Por que Napoleão invadiu a Rússia?

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A invasão de Napoleão à Rússia foi sua maior e mais mortífera campanha, mas acabou com seu Exército e também como seu reinado. Aqui estão quatro razões pelas quais o governante francês decidiu lutar contra o Império Russo.

O imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) desejava obter controle total da Europa continental – o que significava não apenas domínio político sobre os Estados europeus, o que Napoleão alcançou com suas campanhas militares vitoriosas, mas também controlar os mares e principais portos comerciais da região.

1/ Napoleão queria “esmagar” a Rússia

Em 1807, o imperador Aleksandr 1º da Rússia e Napoleão assinaram o Tratado de Tilsit, que pôs fim à Guerra da Quarta Coalizão (Rússia, Prússia, Saxônia, Suécia e Grã-Bretanha contra França) com a vitória do lado francês.

Reunião de Napoleão com Aleksandr 1º no rio Neman. Trato de Tilsit, de Adolphe Roehn

De acordo com o segundo Tratado de Tilsit, assinado entre a França e a Prússia, o rei prussiano cedia quase metade de seus territórios pré-guerra a Napoleão. Nestes, Napoleão criou o Reino da Vestefália, o Ducado de Varsóvia e a Cidade Livre de Danzigue; os demais territórios foram concedidos aos estados clientes franceses existentes e à Rússia.

O Tratado de Tilsit entre a Rússia e a França os transformou em dois grandes impérios aliados contra a Grã-Bretanha e a Suécia. Isso criou uma situação complexa que, em pouco tempo, em 1809, resultou na Guerra da Quinta Coalizão – uma coalizão do Império Austríaco e do Reino Unido contra a França de Napoleão e seus estados aliados. A Prússia e a Rússia não participaram da guerra, mas era evidente que a Rússia seria o próximo país na lista de Napoleão.

Medalhão francês do período pós-Tilsit; imperadores francês e russo são retratados juntos

Em 1811, imperador francês disse a Dominique Dufour de Pradt, embaixador francês em Varsóvia: “Em cinco anos, serei o mestre do mundo, só a Rússia permanece; mas eu a esmagarei... Também serei o mestre dos mares, e todo o comércio deve, é claro, passar para minhas mãos”. De todo modo, a ‘amizade’ entre os dois imperadores era, no mínimo, instável. “Ele é realmente um bizantino”, disse Napoleão sobre Aleksandr, que se portava de forma elusiva e não gostava de ser franco.

2/ Rússia não aderiu ao Bloqueio Continental do Reino Unido

De acordo com o Tratado de Tilsit, a Rússia deveria aderir ao Bloqueio Continental contra o comércio marítimo britânico: por meio deste, a Inglaterra deveria ser proibida de exportar mercadorias para a Europa continental.

Imperador Napoleão Bonaparte 1º (1769-1821), de Jacques-Louis David

Mas o que eles mais exportavam na época? Ferro e têxteis – necessidades básicas de qualquer Exército que precise de armas e uniformes. Assim, com o bloqueio, Napoleão também queria privar os exércitos dos países europeus, incluindo o da Rússia, de suprimentos. Além disso, devido à iniciativa, a exportação de grãos da Rússia diminuiu quatro vezes, segundo o historiador russo Lubomir Beskrovni.

Bloqueio contra Bloqueio, 1807

O bloqueio era o oposto do que a Rússia, como potência política, desejava e precisava – assim como os outros estados europeus. As ordens diretas de Napoleão à sua Marinha para capturar e restringir os navios comerciais de diferentes países que quebravam o bloqueio muitas vezes não surtiam efeito. Em 1810, a Rússia não só continuou o comércio com a Grã-Bretanha, como também aumentou os impostos sobre os produtos franceses. Isso foi uma ofensa explícita.

3/ Napoleão foi insultado por duas recusas de casamento de princesas russas

Napoleão não tinha sangue real e queria ao menos se casar com algum membro da realeza. Por duas vezes, o imperador francês fez propostas de casamento com princesas russas. Ao fazer isso, ele também esperava obter controle sobre a política russa por influência privada.

Em 1808, logo após o Tratado de Tilsit, o então ministro das Relações Exteriores da França Charles-Maurice de Talleyrand transmitiu pessoalmente a proposta de Napoleão a Aleksandr 1º para casar-se com a grã-duquesa Ekaterina Pavlovna (1788-1819), irmã de Aleksandr. A proposta foi recusada pelo imperador russo – no característico seu estilo de não dizer nada específico.

Ekaterina Pavlovna, de Johann Friedrich August Tischbein

Em 1810, Napoleão fez uma nova proposta, desta vez a Anna Pavlovna, de 14 anos (1795-1865), mais tarde rainha da Holanda e também irmã de Aleksandr. Depois que a nova proposta foi rejeitada, Napoleão se casou rapidamente com Marie Louise (1791-1847), filha do imperador austríaco Francisco 1º (1768-1835). Esta foi uma jogada óbvia: Napoleão precisava da aliança com a Áustria se quisesse guerra contra a Rússia – e o casamento intensificou a relação entre os países, já muito prejudicados. 

Grã-duquesa Anna Pavlovna, 1813

4/ Rússia aliou-se à Suécia, que deixou a coalizão de Napoleão

Naquela época, Napoleão estava montando um exército europeu internacional. Apenas um Estado se recusou a apoiar o Grande Exército: a Suécia, liderada pelo ex-marechal do Império Francês Jean-Baptiste Bernadotte (1763-1844), que havia se transformado em rei como Carlos XIV João da Suécia graças a suas sábias intrigas políticas. Com o desejo de ser um soberano independente, Bernadotte (então Carlos XIV João) não se encaixava no sistema de Napoleão e eles se tornaram inimigos.

Jean Baptiste Bernadotte, marechal da França, rei da Suécia e da Noruega, de Francois Joseph Kinson

Em janeiro de 1812, Napoleão ocupou a Pomerânia sueca. Em março daquele mesmo ano, Bernadotte decidiu se aliar à Rússia. Aleksandr havia prometido ajudar Bernadotte a se tornar também o rei da Noruega (o que mais tarde aconteceu, de fato).

A aliança com a Suécia foi decisiva para a Rússia. Pouco depois, em 28 de maio de 1812, a Rússia assinou o Tratado de Bucareste com o Império Otomano, encerrando uma guerra de seis anos. Os otomanos também se comprometeram a se retirar da aliança com a França. O tratado, assinado pelo comandante russo Mikhail Kutuzov, foi ratificado por Aleksandr 1º trezes dias antes da invasão de Napoleão à Rússia.

Exército napoleônico cruzando o rio Neman

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