Dezenas de pessoas se reuniram do lado de fora do aeroporto ao redor de uma jovem sorridente em um agasalho cinza, segurando um buquê de lírios. Na frente havia um palco com um coro russo cantando “Toss a Coin to Your Witcher”, uma das músicas principais da série de sucesso da Netflix “The Witcher”. Foi assim que Vitalina Batsarashkina, de 24 anos, foi saudada na última terça-feira (3) em sua cidade natal, Omsk (2.200 km de Moscou), após vencer três medalhas no tiro ao alvo - duas de ouro e uma de prata - nos Jogos de Tóquio.
Em todas as competições deste ano, ela usou um medalhão da Escola do Gato, do universo criado pelo autor polonês Andrzej Sapkowski, e no qual a série e os games se baseiam.
“Acho que [o amuleto] me ajudou a relaxar e me distrair - isso é o mais importante. Não vou mudar [a Witcher School]; adoro gatos”, disse Vitalina à agência de notícias TASS.
Seu adereço foi notado pela CD Projekt Red, desenvolvedora dos games The Witcher, que parabenizou publicamente Vitalina pela vitória no Twitter.
Caça na infância e primeiras competições
A jovem “bruxa” se apaixonou por armas e conquistas ainda criança.
Vitalina nasceu em Omsk em 1º de outubro de 1996. Seu pai é um kickboxer profissional e os dois avôs são caçadores. Desde a infância, Batsarashkina brincava de "Polícia e Ladrão" com os meninos do bairro. Ela pegou em uma arma pela primeira vez aos seis anos e quase imediatamente começou a ir caçar com o avô.
“Era a arma do meu avô - uma calibre 12. O que eu poderia fazer na época? Só tirar fotos com ela. E quando eu me sentava no barco com meu avô na caçada, ele atirava e eu tapava meus ouvidos”, lembrou Vitalina.
Seus pais tentaram estimulá-la a praticar karatê e badminton, mas Batsarashkina não gostava dos esportes e, aos 12 anos, foi matriculada em aulas de tiro ao alvo. Segundo a treinadora Natália Kudrina, ela logo provou ser uma “criança brincalhona e audaciosa”.
“Ela realmente gostava de atirar e depois pintar os buracos das balas", contou a treinadora.
Com a mesma idade, Vitalina ganhou um rifle de pressão dos pais como presente no Dia Internacional da Mulher. A garota e seus amigos começaram a atirar em alvos detrás das garagens, e depois passou a caçar patos com o avô. Pouco tempo depois, ela já o superava em número de pássaros atingidos.
Em sua primeira competição, Batsarashkina ganhou medalha de bronze.
“Minha treinadora me disse para assistir às outras garotas atirando, e então tentar eu mesma. Em seguida, ela se sentou na plateia ao lado de minha mãe e disse: ‘Agora, é hora de passar vergonha’. Natália Ivanovna corou, mas eu não perdi um só tiro... Aí a treinadora veio até mim e disse: ‘Agora vamos aprender a atirar direito’”, contou Vitalina sobre sua primeira vitória. Foi então que a jovem russa desenvolveu um verdadeiro gosto pela competição.
Primeiro amor, fascínio “The Witcher” e Olimpíadas do Rio
Em 2014, aos 18 anos, Vitalina conquistou a medalha de bronze no Campeonato Europeu Júnior no tiro esportivo de 10 metros. No mesmo ano, conheceu Ivan Ilinykh, um atleta júnior russo de Oremburgo - que deu adeus à carreira um ano depois, mas eles ainda namoram.
No ano seguinte, Vitalina conquistou o primeiro lugar na Copa do Mundo de Juniores e ficou vidrada no game ‘The Witcher’.
“Comprei um console, e um pouco depois, o jogo. Gostava muito. Soube então que havia livros e resolvi lê-los... [O protagonista] Geralt é demais. Embora existam muitos momentos do livro que te façam duvidar”, disse a atleta.
Em 2016, Vitalina participou das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Antes do torneio, ela terminou o jogo junto com uma amiga, que ficava apenas assistindo para acompanhar o enredo principal.
Na Rio-2016, Vitalina colou um adesivo em seus óculos com um símbolo da marca registrada da Escola do Lobo do ‘The Witcher’. No torneio, conquistou a medalha de prata no tiro esportivo com pistola de ar a uma distância de 10 metros na competição por equipes mistas e recebeu como presente um medalhão da Escola do Gato.
“Fiquei empolgada, embora eu não demonstrasse de forma alguma. Havia muita coisa se passando na minha cabeça, mas eu tentei afastar os pensamentos, sintonizar cada tiro... Pra ser sincera, no Rio, eu não entendi bem que tinha ganhado uma medalha. É uma sensação muito confusa! [Pensei:] Vou continuar atirando até o fim. Até me expulsarem (risos)”, contou Vitalina ao compartilhar as impressões sobre sua primeira medalha olímpica.
Ouro olímpico e planos de casamento
Em 2018, Vitalina conquistou ouro nos mundiais em provas de equipes mistas.
Nas Olimpíadas de Tóquio em 2021, ganhou duas medalhas de ouro em tiro esportivo, uma com pistola de ar 25 metros, e outra 10 metros. Na prova de equipes mistas, levou a prata na prova de carabina de ar 10 metros.
No entanto, uma falha eletrônica na final da pistola de ar 10 metros gerou certa confusão. “Todo mundo tentou, mas eu não - eu deixei. Ainda tinha 27 segundos restantes. Em teoria, poderia facilmente pegar a arma e atirar. Mas os organizadores deram o comando ‘Parar’. Claro, eu os corrigi. E eles me deram um novo intervalo de tempo de 50 segundos para fazer meu disparo. Talvez isso tenha me ajudado. Relaxei um pouco mais, tive tempo para descansar”, disse Vitalina após a prova.
Com o fim da competição, Vitalina terá agora seis meses de férias e planeja usar esse tempo para se casar com o namorado. No entanto, deve voltar a treinar o quanto antes.
“Estou pensando em Paris [as Olimpíadas de 2024 serão realizadas em Paris - Ed.]”, disse. “As pessoas brincam, tipo, talvez o bebê já esteja vindo ou algo assim. E eu digo que Paris vai acontecer em breve e não há tempo de fazer qualquer outra coisa.”
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