3 sequestros de aviões russos e soviéticos simplesmente fora de série!

História
EKATERINA SINELSCHIKOVA
Dá para tirar um cochilo enquanto você sequestra um avião? Aliás, filhos de políticos de alto escalão podem sequestrar aviões? Se você achava que já tinha visto tudo nesta vida, então confira estas histórias verdadeiras. Diretamente da Rússia, claro!

Até mesmo no pior filme de sequestro de avião, o bandido não teria feito o que Pavel Chapoválov, de 41 anos, fez na última terça-feira (22). Ele exigiu que uma aeronave fazendo o trajeto entre a cidade de Surgut, na Sibéria, e Moscou, fosse desviado para o Afeganistão. Depois disso, olhou um tempão pela janela... e dormiu!

O sequestro do voo 1515 da Aeroflot fez muito barulho. É verdade que tudo parece muito estranho. Natural de Surgut, Chapoválov inicialmente não tinha nada de diferente dos outros passageiros a bordo: era um homem sentado em silêncio no assento durante os primeiros 30 minutos após a decolagem.

Mas, aí, ele se levantou e disse à tripulação que estava armado e que era preciso redirecionar o avião para o Afeganistão. Ele não parecia estar sob a influência de álcool ou drogas, e por isso acreditaram nele.

Mas ele acreditou quando lhe disseram que para ir ao Afeganistão era preciso reabastecer na cidade mais próxima, Khanta-Mansisk.

Durante todo o tempo, nenhum dos outros passageiros suspeitava que havia um sequestro acontecendo ali – eles só descobriram quando as forças de segurança invadiram a cabine. Mas Chapoválov já dormia. Aliás, não encontraram com ele nenhuma arma ou explosivo.

Durante o interrogatório, ele não pôde explicar por que tentou sequestrar o avião e levá-lo ao Afeganistão. "Para ser sincero, eu não tinha nenhum motivo para ir para lá", disse ele. "As coisas não são tão simples como pode parecer de uma primeira vez”, completou, enigmaticamente.

Ninguém entendeu ainda exatamente o que isso significa. De qualquer maneira, quando um sequestro é tão intrincado como os que se seguem, então realmente se tem uma história dramática:

Crianças riquinhas

Era o ano de 1982, quando arrebentou um escândalo na URSS: estudantes de artes e atores entre 20 e 25 anos de idade tinham sequestrado um avião e iniciado uma verdadeira carnificina lá dentro.

O escândalo foi agravado pelo fato de que os terroristas eram filhos das famílias mais influentes da Geórgia, então uma república soviética. Entre eles, estavam, por exemplo, Soso Tseretéli, filho do renomado cientista Konstantín Tseretéli, e Tamara Patiachvili, filha do secretário do Comitê Central da Geórgia.

A “Juventude de Ouro”, resolveu fugir da União Soviética simulando uma viagem de casamento. Inicialmente, Soso e Tamara se casaram, convidando toda a elite política da Geórgia e funcionários do aeroporto para o casamento.

Depois do casório, imaginava-se que eles viajariam de Tbilisi para Leningrado (hoje, São Petersburgo). Eles levaram consigo alguns amigos, que sabiam do plano. Usando sua posição privilegiada, os jovens embarcaram no avião através do chamado “Salão dos Deputados”, ou seja, sem verificações de segurança, e levando em suas malas armamentos. Somente Tamara tinha em sua mala três granadas antitanque.

O avião, que tinha 57 passageiros e sete tripulantes a bordo, decolou. Um dos membros do grupo começou a achar que um oficial de segurança estava entre os passageiros e o atacou imediatamente, quebrando uma garrafa de champanhe na cabeça dele.

A partir deste momento, iniciou-se o sequestro. Dois outros dominaram uma aeromoça e, usando-a como escudo, invadiram a cabine do piloto.

Eles exigiam que o avião fosse para a Turquia e obtiveram a resposta padrão: “é preciso parar para reabastecer”. Como resposta a isto, o mecânico de voo foi alvo de diversas balas no peito. Naquele momento, o operador de voo abriu fogo contra os sequestradores, expulsou o piloto da cabine e se trancou lá dentro.

