifícios de escritórios de imprensa.
Mas as fotografias de Naum Granóvski durante esse período não retratam nenhum projeto de construção grandioso e quase nenhuma peça de arquitetura nova; em vez disso, o espectador tem um vislumbre de como a cidade era sob o antigo regime.
Praça Kalanchevskaya. 1929
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos Lumière“Ele captura a Moscou antiga, quase perdida. Vendo essas fotos, tem-se a impressão de que Granóvski está estabelecendo o parâmetro pelo qual todas as imagens subsequentes serão comparadas”, diz Elizaveta Likhatcheva, diretora do Museu Estatal de Arquitetura Schusev.
Catedral de Cristo Salvador, construída em homenagem à vitória na Guerra Patriótica de 1812. 1927
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreNa década de 1920, Granóvski era um jovem correspondente da TASS.
No início de sua carreira criativa, experimentou diferentes técnicas de filmagem, e seu arquivo contém imagens em estilo construtivista.
Torre Shukhov. 1929
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreJá nos anos 1930, até a arquitetura era política. Novos edifícios, avenidas e praças eram necessários para incorporar visualmente os sucessos do jovem Estado soviético. Granóvski registrava agora, conscientemente, a construção da nova Moscou.
Edifício da editora Pravda. 1934
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreA fama de Naum Granóvski como “o cronista de Moscou” começou em 1934. Na época, ele trabalhava para a editora Izoguiz, que se dedicava, entre outras tarefas, a fotografar a arquitetura do “crescente e florescente” país.
Vista da Ponte Bolshoi Kamenny. Final da década de 1930
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièrePouco a pouco, no final da década de 1930, as marcas do estilo de fotografia urbana de Granóvski começaram a se cristalizar: uma composição estritamente calibrada com visão da via pública se estendendo ao longo e linha do horizonte elevada.
Vista da ponte Moskvoretsky e do Kremlin de Moscou. 1939
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreA cidade se transformou em um gigantesco canteiro de obras: a rua Górki (atual Tverskaya) foi alargada, e os edifícios do Hotel Moskva, da Biblioteca Lênin e da Casa na Margem (do rio Moscou) foram erguidos. No local dos antigos distritos de Okhotni Riad, Kitai-Gorod e Zariadie, surgiram novas praças e ruas.
Praça Manezhnaya. Vista do Hotel Moskva. Década de 1930
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreIniciou-se um programa em grande escala para construção de metrôs, culminando com a adoção, em 1935, do Plano Geral para a Reconstrução de Moscou – que, com alguns ajustes, vigorou até o início dos anos 1970. O estilo arquitetônico Bolshoi passou a predominar em Moscou, mais tarde conhecido como stalinista.
Entrada da estação de metrô Dínamo. Década de 1930
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos Lumière“Quando você olha as plantas dos arquitetos soviéticos, tem a estranha impressão de que esses edifícios magníficos foram planejados para alguma outra cidade. Eles são enormes e opressores; carros, pessoas, às vezes até aviões parecem brinquedos contra o pano de fundo dessas estruturas gigantescas”, escreve Elizaveta Likhatcheva na monografia “Naum Granóvski 1920-1980”. Para Likhatcheva, essa arquitetura não é para ou sobre as pessoas, mas demonstração de grandeza e o poder do Estado.
Teatro Bolshoi. Década de 1930
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreMas as fotos de Granóvski mostram não apenas a “arquitetura totalitária”; ele fotografa a cidade, registrando seu desenvolvimento e mudanças. Tanto é que seu trabalho revisita diversas vezes as mesmas praças e ruas.
Pavilhão das Regiões Centrais da RSFS da Rússia, no VSKhV (VDNKh). 1939
Naum Granóvski/Centro de Fotografia dos Irmãos LumièreAinda mais importante, Granóvski fotografava moscovitas comuns. Assim, “o que parece avassalador na prancheta se funde naturalmente com a cidade”, diz Likhatcheva. “Granóvski reduz o estilo Bolshoi ao nível da percepção humana.”
A retrospectiva “Moscou de Naum Granóvski 1920-1980”, em homenagem ao 110º aniversário do fotógrafo, segue em cartaz no Centro de Fotografia dos Irmãos Lumière, sob os auspícios da Still Art Foundation, até 31 de outubro.
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