O Russia Beyond conversou com estrangeiros que residem permanentemente na Rússia para descobrir o que significa para eles viver no país como cidadãos. A maioria acredita que cidadania proporciona segurança, confiança e possibilidade de fazer planos de longo prazo.
‘Bem-vindo a casa’
Quando um cidadão russo chega à Rússia de uma viagem ao exterior, ele tem garantias de que será admitido.
“Todos são livres para deixar a Federação Russa. Um cidadão da Federação Russa tem o direito de retornar livremente à Federação Russa”, diz a Constituição.
Desse modo, os cidadãos russos sabem que podem voltar para casa a qualquer hora de qualquer lugar do mundo. Os estrangeiros, porém, carecem desse privilégio, ainda que tenham uma autorização de residência válida. Este aspecto é crucial para os cidadãos estrangeiros que chegam à Rússia para uma estada prolongada, porque quando se trata de burocracia e regulamentação de viagens, o diabo está sempre nos detalhes.
“Se você considera a Rússia seu lar permanente, apenas a cidadania oferece a estabilidade, garantia de que você não será expulso por um tecnicismo, [de que será] sempre admitido na fronteira. É tão fácil ser atingido por violações administrativas, pois as leis estão sempre mudando e eles não anunciam as mudanças”, diz Ken Whaley, que vive em São Petersburgo.
Esse problema se tornou mais preocupante para estrangeiros quando vários países ao redor do mundo começaram a introduzir restrições de viagens relacionadas à covid-19.
“Se houver restrições às viagens [e] você não for um cidadão, não terá direito a entrar no país, enquanto o cidadão sempre tem o direito de retornar”, diz George Selinsky, membro da comunidade Moscow Expats no Facebook.
Poucas pessoas com autorizações de residência válidas são expulsas sem motivo, mas a confiança no status legal de uma pessoa no país não tem preço, segundo os expatriados. A vida também pode se tornar mais fácil em outros aspectos para o estrangeiro com passaporte russo, em comparação àqueles com autorização de residência de longo prazo.
“Ter uma VNZH [autorização de residência] é bom, mas existem alguns pequenos inconvenientes menores e outros não tão pequenos. Como ter que fazer [o processo de registro] todos os anos é chato e incômodo, especialmente onde eu estava registrada. Há muitas coisas no gosuslugi [ site federal de serviços públicos na Rússia] que não consigo fazer – como me inscrever on-line para muitas coisas, então, tenho que esperar na fila por horas e horas e dias”, conta Christina Fam, que recentemente recebeu a cidadania russa depois de ter vivido no país por 11 anos com uma autorização de residência.
“Além disso, com uma VNZH, você só pode ter duas multas administrativas ou, aparentemente, pode ser rejeitado; já com um passaporte russo, você pode obter quantas multas quiser”, acrescenta.
Apenas para cidadãos
Alguns estrangeiros que vivem na Rússia com uma autorização de residência acham difícil buscar as oportunidades de emprego desejáveis.
“Uma coisa é quando um profissional é convidado para a Rússia por uma empresa local para trabalhar. Nesse caso, o empregador trata de toda a papelada em seu nome. Mas, como aluno do último ano de uma universidade russa, tenho que me candidatar a empregos de forma independente. Sempre omito no meu currículo informações sobre a minha cidadania, para não assustar os potenciais empregadores e só revelar os fatos na íntegra durante as entrevistas. Embora nunca tenha enfrentado discriminação direta, algumas empresas que nunca tiveram a experiência de contratar estrangeiros não têm interesse em mergulhar nos detalhes do processo desse tipo de contratação e de todos os regulamentos relativos ao assunto. Para eles, é apenas mais fácil contratar um cidadão russo”, explica Julia, cidadã do Cazaquistão que se formará em uma universidade de Moscou em 2022.
Problemas semelhantes podem surgir quando se trata de usar ou aplicar o dinheiro obtido no país. Os não cidadãos podem ter dificuldade em conseguir um empréstimo bancário, hipoteca ou mesmo abrir uma conta de investimento em um banco russo.
“Conseguir empréstimos, cartões de crédito, cartões médicos, um gosuslugi totalmente operacional em que se possa solicitar quase qualquer coisa ou marcar consultas. Direitos legais para fazer qualquer coisa aqui, sem ameaças de deportação, sem vistos, sem [renovação de registro] uma vez por ano, na verdade, sem ter que informá-los nada sobre seus ganhos ou impostos. Pode ir e vir da Bielorrússia sem drama. [É] uma maneira muito melhor de viver permanentemente aqui”, diz o expatriado de Moscou Nathan Finch, ao resumir o que a cidadania russa significa para um estrangeiro que vive na Rússia.
Além disso, ao contrário dos estrangeiros que vivem no país, os cidadãos russos se qualificam legalmente para diversos benefícios fornecidos pelo Estado, como serviços médicos por meio do sistema de saúde universal gratuito, pensão alimentícia ao nascer um filho (muitos podem ser usados como entrada em uma hipoteca), entre outros.
Os cidadãos russos têm o direito legal de abrir empresas em territórios nacionais e se registrar como empreendedores individuais ou, em algumas regiões, como empreendedores autônomos, um status legal que inclui benefícios fiscais e permite fazer negócios no país.
Candidatar-se a um cargo público e seguir uma carreira no serviço civil ou militar também são processos muito mais fáceis para os russos do que para estrangeiros, embora também haja opções disponíveis para os não cidadãos.
Um programa estatal que concede gratuitamente um hectare de terra em certas regiões do país também se aplica a cidadãos russos, assim como alguns serviços locais, como algumas empresas de compartilhamento de automóveis em Moscou e São Petersburgo, por exemplo.
Em geral, a cidadania russa abre muitas oportunidades para um estrangeiro que vive permanentemente na Rússia, mas, ainda mais importante, oferece garantias inquebráveis de que o país sempre estará de portas abertas.
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