Quando Tu-95 soviéticos espionaram navios da Marinha britânica nas Malvinas

Domínio público
Durante a Guerra das Malvinas, o destacamento de bombardeiros Tu-95 do Exército soviético, implantado em Angola desde 1977, se encarregou de seguir a frota britânica, estudar sua composição e formação, tirar fotos e reunir inteligência eletrônica.

Os Tupolev Tu-95 (denominados “Urso” pela Otan), empregados pelo 392º Regimento Aéreo Independente de Reconhecimento de Longo Alcance do Exército soviético no aeroporto de Luanda (Angola), contavam com excelentes radares e equipamentos eletrônicos. Além disso, suas tripulações tinham experiência em interagir com navios e submarinos – algo considerado “normal”, já que uma de suas missões era buscar alvos para os mísseis antinavio de longo alcance que eles carregavam.

A partir de sua base em Angola, os Tu-95s monitoraram o tráfego comercial que, passando pelo Cabo da Boa Esperança, se dirigia ao hemisfério Norte. No entanto, a eclosão da guerra das Malvinas tornou esse destacamento especialmente ativo.

Tu-95 soviético, 1984

Vigiados por ursos

Alguns marinheiros britânicos ainda se lembram da imagem dos imponentes Tu-95 voando alto sobre seus navios enquanto se aproximavam da zona de combate nas Malvinas. Mas de onde saíam aqueles aviões russos? Desde 1977, esses veteranos da aviação (o primeiro voo deste bombardeiro ocorreu em 1952) operavam a partir da ex-colônia portuguesa de Angola. A espionagem não chegava apenas da órbita terrestre.

De acordo com “Fidel, futebol e Malvinas”, livro do apresentador e analista político Serguêi Brilev baseado em informações obtidas em entrevistas com militares da União Soviética, o apoio soviético à Argentina não se limitou a fornecer dados coletados pelos satélite Kosmos-1365, 1368 e 1372. Brilev afirma em seu livro que os soviéticos utilizaram também aeronaves Tu-95 para seguir a força-tarefa enviada por Margaret Thatcher ao Atlântico Sul, na área entre a baía de Biscaia e o Equador.

Espionando Hermes

Às vezes, os gigantescos aviões soviéticos sobrevoavam os navios da Marinha Real a uma altura de apenas 30 a 40 metros. O coronel soviético Gueôrgui Bulbenkov confirmou ao site Sovsekretno.ru sua participação nesses voos rasantes. Bulbenkov descreveu, por exemplo, como, além de fotografias aéreas, o porta-aviões britânico HMS Hermes também foi espionado por monitoramento rádio-técnico, no qual se escutava, registrava, decodificava e analisava “tudo o que navios irradiavam no ar”.

Porta-aviões britânico HMS Hermes

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Os navios britânicos também foram espionados em seu retorno ao Reino Unido. “Fomos informados de que o porta-aviões HMS Hermes havia sido atingido por mísseis argentinos e que poderia ter que entrar no dique seco conserto por um longo período”, disse Bulbenkov. Os britânicos não reconheceram o dano causado por argentinos, embora o navio tenha passado por reparos durante quatro meses, até novembro de 1982.

Interceptado

Durante o voo de observação sobre o porta-aviões britânico HMS Hermes mencionado por Bulbenkov, o avião espião russo acabou sendo interceptado por um Phantom FRG.2 do Esquadrão 29 da RAF (do inglês, Força Aérea Real), que decolou do aeroporto de Wideawake, na ilha de Ascensão.

Porta-aviões HMS Hermes e navio de transporte Tidespring clicados a partir do Tu-95 de Bulbenkov

Quando o conflito terminou, os “ursos” voltaram às suas tarefas habituais e, anos depois, deixar de voar de Angola.

Uma dúvida, porém, permanece: os dados obtidos pelos Tu-95 foram transmitidas a esquadrões de ataque argentinos? Caso sim, ajudou? Agora resta esperar até que todos os arquivos – quase 40 anos depois, ainda secretos – sejam desclassificados.

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