- Ele via o ensino como sua vocação
Em 1861, quando o tsar Aleksandr 2° (também conhecido pela forma aportuguesada Alexandre) aboliu a servidão na Rússia, milhares de camponeses precisaram buscar empregos, partindo muitas vezes para as cidades e buscando modos de abastecerem suas famílias. Preocupado com o futuro desses camponeses, Tolstói transformou um anexo da propriedade de sua família em Iásnaia Poliana em uma escola para crianças camponesas – incluindo meninas.
Ele estudou a prática pedagógica europeia e acabou desenvolvendo seus próprios métodos. Tolstói ensinava ele mesmo as crianças a ler e dava aulas de história russa, fenômenos naturais e tudo o que considerava importante. Mais tarde, ele abriu várias outras escolas nas aldeias vizinhas. Os filhos de Tolstói e outors formandos do ensino superior, além de seus muitos admiradores, também ajudavam dando aulas nessas escolas.
Tolstói encorajava as crianças a serem criativas e usar a imaginação e admirava muito a curiosidade natural e visão pura que elas tinham da vida.
2. Amou uma camponesa
Antes de se casar, Tolstói deixou a noiva, Sofia, ler seus diários. A pobre moça ficou chocada com as detalhadas descrições de todos os seus casos amorosos. Envergonhado da enorme libido, Tolstói usava o diário para fazer um exame de consciência e autoflagelação. Mas o que mais incomodou Sofia ali foi o longo relacionamento de Tolstói com uma camponesa chamada Aksinia, que teve um filho dele.
As reflexões de Tolstói sobre seu desejo carnal e amor "criminoso" em relação às mulheres camponesas tiveram eco em várias obras, como “Os cossacos”, “O diabo” e “Tikhon e Malania”.
- Teve uma rixa com o principal escritor da época, Turguêniev
No meio literário russo, era costume que escritores estabelecidos apadrinhassem estreantes promissores. O talento indubitável de Tolstói foi imediatamente reconhecido por muitos após o lançamento de “Infância” (1852) e “Crônicas de Sevastópol” (1855), especialmente por Ivan Turguêniev, o principal escritor russo da época.
No entanto, Tolstói não apenas rejeitou os conselhos amigáveis de Turguêniev, como também criticou abertamente seu indesejado padrinho. Tolstói via o liberalismo europeu como um elemento discrepante - inclusive as ideias de igualdade das mulheres nos romances de George Sand, que todos os "ocidentalizadores" admiravam.
Havia também razões pessoais para a desavença entre os dois. Turguêniev falava abertamente sobre seus casos extraconjugais e a filha ilegítima, enquanto Tolstói simplesmente não podia aceitar um modo de vida tão “pecaminoso” (apesar de suas próprias transgressões).
Ofendido, Turguêniev prometeu "dar um soco na fuça de Tolstói". O conde respondeu a isso à altura: "Turguêniev é um canalha precisando de uma boa sova". Eles se reconciliaram apenas 20 anos depois. Já em seu leito de morte, Turguêniev escreveu a Tolstói: “Estou feliz por ter sido seu contemporâneo”.
- Tentou discorrer sobre o levante dezembrista e acabou escrevendo Guerra e paz
Um romance sobre a guerra da Rússia contra a França napoleônica não estava originalmente nos planos de Tolstói. Seu real interesse quando ele começou a escrever “Guerra e Paz” era o levante dezembrista de 1825 - quando alguns nobres iniciaram uma insurreição em São Petersburgo exigindo restrições à monarquia e a libertação dos servos, e, por isso, foram exilados na Sibéria.
Em 1856, o novo tsar declarou anistia aos dezembristas, e Tolstói decidiu escrever um romance sobre o retorno dos exilados da Sibéria. Mas ele estava distraído com suas atividades no ensino e só conseguiu escrever alguns capítulos.
Quando ele retomou o romance, o enredo já não parecia relevante, por isso ele foi em busca de assuntos mais profundos por trás do autossacrifício dos dezembristas. O resultado foi o épico “Guerra e Paz”.
- Enfureceu Dostoiévski com sua interpretação da Bíblia
Apesar de Tolstói ser profundamente religioso, ele tinha uma interpretação própria dos Evangelhos, e acreditava que a verdade estava na palavra divina, mas não em se curvar a tudo relacionado a Jesus.
“De acordo com Tolstói, os ensinamentos de Cristo poderiam ser reduzidos aos cinco mandamentos que desenvolveram ou contestaram aqueles revelados por Moisés”, escreve Andrêi Zorin, autor da nova biografia do escritor. Resumindo, para ele todas as pessoas eram iguais (apesar de suas opiniões sobre George Sand) e o adultério e a violência eram proibidos.
Fiódor Dostoiévski interessou-se pelo ponto de vista de Tolstói e, quando conheceu uma prima do conde, pediu que ela explicasse as ideias do parente. A prima, então, leu as cartas de Tolstói em voz alta para Dostoiévski, e depois escreveu posteriormente que o escritor "segurou a cabeça desesperadamente e gritou: ‘Essa não, essa não!’”
Ela acrescentou ainda: “Dostoiévski não simpatizou com um único pensamento de Tolstói.” Dostoiévski queria escrever uma carta a Tolstói e iniciar uma polêmica, mas morreu antes de fazê-lo.
- Defendia a misericórdia quanto aos assassinos do tsar
Uma das principais ideias de Tolstói era a da resistência não violenta ao mal, e ela se reflete em sua atitude quanto aos assassinos de Alexandre 2°. Em 1881, dois terroristas explodiram a carruagem real em São Petersburgo, resultando na morte do tsar.
Tolstói escreveu uma carta ao governo reacionário do novo tsar pedindo clemência quanto aos assassinos como um ato de caridade cristã. Mas a ideia era vista como incitação ao terror, e as autoridades tinham com o pé atrás quanto ao escritor ao vê-lo.
- Ajudou a compilar o censo nacional
“Em janeiro de 1882, na esperança de compreender melhor as causas do mal social e encontrar maneiras de combatê-lo, Tolstói ajudou a compilar o censo nacional”, escreve Zorin. O grande escritor trabalhou no distrito de Khitrovka, a área mais infame de Moscou, onde se uniam bêbados, criminosos e prostitutas.
Tolstói se imiscuía aos habitantes locais e lhes dava dinheiro - que era imediatamente gasto no jogo ou em bebidas. A principal conclusão de Tolstói com a experiência foi que os mendigos aceitavam apenas pequenas doações com gratidão, considerando uma generosidade excessiva como tentativa de reformá-los e "impor-lhes, mais uma vez, as regras do mundo que eles rejeitaram".
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