Há quem diga que a melhor pizza de Moscou pode ser encontrada no último andar de um moderno shopping center perto da estação Kievskaia. O motivo? No comando do forno está Vincenzo Palermo, 28 anos, campeão mundial de pizza napolitana em 2018.
O estabelecimento fica dentro do Eataly, o centro gastronômico de Oscar Farinetti conhecido no Brasil, e inaugurado na Rússia há três anos – e que, agora, como em todo mundo – está temporariamente fechado ao público devido à pandemia. No ano passado, porém, sua pizzaria figurou na lista das 50 melhores da Europa.
Vincenzo, o que o levou a se mudar para Moscou?
A decisão foi tomada após uma bela viagem a lazer na sugestiva capital russa, que representou o trampolim da minha carreira no setor de restaurantes. Tudo aconteceu cerca de seis anos atrás: tinha tanta vontade de ganhar experiência e cultivar totalmente minha paixão pela “arte branca”. Depois de um breve período em Roma, decidi me mudar para cá, fascinado por essa bela cidade.
Como é a vida na capital russa?
Moscou é uma metrópole muito diferente da vila de onde eu venho, Gravina, na Apúlia (na província de Bari). Isso me fascinou desde o início, não apenas pela beleza arquitetônica, mas também pela eficácia de todos os serviços. Basta olhar para o setor de transportes, em particular o metrô, o orgulho da metrópole, que uso todos os dias para ir ao trabalho: não é apenas rápido e pontual, mas tem uma arquitetura majestosa.
Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou para se adaptar à realidade russa?
A adaptação à Rússia, para um italiano – especialmente para um “Made in South” [sul da Itália – nota do editor] como eu –, foi certamente difícil, especialmente em relação ao clima... E ainda é. Me habituar a um clima severo, sem calor e, sobretudo, sem meu amado sol, é o obstáculo mais difícil. Ainda luto para me acostumar: há semanas inteiras, até meses, com o céu constantemente coberto. E às vezes acontece de você ficar animado só de ver o sol nascer após longas semanas de escuridão.
Além disso, com o embargo, tive que revisar meus hábitos alimentares, abandonando alguns alimentos italianos fundamentais para mim, mas difíceis de encontrar aqui.
E como é trabalhar com clientes russos? Como eles veem a culinária italiana?
Desde o início, os russos me pareceram muito afeiçoados e atraídos pela cultura italiana como um todo: um amor que também é notado, e acima de tudo, na cozinha. Os clientes de Moscou adoram os aromas e sabores da Itália presentes na pizza napolitana que servimos em nossa pizzaria.
É claro que, nesses anos de trabalho na Rússia, houve alguns pedidos bizarros, sobretudo de clientes que não conhecem a verdadeira tradição italiana e a misturam com sabores russos. Por exemplo, os clientes costumam perguntar se há ingredientes incomuns na massa da pizza napolitana, como ovos, maionese e pimenta. Perguntas que deixam qualquer pizzaiolo italiano de cabelo em pé!
Com a pandemia, você acabou se voltando para a plataforma on-line: conte-nos sobre seus novos projetos...
Se, por um lado, a pandemia revirou nossa vida cotidiana, por outro, está oferecendo uma oportunidade interessante: refiro-me à comunicação por meio de uma nova linguagem, a das redes; uma atividade que vai além de assar uma pizza, mas que nos permite alcançar um público mais amplo, permitindo que ele experimente com as próprias mãos a criação de um produto especial, como a pizza. Nesse contexto, a internet une o mundo inteiro. É por isso que, há algumas semanas, lancei meu canal no YouTube, com o objetivo de criar conteúdo acessível a todos, compartilhando com meus seguidores receitas italianas excelentes, facilmente reproduzíveis em casa, no calor da família. Minhas receitas em vídeo são dirigidas não só ao público italiano, mas também ao russo, de quem particularmente gosto; graças às legendas presentes em todos os vídeos, todos também poderão acompanhar e apreciar as minhas receitas.
Como você enxerga o setor de restaurantes pós-pandemia?
Haverá grandes mudanças por conta de uma abordagem diferente da vida cotidiana em geral. Quais serão essas mudanças, descobriremos junto... Mas tenho certeza de que seremos capazes de enfrentar esse novo desafio e sair mais fortes do que antes.
Não há dúvida de uma coisa: o setor de bares e restaurantes é um dos mais afetados; no momento, o nível de contágio na Rússia ainda é crítico, portanto, não há diretrizes precisas sobre a chamada fase 2; comparando com alguns amigos na Itália e no resto do mundo, sou levado a pensar que as coisas seguirão o mesmo curso aqui também. Acho que os restaurantes serão infligidos pela crise por vários meses, porque, inicialmente, os clientes ficam assustados e preferem cozinhar em casa, às vezes confiando em serviços de entrega a domicílio. Meu desejo é, sem dúvida, voltar ao normal em breve... Mas acho que ainda há um longo caminho pela frente.
O que você diria a uma pessoa que sonha em se mudar para Moscou?
Aproveite todas as oportunidades que essa grande cidade pode oferecer, interpretando as diferenças como uma oportunidade de crescimento. Eu diria a essa pessoa para nunca desistir de seus sonhos e acreditar em si mesma – sempre! Certamente haverá obstáculos a serem superados, dificuldades a serem enfrentadas, especialmente no primeiro período, mas, quando entrar nos trilhos, Moscou abrirá as suas portas com milhares de oportunidades, revelando-se um trampolim para os seus sonhos.
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