Leoníd Brêjnev, que liderou a União Soviética por 18 anos, é lembrado não apenas como político, mas também como alvo de piadas.
A época de Brêjnev foi a era de ouro do humor político soviético. Foi o tempo de políticos beijoqueiros, vaidades absurdas e velhotes no Politburo. Tudo isso se refletia nas piadas sussurradas pela União Soviética.
Partido onipresente
Mesmo que os cidadãos soviéticos pudessem ter problemas com as autoridades por contar piadas políticas, durante a Era da Estagnação, como ficou conhecido o período de governo de Brêjnev, muitas pessoas ridicularizavam o onipresente Partido Comunista e seu líder, frequentemente mencionado em piadas como "nosso querido Leoníd Ilítch". Por exemplo:
“Um homem liga a TV. No primeiro canal, o querido Leoníd Ilítch faz um discurso. O homem troca para o segundo canal: Brêjnev de novo. Canal três: também Brêjnev. Ele muda para o quarto canal e vê um coronel da KGB que balança os punhos e avisa: ‘É melhor você parar de mudar de canal!’”
Além de piadas sobre Brêjnev, havia outras sobre a punição que aguardava quem contava essas piadas:
"- Leonid Ilítch, qual é o seu hobby?
- Eu coleciono piadas sobre mim mesmo.
- Quantas você juntou?
- O equivalente a dois campos de trabalho e meio."
O papel de Brêjnev na história
As piadas, por vezes, comparavam Brêjnev a líderes soviéticos anteriores. Ele foi equiparado a Lênin, que fundou o Estado soviético e se esforçou para criar uma sociedade socialista, ao brutal ditador Stálin e a Khruschov, que é normalmente lembrado por sua tendência a fazer declarações peculiares.
Em piadas com essa temática, Brêjnev ganhou, em geral, o papel nada invejável de um líder que permitiu que o país saísse dos trilhos:
“Lênin provou que até as cozinheiras mulheres podiam administrar o país.
Stálin provou que até uma pessoas só podia administrar o país.
Khruschov provou que até um tolo podia administrar um país.
Brêjnev provou que um país não precisa ser administrado.”
Ou:
“Com Lênin, era como estar em um túnel: você está cercado pela escuridão, mas há luz à frente.
Com Stálin, era como estar em um ônibus: uma pessoa está dirigindo, metade das pessoas no ônibus estão sentadas [o verbo “sentar-se” significa também cumprir pena na prisão] e a outra metade está tremendo de medo.
Com Khruschov, era como num circo: uma pessoa falava e todo mundo ria.
Com Brêjnev, era como no cinema: todo mundo só esperava o filme terminar.”
'Málaia Zemliá'
Muito antes de se tornar secretário-geral do Partido Comunista (o cargo de liderança do país), Leoníd Brêjnev lutou na Grande Guerra Patriótica (a participação russa na Segunda Guerra Mundial). O momento decisivo de sua carreira militar foi participar da defesa da ponte de Málaia Zemliá (Terra Pequena), próximo a Novorossísk (1.300 quilômetros a sul de Moscou).
Na história da Segunda Guerra Mundial, a batalha por Málaia Zemliá não foi considerada particularmente importante estrategicamente, mas, no primeiro volume da autobiografia de Brêjnev, publicado em 1978, depois de ele estar no poder por 12 anos, ela foi retratada como uma das batalhas mais importantes da guerra.
De acordo com o crítico literário Konstantín Miltchin, o propósito desta interpretação era "explicar que foi principalmente Brêjnev (que, na época, era coronel) quem ganhou a Grande Guerra Patriótica".
Essa tentativa de aumentar a importância de Brêjnev na guerra não foi bem recebida. O livro não obteve sucesso e os cidadãos soviéticos zombavam dos exageros no papel de Brêjnev na guerra. Surgiram então inúmeras piadas, uma das quais se segue:
Dois veteranos iniciam uma discussão. Um diz ao outro: "Enquanto eu estava em Málaia Zemliá, decidindo o destino da guerra, você provavelmente estava apenas de braços cruzados em Stalingrado".
Mais de um milhão de soldados soviéticos morreram na Batalha de Stalingrado ao defender a cidade da invasão nazista, entre julho de 1942 e fevereiro de 1943. Esta, sim, foi uma das batalhas mais importantes da Segunda Guerra Mundial e é considerada um ponto de crucial da guerra.
Outra piada com a temática era a seguinte:
“Na véspera da invasão dos soviéticos a Berlim, em maio de 1945, Stálin disse ao marechal Júkov: “Bom plano, camarada Júkov. Mas antes de aprová-lo, preciso consultar o coronel Brêjnev”.
Beijos apaixonados
Uma das marcas mais características de Brêjnev era sua tendência a beijar outros líderes mundiais. Ele geralmente começava com um beijo em cada bochecha e depois roubava um beijo final dos lábios de seus homólogos.
O exemplo mais conhecido dessa sua mania foi um beijo que ele deu no líder da Alemanha Oriental, Erich Honecker. O beijo foi imortalizado em grafite por Dmítri Vrúbel no que restou do Muro de Berlim, e continua a ser uma das imagens mais emblemáticas da era Brêjnev.
Além de Honecker, Brêjnev beijou o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, o líder da Organização pela Libertação da Palestina, Yasser Arafat, o líder iugoslavo Josip Broz Tito e a então premiê indiana, Indira Gandhi.
Alguns líderes, como a ex-premiê britânica Margaret Thatcher, conseguiram evitar ser beijados por Brêjnev. Às vezes, isso exigia criatividade. Dizem que o revolucionário cubano Fidel Castro acendeu um charuto para evitar que Brêjnev o beijasse. O líder romeno Nicolae Ceausescu disse não ter gostado de beijar Brêjnev porque não gostava de bactérias. Isso gerou outra piada ainda:
“Brêjnev não gostou do líder romeno Ceausescu. ‘Ele já é adulto e ainda não aprendeu a beijar’, pensava Leonid Ilítch.
Governo de velhos
Nos últimos anos do governo de Brêjnev, a maioria dos altos funcionários do governo era extremamente experiente, para colocar de um modo educado. A idade média de um membro do Politburo era de 70 anos, o que deu origem a novas piadas:
“- O que tem quatro pernas e quarenta dentes?
- O jacaré.
- E quarenta pernas e quatro dentes?
- O Politburo de Brêjnev.”
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