Woodstock soviético: o rock na União Soviética em 1989 (FOTOS)

História
EKATERINA SINELSCHIKOVA
Depois de anos de cortina de ferro, país comunista teve, de uma vez, Bon Jovi, Ozzy Osbourne, Scorpions, Mötley Crüe, Cinderella e Skid Row no palco de festival realizado no Estádio Lênin. Para as bandas, aquilo era como se apresentar na lua

O que poderia ser mais americano que Bon Jovi? E o que é mais britânico que Ozzy Osbourne? O “príncipe das Ttrevas”, perdido nas ruas da capital russa ficou chocado com os soviéticos esperando, em longas filas, para comprar repolho. Ele foi a Moscou "para se desintoxicar" do álcool e entrou em tal estado de embriaguez que tentou até mesmo matar a mulher.

Quando tudo isto aconteceu, a URSS ainda não tinha seu famigerado primeiro McDonald's ainda e os jeans ainda eram considerados "contrabando".

O ano era 1989. A Perestroika andava a pleno vapor. O sistema comunista estava minado por reformas cada vez mais incisivas, e logo entraria em colapso. Juntamente com o Bon Jovi e Ozzy Osbourne, o Scorpions, o Mötley Crüe, o Cinderella e o Skid Row chegavam a Moscou.

Nos dias 12 e 13 de agosto daquele ano, no estádio Lujnikí (que ainda se chamava então "Lênin"), as bandas fizeram o primeiro festival internacional de rock da história da URSS.

O "Moscow Music Peace Festival", como foi oficialmente chamado, foi quase imediatamente rebatizado de "Woodstock russo". Um ano antes, um evento do tipo seria completamente inimaginável.

A preparação do evento começou depois que Mikhaíl Gorbatchov, que chegou ao poder em 1985, declarou, da tribuna de uma reunião do Partido Comunista: "É permitido tudo o que não é proibido por lei".

O organizador do festival, Stas Namin, decidiu colocar as palavras do líder à prova.

"Do ponto de vista legal, era uma confusão... Ninguém era preciso fazer para obter as permissões. A cada passo, eu repetia descaradamente a frase do Gorbatchov", contou Namin.

Na verdade, antes do início do festival, ninguém acreditava que ele aconteceria realmente. “Estávamos esperando a qualquer momento que a ‘gente séria’ da KGB nos dissesse: ‘Ok, agora basta!’”.

Esses grupos de rock chegaram à União Soviética mais ou menos como se devessem fazer um show na Lua. Três semanas antes do evento, 64 vans entraram no país com o equipamento técnico e tudo de que se poderia precisar. “Levamos cubos de gelo da Suécia! Tinha comida para o período inteiro, colheres, garfos, copos... Pensamos que não conseguiríamos encontrar nada na Rússia”, contou o manager e produtor Doc McGhee em um documentário de Iúri Dud.

Na verdade, ninguém sabia o que esperar naquela época. Jon Bon Jovi, por exemplo, acreditava ter visto "bandidos" vendendo esteróides em todos os cruzamentos da Rússia. As autoridades soviéticas, por sua vez, não sabiam o que esperar dos fãs de rock e de Ozzy Osbourne. Mais de 150 mil pessoas se reuniram no estádio para os dois dias de shows.

Resumindo, além dos seguranças, foram enviados ao Estádio Lênin também militares e policiais para manter a ordem. "Tinha tantas pessoas de uniforme que parecia um desfile do exército", lembrou o vocalista do Mötley Crüe.

Oficialmente, o festival foi realizado sob um slogan completamente novo para a União Soviética: "Contra o alcoolismo e o vício em drogas". Ele se tratava realmente de um evento de caridade para ajudar os viciados em drogas. O produtor Doc McGhee fez todos os esforços para que os músicos não ingerissem álcool e drogas até o final da viagem à URSS.

Mas a ideia, claro, não era viável e estava fadada ao fracasso. Sebastian Bach, o vocalista do Skid Row, disse: “A gente não podia acreditar como a vodca era barata! Custava só alguns dólares por garrafa. Por isso, a gente nem comia, só bebia”.

Até mesmo a segurança não sabia como se comportar, e um grande número de pessoas conseguiu se infiltrar nos bastidores e comer o suprimento de alimentos dos grupos. Naquela época, a ideia de fugir da URSS ainda era popular, e o músico da banda russa Naiv quase voou para os Estados Unidos em uma caixa de equipamentos por sugestão de um engenheiro do Mötley Crüe.

Este primeiro festival internacional de rock em um país comunista foi assistido por quase um bilhão de pessoas em 59 países. Ele foi o primeiro evento da MTV transmitido ao vivo via satélite.

“Mas as pessoas realmente nos chocaram. Elas estavam prontas para as mudanças”, contou Doc McGhee.

Ninguém foi preso, para a surpresa geral. Depois da visita à União Soviética, os Scorpions gravaram sua famosa música “Wind of Change”.

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