Uma aeromoça foi morta a tiros quando o avião pousou e, ao ver que estavam de volta ao aeroporto de Tbilisi, um dos sequestradores deu um tiro na própria cabeça. Os outros usavam drogas e ameaçavam matar um passageiro a cada hora que se passasse até que abrissem um corredor aéreo para o exterior para eles.

Os pais dos sequestradores se recusaram a participar das negociações com seus filhos. O grupo terminou a cena com um ataque armado que durou quatro minutos.

Depois do ocorrido, seguiu-se um julgamento. Todos, exceto Tamara, foram condenados à morte por fuzilamento. A moça foi condenada a 14 anos de prisão.

Quando perguntaram a Tamara por que era necessário sequestrar um avião, já que os filhos de oficiais podiam facilmente viajar à Turquia como turista, ela disse: “Se tivéssemos fugido para o exterior dessa maneira, teríamos sido recebidos como imigrantes comuns. De que valiam nossos sobrenomes, a influência e odinheiro dos nossos pais ali, no exterior?”

Eles também relembraram durante o julgamento de outra história de sequestro, ocorrida 12 anos antes, quando pai e filho da família Brazinskas sequestraram um avião e mataram um comissário de bordo tentando fugir da URSS.

“Eles foram enviados da Turquia aos EUA e receberam asilo como prisioneiros de consciência. Por que seríamos piores que eles?”, perguntaram os sequestradores.

Sequestro de estudantes

Outro incidente ocorreu em 1973, quando quatro estudantes moscovitas da Faculdade Técnica de Automóveis decidiram sequestrar um avião, de olho no dinheiro do resgate. O mais velho deles tinha 20 anos, o mais jovem, 16.

O avião decolou de Moscou para Briansk, mas, 10 minutos antes de aterrissar, os quatro jovens se levantaram, tiraram do compartimento de bagagem dois rifles de caça, uma espingarda e facas, e invadiram a cabine do piloto.

O ataque terminou com o mecânico de voo baleado no estômago. As exigências dos sequestradores foram transmitidas para a sala de controle no solo juntamente com um sinal de socorro.

Os sequestradores queriam um resgate de US$ 1,5 milhão (que depois saltou para US$ 5 milhões) para libertar os reféns.

O avião retornou a Moscou, mas as condições atmosféricas impediram o pouso. Mas, o combustível estava acabando, então o avião foi guiado pelo controlador de tráfego em visibilidade quase zero.

Uma força-tarefa já se encontrava no Aeroporto de Vnúkovo, e realizou a primeira tomada da história de um avião sequestrado por terroristas.

O grupo de comando subiu até o chassi sem ser notado. Algumas horas depois, os terroristas foram informados de que o dinheiro estava pronto. A mala (que na verdade só tinha notas falsas) seria transportada por um funcionário da KGB, mas ele se recusou no último minuto, e por isso foi preciso usar um policial vestido de funcionário do aeroporto.

Quando o policial se aproximou, um dos terroristas abriu a porta, e começaram a atirar nele. Imediatamente, um veículo blindado apareceu e metralhou o avião, perfurando a fuselagem 90 vezes (felizmente, nenhum passageiro morreu).

Depois disto, jogaram gás lacrimogêneo na cabine, mas a lata ficou presa entre os assentos e o estofamento pegou fogo.

“Eu estava em outra dimensão. Eu tentava respirar através de uma toalha, achava que talvez ajudasse”, lembrou o capitão do voo, Ivan Káchin.

“Eu olhei pela janela, algum tipo de câmera de TV estava apontada para mim. O controlador de tráfego perguntou se estava tudo bem. ‘Não’, eu disse, ‘estão atirando aqui’. Ele olhou para trás e viu um homem coberto de sangue. Era o líder do grupo, que tinha atirado em si mesmo ao perceber que estava tudo acabado. Outro membro do grupo morreu com os ferimentos, e outro ainda se rendeu. O último dos sequestradores pensou em pular do salão do avião, a dois metros de altura do solo, mas parecia alto, então ele correu para a escada. Foi então que os passageiros o atacaram.”