Do capitão que evitou guerra nuclear aos arquitetos da São Basílio, 5 heróis russos desconhecidos

Domínio público
Seus nomes não são famosos, mas espere até ouvir o que essas pessoas realizaram.

Barma e Postnik, arquitetos da Catedral de São Basílio

Poucas pessoas lembram os nomes dos arquitetos desse símbolo da Rússia. “E então Deus lhe (Ivan, o Terrível) deu dois artesãos russos, chamados Postnik e Barma, sábios e adequados para essa maravilhosa empreitada”, diz a crônica sobre os arquitetos que supervisionaram a construção da Catedral de São Basílio, em Moscou, entre 1555 e 1561.

Segundo a lenda, depois de terminada a catedral, o imperador Ivan, o Terrível, ordenou que ambos os arquitetos fossem cegados para que jamais pudessem criar algo similar. Construída para honrar a conquista do Canato de Kazan, a catedral era o principal local de culto ortodoxo em Grão-Ducado de Moscounaquela época.

Pouco se sabe sobre Postnik e Barma. Há boatos de que eles eram, de fato, uma única pessoa. Ivan Barma é creditado como responsável pelo projeto principal da construção. Postnik Iakovlev é também o criador das muralhas e torres da fortaleza de Kazan, que se assemelham às do Kremlin de Moscou. O fato de que Postnik Iakovlev trabalhou em Kazan, pelo menos, até 1562, contradiz a lenda sobre a cegueira dos arquitetos.

Nikolai Zinin, suposto inventor da dinamite

Nikolai Zinin não queria se tornar químico. Ele se considerava um matemático, mas, em 1835, o reitor da Universidade de Kazan, onde Zinin trabalhava, o matemático Nikolai Lobatchevski, pediu a Zinin, de 23 anos, para ministrar um curso de química, e Zinin não pôde recusar. Em dois anos, o promissor cientista foi enviado para a Europa, onde estudou com os principais químicos e físicos de sua época, incluindo Michael Faraday.

As descobertas da Zinin incluem anilina e benzidina, duas substâncias usadas na produção de corantes. Mas o feito mais proeminente de Zinin foi a produção em massa de nitroglicerina, amplamente utilizada na fabricação de explosivos.

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Zinin relatou a descoberta a seu vizinho, Alfred Nobel, que, mais tarde, derramou acidentalmente nitroglicerina em um cesto cheio de sujeira, e percebeu que substâncias granulares se tornam altamente explosivas quando embebidas em nitroglicerina – e assim teria nascido a dinamite. O biógrafo de Zinin, Mikhail Levitski, escreveu que o cientista resmungou: “Este Alfred Nobel roubou o segredo da dinamite debaixo de nossos narizes!”. O químico nunca era exatamente famoso por sua polidez.

Nikolai Sirotinin, o guerreiro solitário

Em julho de 1941, o Exército Vermelho recuou rapidamente na rodovia Varsóvia-Moscou, na Bielorrússia, fugindo da 4ª Divisão Panzer sob o comando do general Heinz Guderian. Sirotinin, um operário de fábrica de 20 anos de Orel, estava em uma divisão de fuzis cujo comandante seguiu a ordem de recuar, deixando uma arma de 76 mm para segurar os tanques alemães enquanto a força principal recuava. Apenas dois homens, um comandante de batalhão e o sargento Sirotinin, continuaram manejando a arma escondida em um campo de centeio no topo da colina.

Quando a coluna de tanques se aproximou, Nikolai derrubou o primeiro e o último veículos, bloqueando a estrada. A essa altura, o comandante do batalhão ficou ferido e recuou, dizendo a Nikolay para segui-lo – mas o canhão tinha mais 58 disparos restantes. Em 2 horas e meia, Sirotinin destruiu 11 tanques e 7 veículos blindados, matando 57 alemães. Quando ficou sem munição, o sargento seguiu lutando com seu rifle até o fim.

