Grigulevitch foi editor-chefe da publicação "Ciências Sociais na URSS" em 1978
Prihodko/RIA NovostiA sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em 1951 foi acalorada. Com a Guerra Fria ganhando impulso, as tensões estavam transbordando. Teodoro B. Castro, um assessor da delegação costarriquense, fez um discurso criticando as ameaças soviéticas de intrometer-se em assuntos internos na América Central.
O discurso de Castro foi tão eloquente e rancoroso que os delegados pró-Ocidente o ovacionaram de pé, e Andrêi Vichinski, então ministro dos Negócios Estrangeiros da URSS, referiu-se a ele como “cão de guarda do imperialismo”. Porém, Vichinski mal sabia que Castro era, de fato, um camarada soviético operando sob disfarce.
Marechal Josip Broz Tito com Grigulevitch (dir.), então sob disfarce de "Teodoro B. Castro"
Wikipedia.orgSeu verdadeiro nome era Iossif Grigulevitch, nascido na cidade de Vilno (na atual Lituânia) em 1913. Mas o que o levou à ONU como representante da Costa Rica?
Jovem vermelhinho
Grigulevitch nasceu em uma família paupérrima de caraitas (pequeno grupo étnico que se opunha à tradição rabínica) na Polônia e cresceu como um comunista devoto. Afiliou-se ao Partido Comunista polonês quando ainda tinha 17 anos e foi detido e encarcerado antes de fugir do país no início dos anos 1930.
Como ativista de esquerda, Grigulevitch passou por diversos lugares: depois de estudar na Sorbonne, na França, mudou-se para a Argentina. Em 1936, a guerra civil eclodiu na Espanha, onde os esquerdistas republicanos se opuseram aos militantes de direita de Franco – e Grigulevitch prontamente se juntou a seus camaradas no campo de batalha. Foi ali onde os soviéticos o recrutaram para trabalhar como agente secreto.
Caça a Trótski e nazistas
Como a filha de Grigulevitch, Nadejda, confirmou em uma entrevista, após a Espanha, seu pai seguiu para o México, onde planejou o assassinato do arqui-inimigo de Stálin, Leon Trótski. Havia dois grupos independentes de agentes trabalhando no plano, e Grigulevitch fez parte do menos bem-sucedido deles.
A tentativa de assassinato em maio de 1940 fracassou – os agentes metralharam o quarto de Trótski, mas o político de 60 anos se escondera debaixo da cama, saindo ileso. Dois meses depois, sob o comando de Ramón Mercader, a missão foi cumprida.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, porém, Grigulevitch concentrou-se em aniquilar os apoiadores de Hitler na América Latina, principalmente na Argentina.
Embora não fosse oficialmente aliada da Alemanha, a Argentina enviava suprimentos para a Alemanha – e Grigulevitch estava incumbido de cessar esse movimento. Para tanto, organizou um grande grupo, com cerca de 200 pessoas, para sabotar os navios.
O grupo chegou a saquear quase 150 embarcações rumo à Alemanha. Após uma série de explosões relacionadas aos furtos, o governo argentino suspendeu as remessas.
Poliglota boa praça
Após retornar a Moscou, Grigulevitch foi também membro da Academia de Ciências da URSS
Leonid Palladin/RIA NovostiDe acordo com o historiador russo Vladímir Tchikov, “Grigulevitch tinha facilidade em falar e pensar em 10 línguas distintas”, fosse lituano e polonês, ou línguas latinas, como francês, espanhol e português.
Também era fácil misturar-se entre os cidadãos latino-americanos pois ele parecia um deles. “Além disso, Grigulevitch sempre foi amigável e fácil de confiar”, diz Tchikov.
Talvez, esse tenha sido o motivo de sua carreira de liderança na Costa Rica. O espião fez amizade com o ex-presidente do país, José Figueres (que, obviamente, o via como um compatriota). Depois de ajudar os costarriquenhos a estabelecer diversos negócios na Itália, Grigulevitch (então conhecido como Teodoro B. Castro) foi nomeado embaixador no país europeu, e posteriormente no Vaticano e na Iugoslávia, em 1952.
Gozando da plena confiança dos capitalistas de todo o mundo (até mesmo o embaixador soviético na Itália chamava Castro de “inimigo da União Soviética” e “reacionário”), o agente forneceu a Moscou informações inestimáveis. Cerca de 200 cidadãos estrangeiros foram recrutados por ele.
Fim precoce
Para a infelicidade da inteligência soviética, o trabalho de Castro na Itália não durou muito – em 1956, foi obrigado a retornar a Moscou juntamente com sua família.
Após a morte de Stálin, em 1953, e a luta de poder que se seguiu, muitos dos agentes soviéticos passaram a ser vistos como “não confiáveis” pelas novas autoridades, e a incomparável carreira de Grigulevitch também chegou ao fim.
O ex-agente começou uma nova vida e tornou-se historiador. Nesse período, escreveu cerca de 30 livros sobre a América Latina e história do cristianismo. Ninguém entre seus novos colegas sabia sobre seu passado, mas todos respeitavam seu sucesso científico. Grigulevitch levou uma vida tranquila até sua morte, em 1988, pouco antes de o país a qual servia também dar seu último suspiro.
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