As idas e vindas do jazz norte-americano na União Soviética

Mikhail Ozerskiy/Sputnik
Inicialmente bem recebido, o ritmo foi proibido no país em diversos momentos da história.

Apesar de boa parte das pessoas soviéticas adorarem jazz, os líderes do país nem sempre compartilhavam esse amor pelo ritmo americano. Geralmente aceito no início, o jazz foi logo declarado um símbolo do odiado Ocidente na União Soviética.

É difícil de acreditar, mas na década de 1920, os líderes soviéticos deram sinal verde para o ritmo popular de seu maior opositor político. O jazz americano não só foi aceito, mas recebido com entusiasmo em terras soviéticas.  

Dois homens de terno dançando ao som de saxofone e trompete em imagem da publicação

A razão era simples. Os líderes soviéticos viam o jazz como a música da minoria afro-americana oprimida. Portanto, o ritmo poderia se tornar mais um instrumento de luta política.

 Em 1927, houve uma grande turnê da banda de jazz de Leopold Teplitski pelo país, e em 11 de dezembro no Grande Salão da Filarmônica de Leningrado ocorreu um concerto com a participação da cantora negra Coretta Alfred.

A história do jazz soviético começou em 1 de outubro de 1922, quando o primeiro concerto de jazz com músicos amadores foi realizado em Moscou.

Valentin Parnach, pioneiro do jazz russo, e sua irmã. 1910

Muitos anos depois, as populares bandas de jazz americanas de Frank Witers e Sam Wooding visitaram a União Soviética, fazendo uma série de apresentações de grande sucesso.

 A banda de jazz de Sam Wooding em Berlim. Circa 1930.

No fim da década de 1920, mais e mais bandas de jazz locais surgiram em Moscou e Leningrado (hoje São Petersburgo). Esta última, tornou-se uma verdadeira Meca para os amantes de jazz de todo o país.

A primeira banda de jazz de Teplitski (com ele no centro). Leningrado, 1927.

No início, as bandas soviéticas tocavam jazz americano, mas gradualmente mais trabalhos de compositores soviéticos tornaram-se populares.

Leonid Utesov (centro) com sua banda de jazz. 1938.

No entanto, logo a visão da liderança soviética em relação ao jazz mudou. Na década de 1930, o jazz foi proclamado um exemplo de cultura burguesa e amplamente criticado.

Cartaz do filme

Músicos de jazz estrangeiros foram banidos da União Soviética. Os músicos locais foram deixados em paz, mas suas apresentações foram limitadas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o jazz recuperou algum espaço, e dezenas de bandas fizeram shows para elevar o moral das tropas soviéticas.

Tanquistas em sua primeira celebração após a vitória sobre Berlim ao som de orquestra de jazz do exército.

Após a guerra, o jazz soviético sofreu o período mais duro de sua história. Com o estabelecimento da Guerra Fria, a música se transformou em vilã. “Hoje ele toca jazz, amanhã ele trairá seu país” era um slogan muito divulgado pela propaganda política daqueles dias.

Leningrad Dixieland. 1967

Somente na década de 1960 o jazz começou a recuperar espaço novamente. Novas bandas foram formadas, livros e filmes sobre jazz foram publicados. Em 1964, o lendário clube de jazz O Pássaro Azul foi inaugurado em Moscou.

Cafeteria The Blue Bird. 1964.

Músicos estrangeiros receberam permissão para tocar no país novamente. A União Soviética foi visitada pelo famoso saxofonista Gerry Mulligan e por lendas como Thad Jones e Mel Lewis.

Alonzo Stewart, baterista da New Orleans Jazz Orchestra, em show no Moscow Variety Theater. 1979.

Tendo seu status recuperado na União Soviética, o jazz sofreu um novo abalo em 1991. Quando todo o país entrou em crise, o jazz também entrou. Muitos artistas deixaram a Rússia, bandas foram desfeitas. A crise terminou somente nos anos 2000.

O maestro de jazz russo Ígor Butman tocando em Moscou em 1992.

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