Quando os alemães tomaram a aldeia vizinha de Sokolnitchi, os nazistas trataram o corpo de Sirotinin com respeito. Um intérprete do vilarejo informou que os oficiais alemães elogiaram a bravura de Nikolai e disseram que a guerra estaria ganha se todos no exército alemão lutassem como o sargento russo.

Mais tarde, seus restos mortais foram enterrados em uma vala comum. Nem mesmo seus parentes conseguiram encontrar seus retratos fotográficos; por isso, este desenho a lápis feito com base nas lembranças de seus colegas de serviço é a única imagem de Sirotinin. 

Gueôrgui Siniakov, o ‘Schindler soviético’

Um médico russo ajudou a salvar milhares de pessoas enquanto estava em um campo de prisioneiros de guerra alemão. Gueôrgui Siniakov, de 38 anos, foi convocado em junho de 1941 como médico militar, mas, em outubro de 1941, acabou sendo capturado pelos nazistas e enviado para Stalag III-C, que ficava a 80 km a leste de Berlim. Ali, tornou-se médico do campo depois de passar por uma espécie de “prova”: descalço no frio ao longo de 4 horas, ele operou magistralmente o abdômen de um soldado ferido.

Siniakov decidiu agir para salvar o maior número de prisioneiros que pudesse. Seu método era simples: ele tratava de pacientes feridos e infectados, mas dizia aos alemães que a medicação não havia funcionado e que o paciente morrera. À noite, os cadáveres eram retirados e despejados em uma vala. Na sequência, os pacientes “mortos” tinham a chance de escapar para o território soviético (Siniakov e seus cúmplices entregavam mapas e uma bússola aos prisioneiros fugitivos).

O médico também operava alemães. Chegou a salvar o filho do diretor do campo e foi recompensado com rações ampliadas, que dividia com outros prisioneiros. É difícil contar todos os soldados que Siniakov salvou, mas a mais proeminente foi a piloto Anna Egorova, cujo caça foi abatido pelos alemães e acabou sendo enviada para Stalag III-C. Siniakov salvou sua vida e a ajudou até que o campo foi libertado em janeiro de 1945.

O médico seguiu então com o Exército Vermelho até Berlim. Depois da guerra, ele teve uma vida tranquila em Tcheliabinsk, falecendo em 1978. 

Vassíli Arkhipov, o homem que impediu uma guerra nuclear

Ao contrário dos demais, o heroísmo desse homem esteve em não agir.

Em 27 de outubro de 1962, durante a Crise dos Mísseis de Cuba, os navios de guerra norte-americanos começaram a empurrar os submarinos soviéticos para fora das águas territoriais cubanas, lançando bombas de profundidade. O capitão Vassíli Arkhipov era um dos comandantes de um submarino que carregava armas nucleares. O lançamento desses mísseis só poderia ser feito com a permissão de Moscou, mas Arkhipov perdera todas as comunicações com o governo. Os outros oficiais comandantes do submarino decidiram revidar, em vez de atender às exigências dos americanos de deixar as águas cubanas. O capitão Savitski estava pronto para lançar um míssil nuclear, mas Arkhipov ordenou que o submarino subisse à superfície. Logo, todos os quatro navios soviéticos deixaram as águas cubanas. No dia seguinte, Nikita Khruschov e John Kennedy chegaram a um acordo que acabou com a crise. Graças a Arkhipov, uma possível guerra nuclear foi evitada. Ele retornou à União Soviética, onde levou uma vida tranquila.

Esses acontecimentos permaneceram em segredo por muitos anos. Foi somente em 2002 que Robert McNamara, secretário de Defesa dos EUA do governo Kennedy e durante a Crise Cubana, revelou os detalhes do incidente e disse, que em 27 de outubro de 1962, o mundo esteve mais próximo da guerra nuclear do que em qualquer outra época.

Arkhipov não teve a chance de compartilhar suas recordações sobre o evento quase apocalíptico, pois morreu em 1998. Leia aqui a versão detalhada de sua história.

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