Os russos e seus animais de estimação perigosos (FOTOS)

Irina Khodulina
Até o ano passado, tigres, lobos, crocodilos, cobras ou qualquer outro animal podiam ser bichos de estimação na Rússia.

Desde primeiro de janeiro de 2020, está em vigor na Rússia a Lei de Tratamento Responsável para Animais. As novas regras proíbem a posse doméstica de mais de 33 espécies, incluindo “animais que possam ser perigosos para seus donos e aqueles cujo habitat natural difere significativamente das condições em que ele seria mantido, podendo lhe causar danos à saúde ou mesmo levar à morte”.

Mas até dezembro de 2019 quase qualquer animal poderia ser transformado em bicho de estimação na Rússia e quem já tinha algum bicho diferente ou adquiriu o seu antes de janeiro de 2020 poderá manter a posse.

Conheça alguns russos e seus bichinhos realmente peculiares e saiba o que eles acham sobre os perigos e a necessidade de proibições como as da nova lei:

Iliá Goriachev e a tigresa Aurora (Saratov)

Iliá levou Aurora para casa quando ela tinha apenas três semanas, atendendo ao pedido de um amigo diretor de um zoológico que procurava alguém para cuidar daquele filhote.

“A mãe da Aurora a rejeitou, parou de alimentá-la, pois aparentemente ela era muito doente para sobreviver. Isso é normal na natureza selvagem, onde os filhotes assim são inclusive devorados por seus parentes. Eu tinha experiência com gatos, então topei. Alimentei-a com uma mamadeira, levei ao veterinário, dei remédios e tudo o que foi preciso. Ela tem uma taxa alta de açúcar no sangue e isso causou uma catarata, além de um quadro de raquitismo, o que poderia tê-la matado”, diz Iliá.

Na época, ele não tinha intenção de ficar com a filhote para sempre, mas eles acabaram se apaixonando um pelo outro. Eles vivem em perfeita harmonia há pouco mais de dois anos e desde então Iliá se mudou para uma casa maior, fora do centro da cidade, onde ele também abriga outros animais exóticos.

“Eu nunca vou abandonar Aurora, ela é minha filha. É muito triste que ela seja tão doente, mas pudemos curar quase todos os problemas e ela está crescendo muito bem. Eu adoro ver isso, me dá um orgulho genuíno de pai.”

Apesar de seus mais de 100 quilos e de seu enorme apetite (ela precisa de 7 quilos de comida por dia), Aurora é quase como um gatão doméstico comum: dorme com Iliá e sua namorada na cama, é brincalhona e reage bem a outras pessoas.

Iliá recebe muitas perguntas de pessoas que querem ter tigres de estimação, mas tenta sempre fazer com que desistam da ideia.

“Criar um animal desses é difícil, especialmente se você não tiver um mínimo de preparo. Não tem nada a ver com ter gatos ou cachorros, a Aurora nunca fica sozinha e ela está acostumada a ter supervisão. Uma vez nós precisamos viajar por uns dias e a deixamos no zoológico, mas ela rugiu e fez tanto barulho que os vizinhos não puderam dormir até que a gente voltou de viagem. Eles reclamaram bastante e o zoológico não a aceita mais como hóspede.”

Svetlana Gavrilina e a macaca-prego Aleksa (Região de Tula)

Manter em casa um pequeno e aparentemente inofensivo macaco-prego também passou a ser proibido. Svetlana, que vive com uma fêmea dessa espécie na cidade de Uzlovaia, na região de Tula, explica que faz sentido: eles são mesmo muito fortes, têm dentes afiados e um intelecto desenvolvido, podendo causar sérios danos às pessoas se não forem cuidados da maneira correta.

Svetlana comprou Aleksa em julho de 2018, do Zoológico de Saratov, quando a macaquinha selvagem já tinha mais de seis meses.

“Os primeiros meses com ela foram os mais difíceis. Mas ela foi se adaptando aos poucos às novas condições, apesar de ser muitas vezes agressiva e, claro, tentar redecorar o quarto rasgando o papel de parede, arranhando o teto, quebrando lâmpadas e muito mais. Eu estava totalmente preparada para isso”, lembra Svetlana.

Agora, Aleksa está com dois anos e tem seu próprio canal no YouTube. Graças a uma rotina rigorosa de adestramento e treinamento, seus problemas de comportamento ficaram no passado.

