Os iacutos (ou sakhas, como se autodenominam) são um povo único da Rússia, que vive na maior e mais fria região do país, a Iakútia. Eles representam cerca de metade da população da república (466.000 dos 990.000 habitantes; o resto são russos, mais de 350.000, e outros povos indígenas do norte) e preservam sua identidade por séculos.
A Iakútia é uma região de salários altos, pois abriga grandes empresas de mineração de diamantes, centros de pesquisa e o primeiro parque de TI do Extremo Oriente, onde trabalham desenvolvedores de jogos e aplicativos (embora também existam pastores de renas nômades no norte da região). Neste ponto da Rússia, o hábito é dirigir carros japoneses com volante à direita, comer ramen chinês e jovens se vestirem no estilo K-pop.
Mas os iacutos também desenvolveram uma cultura contemporânea, com sua própria música, joias, estilizadas como amuletos antigos, e jogos esportivos nacionais, como cabo de guerra ou carregamento de pedra de 115 quilos. Os iacutos também permanecem pagãos.
Língua iacuta
Os iacutos são um povo turcomano, e sua língua, por um lado, é próxima do tártaro e do basquir ("um" em tártaro é "ber" e em iacuto é "biir"), mas, por outro, tem muitas construções de línguas paleossiberianas.
O iacuto também possui palavras próximas ao russo. Por exemplo, o termo "panela" seria "kostүrүүҥke" (kosturuunke), que em russo é "kastriulia".
A iacuta é, juntamente com o russo, a língua oficial da República da Iakútia. É usada para comunicação entre os locais, no trabalho e na mídia, em pé de igualdade com o russo. Ambas as línguas também são ensinadas em escolas e universidades. Mais de 450 iacutos falam sua língua materna, ou seja, cerca de 90% da população total. Mas, paralelamente, 90% dos iacutos também falam russo, e dois terços deles são fluentes em ambas as línguas, de acordo com o Censo de Toda a Rússia realizado em 2010.
Outra peculiaridade interessante da língua iacuta é que, apesar da grande distância entre os assentamentos, os sotaques dos iacutos do Norte, do Sul e do Centro não são muito diferentes. Por exemplo, o termo "então" em Iakutsk, a capital da república, soará como "meene", enquanto no norte tem-se a impressão de ouvir "mele".
A principal epopeia literária dos iacutos chama-se Olonkho e consiste em longos poemas (até 30.000 caracteres) interpretados por narradores.
Trajes folclóricos
O traje folclórico dos iacutos tem variantes de verão e inverno. No inverno, usavam casacos de camurça até os pés decorados com peles, bem como chapéus altos e fofos.
No verão, os homens usavam camisas pretas com cinto ou caftãs, enquanto as mulheres usavam longos vestidos coloridos de cetim ou seda. Chapéus de crina de cavalo protegiam do sol escaldante.
As joias femininas tradicionais são feitas de prata com diferentes designs. São enfeites para a cabeça, costas e tranças; brincos, colares, pulseiras largas e anéis.
Tanto homens como mulheres possuem um acessório inusitado: uma makhalka feita de madeira de crina de cavalo, uma espécie de bengala/vara de madeira. Pode ser de diferentes tamanhos e formas, e sua alça pode até ser decorada com prata. O propósito? Afastar os mosquitos, uma verdadeira praga no verão.
Ao contrário de outros povos, muitos iacutos ainda têm roupas nacionais, embora as usem pouco; geralmente, em seu festival principal, Ysyakh, que celebra o solstício de verão.
Fé dos iacutos
Pagãos modernos – é assim que se pode descrever a maioria dos habitantes deste grupo. Os iacutos preservaram sua fé tradicional apesar do batismo forçado no século 17, quando a Iakútia se tornou parte da Rússia. Sua religião é chamada Aar Aiyy, e está inscrita no registro de confissões da república junto com a Ortodoxia.
De acordo com essa crença, o mundo é composto por três planos: o Mundo Superior, onde vivem os ancestrais aiyy dos iacutos; o Mundo Inferior, onde vivem os espíritos malignos; e o Mundo Médio, onde vivem as pessoas. O símbolo da trindade é a Grande Árvore Gigante.
Os iacutos acreditam que os espíritos aiyy não aceitam sacrifícios sangrentos, motivo pelo qual lhes oferendam algo delicioso, assam bolinhos em sua homenagem e bebem koumiss.
O Algyschyt (da palavra "algys", que significa "cerimônia") realiza ritos de purificação de espíritos malignos, e é também chamado de lançador de boas forças.
Mas nem todos os bruxos podem se tornar xamãs: os iacutos acreditam que é necessário possuir um dom especial e o processo de conversão está associado a uma dor desumana. Na Iakútia existem poucos xamãs e raramente aparecem em público.
As crenças tradicionais são reverenciadas até mesmo pelos iacutos ortodoxos, que compõem atualmente mais de 40% da população local.
Nomes comuns
Os iacutos têm uma grande variedade de nomes. Existem os russos comuns: Evguêni, Mikhail, Natalia, Anna; mas também os tradicionais iacutos: Sardaana, Aisen, Arylhai.
Também são populares os nomes compostos de russo e iacuto, como Nikolai-Sergue, Aleksêi-Homustaan, Elizaveta-Tuyaaryma.
Os iacutos também costumam ter nomes latinos, como Rosalia ou Diana. Acontece que as pessoas possuem um nome russo ou latino em seus passaportes, mas entre si se apresentam iacutizados. Por exemplo, Diana é Dayaana, Maria é Maarya, Fyodor é Syuder.
Comida tradicional
A comida nacional dos iacutos é carne, peixe e leite. Em suma, os alimentos que podem ajudá-los a sobreviver nesse território severo. A carne mais popular é a de potro (não a carne de cavalo). Isso porque, segundo os moradores, no passado muitos potros não conseguiam sobreviver ao inverno. A carne e os subprodutos também são usados para fazer embutidos.
O peixe, tanto fresco ou congelado, é geralmente salteado ou frito. Há diversos lagos e rios na região, de modo que os peixes da família do salmão, omul e muksun são abundantes.
Bebidas à base de leite de vaca e égua também são muito populares.
O que não se encontra na culinária iacuta são frutas e legumes, pois dificilmente crescem no local. A sobremesa principal é chantilly com frutas congeladas ou geleia.
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