Ao longo do período da Guerra Fria, eram constantes os confrontos entre submarinos soviéticos e norte-americanos. Os submarinos estratégicos da URSS eram perseguidos por submarinos de ataque dos Estados Unidos, e vice-versa.
Segundo Ígor Kurdin, ex-capitão de submarinos portadores de mísseis balísticos, como K-241, K -84 e K-40, a principal tarefa de um submarino nuclear era navegar mais rápido que os veículos que o perseguiam: “Um golpe estratégico vital não poderia ser realizado se houvesse um submarino inimigo no seu rastro”.
Vencer esse jogo de gato e rato era complicado pelo fato de que cada submarino tinha uma “zona morta” – área atrás do navio que o sonar não podia “ouvir” devido ao ruído de seus próprios mecanismos e propulsores. Os submarinos de ataque dos EUA se escondiam nessa zona e seguiam os soviéticos sem quaisquer vestígios.
“Havia, entretanto, uma manobra tática especial para detectar esses submarinos, chamada ‘verificar ausência de rastreamento’”, explicou Kurdin ao Russia Beyond. Com o tempo, os americanos inventaram outro nome para a ação: “Ivan Louco”.
Nesse movimento, os submarinos soviéticos executavam manobras de 90 e até 180 graus para detectar objetos na “zona morta”.
Prazer, “Ivan Louco”
Essa expressão surgiu pela primeira vez depois de um incidente com o submarino nuclear soviético K-108 e o norte-americano USS Tautog (SSN-639), em setembro de 1970, no mar de Okhotsk, não muito longe da península de Kamtchatka.
O Tautog estava seguindo o veículo soviético a menor distância possível sem ser detectado pelos russos. De repente, o K-108 começou uma série de voltas acentuadas e desapareceu da tela de rastreamento do SSN-639.
Os norte-americanos não conseguiram detectar sua localização, até que o convés do Tautog colidiu contra a barriga do submarino soviético. Embora não tenha gerado acidentes ou danos severos, ambos os submarinos voltaram a seus portos de origem.
A Marinha dos EUA ficou em estado de choque e, inicialmente, não sabia como reagir a à perigosa e imprevisível manobra. Após o incidente, os marinheiros do país receberam ordens de manter uma distância maior dos submarinos soviéticos.
A única maneira de contrapor “Ivan Louco” era desligar totalmente os motores e operar em modo silencioso para não ser ouvido. No entanto, o submarino funcionava por inércia, de modo que o choque em 1970 não foi um caso isolado.
Perigo próprio
Houve, entretanto, um episódio quando a manobra resultou no naufrágio de um submarino soviético. Mas cabe lembrar: sem o envolvimento dos Estados Unidos.
Em setembro de 1986, o submarino K-219 seguia viagem rumo ao Atlântico. Um pequeno vazamento no sexto silo foi ignorado, mas logo se transformou em um grande problema, e os marinheiros se viram obrigados a bombear a água duas vezes por dia. Foi então que “Ivan” serviu de catalisador para o acidente que se seguiu.
A manobra complicada levou à despressurização total do silo, que se encheu de água. A explosão de uma ogiva convencional ejetou um míssil nuclear R-27 para o oceano.
A tripulação trouxe o submarino para a superfície, causando, porém, a morte de um dos envolvidos no incidente – todos os demais membros foram salvos por navios civis russos. No caminho de volta, o K-219 acabou afundando quase 6 quilômetros de profundidade no mar dos Sargaços, onde permanece até hoje.
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