Acidente nuclear de Tchernóbil completa 33 anos nesta sexta

Grafite sobre estrutura abandonada em Pripyat

Grafite sobre estrutura abandonada em Pripyat

Getty Images
Seis questões sobre o acidente que ainda gera muitas dúvidas.

Em 26 de abril de 1986, a explosão em um reator da Usina nuclear de Tchernóbil, perto da cidade de Pripyat (no atual território da Ucrânia), gerou uma enorme quantidade de radiação, contaminando o ar e o solo em várias regiões da Ucrânia, Rússia e Bielorrússia por décadas. Confira abaixo as perguntas mais comuns sobre o acidente – e como a área se transformou em um reduto para turistas curiosos.

Afinal, o que causou a explosão?

As razões exatas do pior desastre nuclear na história da humanidade ainda são debatidas. Sabe-se que um aumento súbito de energia no reator 4 da usina nuclear de Tchernóbil causou o superaquecimento do núcleo do reator e, consequentemente, uma explosão que liberou mais radiação do que a bomba lançada sobre Hiroshima.

Mas por que a temperatura subiu de repente? Segundo a primeira versão, apresentada em 1986, um relatório oficial do INSAG (Grupo Internacional de Assessoria em Segurança Nuclear) culpa os operadores da usina por terem “infringindo as normas”.

No entanto, o relatório INSAG-7, de 1992, “mudou a ênfase para as contribuições de características particulares da planta, incluindo a concepção das barras de controle e dos sistemas de segurança”, descreveram os autores. Os pesquisadores afirmaram que a estrutura da usina nuclear de Tchernóbil apresentava defeitos desde o início.

Reator 4 após explosão

Existem algumas outras versões – como terremoto, ataque terrorista e etc. –, porém consideradas como menos confiáveis. 

Como a URSS reagiu à catástrofe?

Por alguns dias, as autoridades da URSS tentaram minimizar a verdadeira escala do acidente nuclear – “para evitar o pânico”, justificaram autoridades ao Russia Beyond. No dia seguinte, em 27 de abril, a cidade de Pripyat, a mais próxima da Usina de Tchernóbil (132 km ao norte de Kiev), foi evacuada. No início de maio, as autoridades expandiram a área de evacuação para uma “zona de exclusão” de 30 km.

As ruínas altamente radioativas do reator foram cobertas com um “sarcófago” especial para evitar mais radiação. Mais de 600 mil pessoas de toda a União Soviética se envolvendo no combate ao incêndio, limpeza da área e construção do sarcófago. 

Moradores de outras regiões da URSS viajaram a Chernobyl para ajudar a conter tragédia

Qual é o número real de vítimas?

Três pessoas morreram devido à explosão, mas os danos foram muito mais graves. Entre os operadores da usina que estavam na estação em 26 de abril, mais 42, de acordo com fontes soviéticas, morreram de síndrome de radiação aguda na década seguinte à exposição.

Número de pessoas atingidas por desastre é desconhecido, mas pode passar de 4.000

As explosões infectaram uma área de 200 mil km com isótopos de urânio e plutônio, iodo-131, césio e estrôncio-90 – elementos radioativos e prejudiciais à saúde humana. Não se sabe o número exato de pessoas que adoeceram e morreram por causa da radiação. Em 2005, a OMS (Organização Mundial de Saúde) informou que o acidente de Tchernóbil poderia ter causado a morte de até 4.000 pessoas.

Ainda há consequências hoje?

Apesar da intensa radiação na época, os especialistas afirmam que os efeitos de uma catástrofe nuclear há 30 anos são menores hoje. O mais grave é o alto risco de câncer de tireoide em pessoas menores com menos 18 anos quando o acidente ocorreu – porque, provavelmente, estavam bebendo leite contaminado com iodo radioativo, segundo a OMS. Há relações de outras doenças com o acidente de 1986, mas a maioria ainda não foi comprovada.

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“Não há consequências sérias para as pessoas (além dos casos de câncer de tireoide), e não pode haver, já que a dose de radiação que eles enfrentaram, foi menor. Quanto ao efeito sobre o meio ambiente, é ainda menor do que nos humanos”, disse Rafael Arutiunian, especialista em segurança nuclear, à agência de notícias russa TASS.

Nível de radiação é regularmente medido em Pripyat

A realidade parece provar o contrário, no entanto. Quando, em 2016, um correspondente do Russia Beyond visitou Novozibkov (região de Briansk), a cidade mais próxima de Tchernóbil no território da Rússia, foi informado de que a incidência de câncer no local é mais de duas vezes e meia superior à média nacional.

Tem gente morando perto de Tchernóbil?

A zona de exclusão de 30 km ao redor do infame reator 4 permanece desde então. No entanto, cerca de 2.000 pessoas voltaram para suas casas desertas em Pripyat e nas aldeias próximas, preferindo viver em condições nocivas do que abandonar sua terra natal. Em 2016, um morador de 90 anos da zona de exclusão disse que “o segredo para uma vida longa é não deixar a sua terra natal mesmo quando está envenenada”. 

Ivan Chamianok, 90 anos, sentado em frente a sua casa na vila de Tulgovitchi, na Bielorrússia

É possível (e seguro) visitar a região?

Sim – e muita gente o faz. Para ver a atmosfera sombria das cidades soviéticas abandonadas, deve-se viajar à Ucrânia e reservar uma excursão (de acordo com o site oficial, a viagem de um dia mais barata custa R$ 89).

Turistas observam centro cultural Energetika, na cidade-fantasma de Pripyat

“O nível de perigo na zona não é alto, mas algumas medidas de precaução ainda são aconselhadas, principalmente em relação a roupas”, escreveu o correspondente da Russia Beyond, Anton Papitch, em visita a Tchernóbil, dois anos atrás. Segundo suas impressões (e de outros jornalistas), trata-se, de fato, de uma “verdadeira cidade- fantasma” – onde o tempo parou 22 anos atrás, depois que a famosa explosão mudou o destino dos moradores locais para sempre.

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