“Ela não fica em uma jaula, passeia livremente pelo apartamento, tem vários brinquedos, está sempre ocupada. E, muito importante, ela entende a palavra ‘não’”, conta Svetlana.

Aleksa se dá bem com outros bichos. Além dela, vivem na casa um cachorro da raça spitz alemão, um esquilo e uma outra macaca-prego de nome Chipa, que está em tratamento.

“Aleksa trouxe Chipa para a sua família, ela cuida dela. E Chipa confia em Aleksa e fica calma quando ela está por perto.”

Svetlana diz que a coisa mais importante quando se trata de cuidar de um macaco é se colocar como líder do bando.

“Ter primatas em casa não é fácil, pois eles são como pessoas, com suas personalidades e seus instintos básicos. Na natureza, eles vivem em grupos e têm um líder. Uma família de humanos para eles é como um bando e eles vão tentar o possível para serem os líderes. Por isso você não pode deixa-los assumir o controle de jeito nenhum!”

Irina Khodulina e a loba canadense Chara (Samara)

Cinco anos atrás, a especialista em cães Irina adotou a loba canadense Chara. “Ela foi uma ‘filha’ não planejada. Eu a adotei muito tarde para os padrões de uma loba – quando ela tinha dois meses, em vez de duas semanas, que seria o ideal. Mas ela é muito especial e nunca teve medo de pessoas, o que é uma característica que ou os lobos têm ou não”, diz Irina, que também conta o quanto Chara era independente desde muito filhote.

“Quando a vi pela primeira vez, ela tinha um mês de idade, mas diferentemente dos outros filhotes não tinha um comportamento infantil. Já era uma loba, mas em tamanho menor.”

De acordo com Irina, as principais diferenças entre os lobos e os cães são a hiperatividade e a curiosidade. Lobos precisam entender como as coisas funcionam.

“Os cães aceitam muitas coisas como fatos dados, pois vivem com os humanos já há centenas de anos. Para os lobos tudo é novo, até mesmo uma máquina de lavar pode ser algo absolutamente fascinante para um eles ou para um animal mestiço. Eles sentam e assistem a máquina girando por mais de dez minutos. O meu animal mais velho, que é um mestiço de lobo, começou uma tradição em casa: ele costumava uivar cada vez que o telefone tocava. Ensinou isso à Chara e agora ele já não o faz mais e ela adquiriu essa função”, conta a adestradora.

Chara sabe mais de 25 comandos e participa de programas, vídeos, ensaios fotográficos e mesmo seminários de treinamento e adestramento.

“O ponto principal que se deve saber sobre criar um lobo? Acho que é entender que você precisa estar disponível 24 horas por dia. Além disso, conhecimento, um acompanhamento profissional, paciência e amor!”, diz Irina.

Félix Bulatov e o crocodilo, as cobras e as víboras (Tiumên)

Félix sempre se interessou por animais diferentes. Desde criança ele caçava besouros, borboletas e até mesmo cobras para levar para casa.

“Meus pais nunca me proibiram de fazer isso. Às vezes até me ajudavam a encontrá-los. Desde muito cedo eu sonho em ter pelo menos um animal exótico e agora isso é realidade”, lembra.

Muitas vezes ele já dividiu a casa com baratas, aranhas e até lobos, que ele recentemente entregou a alguns amigos que ele sabia que poderiam construir um abrigo bom e grande para eles.

Agora, ele vive com uma cobra píton de cerca de 40 quilos, duas outras cobras, três víboras bem barulhentas, um crocodilo de 23 anos e 1,7 metros chamado Rocky, um casal de tartarugas, um cachorro sem pelos e alguns peixes.

Quem precisa de mais atenção é o cachorro. Com os répteis ele gasta apenas cerca de 10 horas por mês em cuidados.

Todos os bichos foram trazidos de criadouros e, apesar de alguns serem bastante perigosos, ele considera cada um como um indivíduo com suas próprias características.

“O perigo vem do instinto de preservação natural deles. Você só precisa ter isso em mente e estar ciente das consequências. Eu tenho todos os meus bichos sob controle”, diz esse proprietário de um mini zoológico.

“Minha família me apoia, assim como meus pais o fizeram quando eu era criança. É muito bom que o meu amor por animais exóticos possa conviver em harmonia e sem interferir no meu trabalho e na minha vida pessoal”, diz Félix.

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