Por que os soviéticos construíram prédios redondos? Veja fotos

Mikhail Kolobaiev/Mos.ru (CC BY 4.0)
Os arquitetos soviéticos fizeram experimentos com a forma dos edifícios residenciais. Primeiro, buscavam maneiras de economizar espaço urbano, mas também pretendiam demonstrar a grandeza do país.

A experimentação com a forma circular na Rússia começou ainda antes da Revolução de 1917. Na década de 1820, a primeira “casa anelada” residencial foi construída na cidade de São Petersburgo. Os apartamentos deste edifício eram todos alugados.

Amplamente conhecida em Moscou é a casa particular de vanguarda do arquiteto Melnikov, construída em forma de cilindro no final da década de 1920.

As formas circulares se tornaram um dispositivo favorito do estilo construtivista – e foram usadas ativamente em edifícios diversos, de sanatórios a casas de ópera. No final da década de 1920, o Clube dos Metalistas foi construído na cidade de Taganrog, no sul da Rússia, com seu contorno que mais lembrava a cabeça de uma chave inglesa.

Em 1932, um edifício de três andares em forma de C, ou ferradura, também surgiu em Taganrog. É considerado o primeiro prédio residencial redondo da URSS, e seus primeiros inquilinos foram os trabalhadores da fábrica ‘Krasni Kotelschik’ (Caldeiraria Vermelha).

O arquiteto não é conhecido ao certo. Nos tempos soviéticos, acreditava-se que o autor do projeto era Mikhail Kondratiev, que construiu o complexo residencial em ziguezague ‘Vida Nova’ em Rostov-no-Don. No entanto, mais tarde, os historiadores locais começaram a se inclinar para a versão de que Ivan Taranov-Belozerov, responsável por projetar várias estações de metrô de Moscou, também teria participado do projeto.

A ‘Casa Redonda Taganrog’ ou ‘Edifício de Apartamentos dos Trabalhadores da Fábrica Krasni Kotelschik’, como era oficialmente chamado, tinha 36 apartamentos. No início, havia casas de banho compartilhadas por várias famílias, mas agora cada um tem a sua própria. Curiosamente, a casa “prestigiosa” não tinha toalete – ficava separado. A rede de esgoto e o abastecimento de água foram instalados apenas 30 anos depois, na década de 1960.

O edifício tem um pátio fechado, para onde dão as portas de todos os apartamentos. No segundo e terceiro andares existem varandas comuns que circundam o prédio todo. No 80º aniversário do prédio redondo, em outubro de 2012, foram feitas grandes reformas.

A forma redonda simbolizava unidade e comunalismo – a moradia ideal para um homem soviético, com tudo à vista e varandas e pátios compartilhados. Os materiais utilizados foram os mais simples possíveis, mas o prédio foi erguido com solidez.

Assim que o edifício incomum apareceu, muitas lendas nasceram. Reza uma delas que o edifício em forma de C era apenas o primeiro e havia planos para construir mais três prédios, que juntos formariam a abreviatura ‘СССР’ (‘URSS’). Também dizia-se que pedras da vizinha Igreja do Arcanjo Miguel, destruída pelos bolcheviques, foram usadas na fundação do prédio.

No início da década de 1930, um Prédio de Ferradura residencial em estilo construtivista apareceu na cidade de Ivanovo. A casa foi construída para oficiais de segurança do estado (e famílias da KGB). Foi mais um experimento - acreditava-se que a forma semicircular tornava o espaço de vida mais compacto, economizava espaço urbano e permitia que mais pessoas vivessem em uma área limitada.

Mas os experimentos nunca deram impulso à construção em massa de tais edifícios redondos. Como resultado, nas décadas de 1950 e 1960, o problema agudo de habitação foi resolvido com construções mais simples – os chamados khruschovka, grandes blocos de concreto retangulares com uma infinidade de apartamentos.

Os experimentos com formas arredondadas foram retomados só mais tarde. Após a decisão de realizar as Olimpíadas de 1980 em Moscou, as autoridades queriam surpreender os visitantes com a infraestrutura peculiar e construir novamente edifícios redondos. Mais precisamente – cinco prédios que se assemelhassem aos anéis olímpicos quando vistos de cima. Os dois primeiros edifícios em anel, projetados pelo arquiteto Evguêni Stamo e pelo engenheiro Aleksandr Markelov, apareceram nas ruas Nezhinskaya e Dovzhenko na década de 1970. Eram prédios enormes, com mais de 900 apartamentos.

Percebeu-se então que era extremamente caro e difícil construir tais edifícios fora do padrão. É por isso que o plano ambicioso acabou sendo interrompido nesses dois prédios.

Mais tarde, também ficou evidente que a vida em uma prédio desses tinha muitas desvantagens – era difícil entrar no pátio, pois só se podia fazê-lo através dos arcos, além de não haver estacionamento suficiente. Dentro de apartamentos que tinham janelas com vista para o pátio, geralmente era muito escuro e, por causa disso, gastava-se mais com eletricidade. Além disso, a falta de luz causava a formação de umidade e mofo. Os apartamentos também não tinham ângulos retos, dificultando a colocação de papel de parede ou de tábuas no piso, e os móveis soviéticos padrão não se encaixavam bem nas laterais incomuns dos quartos e salas. Para completar, o pátio era como um grande poço de concreto, criando um forte eco, mesmo quando se tinha uma simples conversa.

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