Como é a escolha, o transporte e a decoração da árvore do Kremlin?

Serguêi Kisselev/Agência Moskva
A instalação da árvore de Ano Novo no interior das muralhas do Kremlin é uma tradição de longa data. Mas de onde vem o pinheiro e como é preparado e decorado?

A Rússia tem, há mais de século, a tradição anual de selecionar, decorar e exibir a principal árvore de Ano Novo do país (sim, de Ano Novo! Entenda aqui: Por que a árvore de Natal na Rússia não tem nada a ver com Natal?). Hoje em dia, a suntuosa árvore é colocada no Kremlin de Moscou, mas antes ocupou locais diferentes.

A ideia de árvore do Ano Novo foi trazida pela primeira vez à Rússia por Pedro, o Grande, mas, após sua morte, a tradição foi abandonada. Desse modo, a primeira árvore pública de Ano Novo só foi exposta em 1852 – em São Petersburgo, que era a capital na época. O pinheiro foi instalado dentro do edifício da estação ferroviária Moskovski (na época chamada de Iekaterininski). Mais tarde, outras árvores começaram a aparecer em locais variados da cidade. Além disso, nobres e fábricas organizavam festas de Ano Novo para crianças.

No Kremlin, as árvores de Ano Novo são expostas desde que Pedro, o Grande, demandou a comemoração. E havia várias: em frente ao Palácio Teremnoi e na Praça das Catedrais (do russo, Sobornaia Ploschad), dentre outras. Durante seu reinado, na década de 1730, Anna Ioannovna, mandou expor as árvores de Ano Novo no Jardim de Alexandre. Na sequência, e até 1917, a árvore de Ano Novo no Kremlin ficou exposta na Praça das Catedrais, porém havia uma exigência: ela só era instalada se a família do tsar fosse celebrar o Ano Novo na cidade – o que era raro, já que a maioria dos monarcas russos costumava ir para Tsárskoie Selô, localizada a 24 quilômetros ao sul de São Petersburgo. Durante o reinado de Nikolai 2º, por exemplo, a árvore da Praça das Catedrais só foi exposta duas vezes. Ela também não foi colocada durante a Primeira Guerra Mundial, por ser considerada uma tradição do inimigo.

Desenho da Grã Duquesa Olga Aleksándrovna.

Após a Revolução de Outubro de 1917, a árvore foi “legalizada” novamente, mas apenas até 1926, quando o Ano Novo foi considerado um feriado burguês e, portanto, proibido. Em 1935, as comemorações voltaram e, três anos depois, uma árvore de 15 metros de altura foi instalada no Salão das Colunas da Casa das Uniões na rua Bolchaia Dmitrovka. Dois anos mais tarde, o local recebeu a primeira festa natalina para crianças, uma tradição perpetuada mesmo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1955, a principal árvore de Ano Novo do país foi transferida para o Grande Palácio do Kremlin, onde também começaram a ser realizadas festas infantis. Após a inauguração do Palácio Estatal do Kremlin, em 1961, tanto a árvore quanto a celebração foram transferidas novamente. A árvore sempre foi natural, geralmente cortada na silvicultura de Istra, na região de Moscou (50 km a noroeste da capital).

Celebração do Ano Novo no Kremlin, 1969.

Em 1996, a árvore retornou à Praça das Catedrais, após recomendação do então presidente russo Boris Iéltsin. Entre 2001 e 2004, no entanto, foi exposta uma árvore de Ano Novo artificial, devido aos invernos rigorosos. Quando o frio é intenso, os ramos do abeto podem quebrar facilmente. Em 2005 e 2006, uma árvore natural foi trazida de Velíki Ustiug (750 quilômetros a nordeste de Moscou), a casa do Ded Moroz (“Vovô Gelo”). Desde 2007, as árvores passaram a ser escolhidas dentre as pré-selecionadas nas florestas da região de Moscou.

