Iossif Stalin (esq.) em 1937. Líder soviético representava empecilho para alemães vencerem a guerra.
WikipediaNo verão de 1944, a subdivisão de operações especiais Luftwaffe KG 200 – que não apenas era especializada em voos de longa distância e envio de espiões e sabotadores, mas também em aviões capturados dos Aliados – recebeu uma ligação de Ernst Kaltenbrunner, chefe do RSHA (Escritório Central de Segurança do Reich).
Kaltenbrunner queria que os agentes alemães enviassem com sucesso paraquedistas a uma distância de 100 quilômetros de Moscou, uma distância significativamente longe das linhas alemãs.
Na noite de 4 para 5 de setembro de 1944, o avião de cargo Arado Ar 232B decolou de um dos aeródromos no território hoje pertencente à Letônia e se dirigiu, nas trevas, rumo ao alvo determinado, localizado entre a cidade de Smolensk e a capital da União Soviética.
A parte traseira do avião levava dois passageiros soviéticos: o ex-oficial do Exército Vermelho Tavrin e sua mulher, Lídia. Eles se casaram imediatamente antes da missão, que os conduziu ao coração da Rússia.
Aeronave utilizada no plano para assassinar Stálin foi um Arado Ar-232B.
WikipediaPiotr Ivanovitch Tavrin, cujo verdadeiro sobrenome era Chilo, chegou ao exército soviético usando documentos falsificados e, com medo de que descobrissem a farsa, desertou em maio de 1942.
Ele foi aliciado quando estava em um campo de concentração para prisioneiros de guerra e foi enviado a Berlim, onde lhe apresentaram Heinz Gräfe, um dos ideólogos da Operação Zeppelin.
O ambicioso plano tencionava o assassinato de Iossif Stálin, pessoa responsável por impedir a vitória do Terceiro Reich na guerra.
O colaborador soviético passou por uma preparação em Pskov e, mais tarde, em Riga, sob a chefia do legendário perito em operações especiais, Otto Skorzeny.
Otto Skorzeny, que treinou o assassino de Stalin. / Deutsches Bundesarchiv
WikipediaAlvo: Kremlin
De acordo com o livro “KG 200: The True Story”, de Peter Wilhelm Stahl, Tavrin e Lídia Chilova, que respondia pelas comunicações de rádio da Alemanha, deveriam pular de paraquedas no território da URSS e, então, dirigir-se a Moscou, onde deveriam organizar as comunicações com a oposição soviética.
Junto a outros dois conspiradores, Tavrin deveria entrar no Kremlin durante uma recepção usando documentos falsos. Assim que ele chegasse perto de Stalin, ele deveria matá-lo com um projétil envenenado.
A morte do “vójd”, ou seja, o “líder” seria o sinal de que as tropas alemãs estariam nos arredores de Moscou e logo tomariam o Kremlin, que estaria totalmente cercado.
Existia também um plano “B” para o assassinato de Stalin com a destruição de seu veículo quando seu cortejo estivesse se dirigindo ao Kremlin. Nesse caso, o tiro deveria ser realizado com a ajuda de um pequeno projétil reativo criado especialmente com esse objetivo.
Ernst Kaltenbrunner (olhando para a câmera) junto ao líder da SS Heinrich Himmler.
Deutsches Bundesarchiv/WikipediaTavrin e sua mulher teriam a sua disposição uma motocicleta e as armas necessárias para a realização do plano “B”. Apesar de a missão ser praticamente suicida, garantiram ao casal que havia um abrigo secreto preparado em Moscou e todo o necessário para que eles pudessem se esconder e fugir assim que houvesse possibilidade.
Corrente de infortúnios
Pouco depois, a chefia alemã cancelou a ideia dos paraquedistas e resolveu aterrissar o avião a 100 quilômetros da capital, enviando, entretanto, um grupo de paraquedistas ao local onde o avião alemão deveria chegar. Esses deveriam avisar Berlim que tudo estava pronto para a chegada dos agentes. E assim foi feito.
Apesar disso, nem a inteligência alemã, nem Tavrin e sua mulher sabiam que o grupo de paraquedistas tinha sido capturado pelas tropas soviéticas, e o sinal deste foi enviado a Berlim sob controle da URSS.
Ao mesmo tempo, a aeronave Arado 232B foi atingida por uma arma antiaérea enquanto estava em espaço aéreo soviético.
Stalin junto a um veículo soviético da marca Zil.
WikipediaPor isso, o piloto decidiu aterrissar em outro local, próximo a Karmanovo, ao norte de Smolensk. Mas, durante a aterrissagem, a asa do avião colidiu com uma árvore, derrubando um motor e a aeronave pegou fogo.
Rumo a Moscou
A tripulação do avião, ao realizar a difícil aterrissagem, foi a pé em direção das tropas alemãs. Nas mãos dos pilotos, havia mapas do terreno e provisões, mas eles não falavam russo e vestiam uniformes alemães. Quase todos eles foram feitos prisioneiros.
O falso major Tavrin e sua mulher pegaram a motocicleta que estava no bagageiro da aeronave e rumaram a Moscou com 428 mil rublos, carimbos de borracha e formulários de documentos em branco que, teoricamente, os levariam para dentro do Kremlin e ao assassinato de Stalin.
Prisão
Tavrin (dir.), junto a um de seus coordenadores alemães, seria o responsável por assassinar Stálin.
WikipediaTavrin e Chilova saíram à noite. Parecia que tudo estava bem, até que um posto de controle os parou. Ambos falavam russo e seus uniformes e medalhas testemunhavam que eles eram militares de alta patente. Além disso, todos os documentos pareciam legítimos.
Mas um pequeno detalhe os entregou: um guarda notou que tanto a moto quanto os viajantes estavam completamente secos, apesar da forte chuva que havia caído.
Dentro do avião, o casal sequer pensou em se molhar. O guarda deu sinal de alerta e os agente alemães foram presos.
Contraespionagem soviética
O jovem capitão Grigóri Fedoróvitch Grigorenko, que trabalhava na terceira seção do Escritório Central de Contraespionagem “Smersh” (abreviatura para “smert shpiônam”, ou seja, “morte aos espiões”), recebeu a ordem de usar os agentes presos contra a Alemanha.
Stalin seria assassinado com projétil envenenado; na imagem, o líder soviético é retratado por Isaak Brodski.
WikipediaTavrin concordou em cooperar, na esperança de salvar sua vida, e enviou uma mensagem de rádio a Berlim na qual comunicou sobre sua bem-sucedida chegada a Moscou.
Os alemães caíram na cilada, e assim começou a Operação Tuman (do russo, “nevoeiro”). O plano consistia em encontrar espiões alemães na capital sob o pretexto de que eles deviam entrar em contato com Tavrin e ajudá-lo a levar a cabo o assassinato de Stalin. A Operação Tuman foi conduzida até o final da guerra.
Tavrin, que deixou de ser necessário aos militares soviéticos, foi condenado à morte e executado em 28 de março de 1952. Sua mulher, Lídia Chilova, teve o mesmpo fim em 2 de abril.
Stalin teve uma morte natural em 5 de março de 1953.
Fontes:
“Hitler's Intelligence Chief: Walter Schellenberg”, de Reinhard Doerries; “The Brandenburger Commandos: Germany's Elite Warrior Spies in World War II”, de Franz Kurowski; “The Third Reich's Intelligence Services”, de Katrin Paehler; “Operaciones secretas de la Segunda Guerra Mundial”, de Jesús Hernández Martínez.
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