“Desculpe, não sabíamos que era invisível”: quando um míssil russo velho abateu um F-117 dos EUA

Domínio público
Em 1999, um moderno avião furtivo F-117 (o modelo mais avançado da Força Aérea dos Estados Unidos no final da década de 1990) foi abatido sobre a Sérvia com um míssil e sistemas de radar soviético considerados obsoletos. E como isso aconteceu?

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) entrou em confronto com a Sérvia em 1999 para dar suporte ao grupo rebelde albanês do Kosovo, o Exército de Libertação de Kosovo, que procurava libertar Belgrado desta região.

Um dos aviões que realizava operações sobre a região era o F-117, um modelo que havia ganhado a reputação de invisibilidade depois dos ataques-aéreos bem sucedidos durante a guerra do Golfo Pérsico em 1991.

Sistema de defesa aérea S-125 Nevá, da 250ª brigada de mísseis do Exército sérvio

A história dessa máquina poderosa esteve imaculada até a noite de 27 de março, quando o F-117A Vega 31 pilotado pelo tenente-coronel Darrel P. Zelko voltava para a base de Aviano (Itália), após realizar uma missão de bombardeio perto da atual capital da Sérvia. Sua aeronave foi atingida e derrubada próxima à aldeia de Budanovci por um míssil S-125 Nevá M, uma antiaéreo que havia entrado combate no Vietnã nos anos 1960. O projétil veterano foi disparado depois de a aeronave americana ter sido identificada por um radar soviético P-18 com quase trinta anos. A ordem partiu de Zoltan Dani, comandante da 3ª bateria da 250ª brigada de mísseis.

Mas como?

Segundo as Forças Aliadas, os sérvios conseguiram detectar a aeronave operando suas unidades de radar em frequências incomumente baixas, o que tornou o alvo visível.

F-117 ‘Falcão Noturno’ na base aérea de Aviano (Itália), em 24 de março de 1999

Os sérvios, por sua vez, afirmaram que os operadores de defesa aérea de Belgrado perceberam que podiam detectar aeronaves invisíveis usando radares soviéticos ligeiramente modificados. Com o uso de longitude de onda longa, esses radares eram capazes de detectar aviões invisíveis, em uma faixa de distância relativamente pequena, quando a aeronave abria as portas do compartimento para lançar as bombas.

Além disso, os sérvios monitoraram as comunicações de rádio VHF e UHF das forças aliadas (quase sem criptografia) e também foram capazes de interceptar o sistema ATO (Air Tasking Order), que permitiu localizar baterias de defesa em posições perto dos alvos que a Otan iria bombardear.

Radar soviético P-18

Outro fato que, sem dúvida, ajudou o avião norte-americano a morder a iscar foi que os EA-6B Prowler, que costumavam apoiá-los, interferindo nos radares iugoslavos, não puderam decolar naquela noite de sua base na Itália, devido ao mau tempo. Zoltan afirmou que recebeu esta informação graças a espiões sérvios que registravam os movimentos de aviões da Aliança em seus aeródromos. Era a noite ideal para caçar.

Fator humano

Dani era um comandante bastante motivado que, como explica o The National Interest, estudou minuciosamente as primeiras táticas ocidentais de supressão de defesa aérea. Ao contrário da contraste posição estática adotada pelas falidas defesas antiaéreas iraquianas e sírias no Oriente Médio, ele permitia que suas equipes ativassem seu radar por não mais de vinte segundos, após o qual recebiam ordem para recuar, embora não tivessem aberto fogo.

Zoltan Dani, comandante da terceira bateria da 250ª brigada de mísseis do Exército da Sérvia, em 1999

O S-125M não é normalmente considerado um sistema SAM “móvel”, mas Zoltan fez com que sua motivada equipe de artilheira fosse capaz de implantar as armas em apenas 90 minutos (tempo padrão exigido era de 150 minutos), um procedimento facilitado por redução pela metade o número de lançadores em suas baterias. Enquanto suas baterias se moviam de um lugar para outro, Dani também criou postos SAM fictícias e radares falsos, tirados de antigos caças MiG para desviar com eles os mísseis antirradiação da Otan.

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Graças a essas iscas e movimento constante, a unidade de Zoltan não perdeu uma única bateria de SAM, embora aviões da Otan tenham chegado a disparar 23 mísseis HARM contra eles. Zoltan Dani era a pessoa ideal para tirar o melhor do F-117.

O que aconteceu com o piloto e o avião?

Darrel P. Zelko sobreviveu, ejetando-se em um paraquedas. Na sequência, foi resgatado pela Força Aérea dos EUA; os restos da aeronave, que deveriam ter sido bombardeados para impedir a sua recuperação pelos sérvios, não puderam ser destruídos devido à rápida aparição dos meios de comunicação no local do impacto.

Os sérvios forneceram aos técnicos russos o material coletado e levaram partes do avião furtivo para a Rússia, comprometendo, assim, 25 anos de pesquisa relacionada a tecnologia stealth nos Estados Unidos. Várias partes do avião, como a cabine, permanecem no Museu da Aviação de Belgrado, perto do aeroporto Nikola Tesla. 

Restos do F-117 no Museu da Aviação de Belgrado

E que fim deu Zoltan Dani?

A unidade de Dani informou pouco depois, em 2 de maio, o abate do segundo avião destruído pelas forças iugoslavas durante o conflito: um F-16 americano.

Depois de se aposentar da vida militar, Zoltan Dani trabalha como padeiro em sua cidade natal, Skorenovac.

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