Os critérios para escolha 

Há uma comissão especial que escolhe o principal abeto da Rússia para o Ano Novo. Os especialistas trabalham por várias semanas e prestam atenção adicional à aparência da árvore. Deve ser um pinheiro com formato regular de pirâmide, sem curvaturas e orifícios na copa, e a cor das agulhas deve ser brilhante. A árvore também deve ser alta e ter cerca de 100 anos. Isso porque um abeto que já viveu um século logo se tornará fraco e vulnerável; e assim pode ser derrubado sem preocupações ecológicas.

Ainda assim, a árvore precisa estar forte o bastante para manter boa aparência por semanas depois de cortada. Os especialistas verificam se o abeto não está apodrecendo, e se não tem galhos quebrados e rachaduras no tronco, que deve ter entre 60 e 70 cm de diâmetro no local do corte.

A condição do abeto é verificada com a ajuda de recursos tecnológicos. Os especialistas costumavam usar uma broca fina, mas, neste ano, começaram a utilizar um resistógrafo – uma agulha fina com corrente elétrica. Boa condutividade elétrica indica que a árvore está saudável, e seu tronco não está podre por dentro. O local do abeto também é importante; deve ficar na orla da floresta, para que seja acessível.

Normalmente, dezenas de árvores se enquadram nos critérios, e a comissão escolhe, além do melhor abeto, um ou dois extras caso algo aconteça com a árvore principal. Em 2020, o pinheiro foi cortado em 9 de dezembro. Tem 96 anos, cerca de 25 metros de altura, tronco de 60 centímetros de diâmetro e galhos de 10 metros.

O transporte

A entrega da árvore é feita pela mesma empresa há mais de 15 anos, de modo que os funcionários possuem bastante experiência. Após a poda para apresentação, o pinheiro é instalado sobre uma estrutura especial e depois encaixado em um contêiner de um caminhão, onde fica praticamente suspenso – tudo é feito para evitar que o abeto quebre e perca sua aparência ideal. Inclusive, este é o motivo pelo qual a ideia
de trazer a árvore de Ano Novo do Kremlin a partir de Velíki Ustiug foi abandonada: o trajeto na estrada demorava alguns dias e, certa vez, o pinheiro foi danificado.

O caminhoneiro dirige tradicionalmente vestido como Vovô Gelo. A árvore entra no Kremlin pelos Portões Spasskie, que geralmente estão fechados para veículos. Este é o momento mais difícil do transporte: os portões são apenas alguns centímetros mais largos que o caminhão. Após o término da entrega, o pinheiro é enfim instalado na Praça das Catedrais. Em 2020, isso aconteceu no último dia 11 de dezembro.

A decoração

A decoração da árvore de Ano Novo do Kremlin leva vários dias. São cerca de 200 bolas brilhantes azuis, vermelhas, douradas e brancas, além de guirlandas brancas, azuis e vermelhas, que representam a bandeira russa. Em 2019, havia 1.800 metros de guirlandas. A enorme estrela vermelha no topo do pinheiro também é obrigatória.

Além do mais, todos os anos são adicionadas decorações especiais, e o segredo é mantido até que a árvore seja inaugurada. No ano passado, por exemplo, a árvore de
Ano Novo foi decorada para marcar o 20º aniversário da principal festa “iolka” do Kremlin para crianças; por isso, vários enfeites foram feitos por crianças da escola de educação artística do Instituto de Arte Súrikov de Moscou. Também havia muitos outros dedicados à cultura popular, como matriochkas, samovares e galos dourados.

Desde 2007, as árvores naturais de Ano Novo são entregues anualmente da região de Moscou. Na maioria das vezes (três) vieram da floresta de Istra, mas também foram cortadas da floresta de Mojaisk (104 quilômetros a sudoeste de Moscou) e, em 2020, da floresta de Naro-Fominsk (70 quilômetros a sudoeste). A escolhida para a Praça das Catedrais este ano é a menor e uma das mais novas. As de 2017 e 2019 tinham 90 anos, e de 2013 e 2015 foram escolhidas as árvores mais velhas, de quase 120 anos.

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