Os habitantes de grandes cidades costumam reclamar do tempo gasto no percurso entre casa e trabalho. Em uma megalópole como Moscou, assim como em São Paulo, os passageiros podem perder até quatro horas por dia. Ônibus, metrô e depois outro trecho a pé... Mas, talvez, as pessoas parassem de reclamar se vissem a dificuldade de moradores de certas regiões extremas da Rússia para chegar ao emprego.
Na velocidade do vento
Este vídeo foi filmado em novembro de 2018. Um operário a caminho da fábrica é arrastado pela força do vento e tenta se ancorar no chão, fincando uma chave de fenda no gelo, para evitar ser arrastado. Isso ocorreu em Sabetta, uma aldeia fechada do distrito autônomo de Iamalo-Nenets, onde vivem apenas trabalhadores que cumprem turnos de vários meses, envolvidos no campo da extração de gás.
Certamente, não se pode chegar lá como turista (o visto não é suficiente em muitas áreas de acesso restrito na Rússia), e até passagens aéreas são comercializadas apenas para aqueles em listas especiais. Em Sabetta também está em vigor a chamada “sukhoi zakon”, ou proibição absoluta de venda e consumo de álcool, e quem chega à região é minuciosamente revistado na busca de quaisquer garrafas escondidas. Os trabalhadores não devem se aproximar dos animais de forma alguma: o perigo de ataques de ursos é constante, e as raposas-do-ártico podem transmitir raiva. As morsas também aparecem frequentemente à porta...
O mais interessante nesse vilarejo não são as temperaturas extremas, que no inverno caem a 50ºC negativos, mas o vento forte e imprevisível que sopra do Oceano Ártico; não é à toa que há grades por toda parte para se segurar. E, de qualquer maneira, quando o assunto é ventania, este não é o pior lugar na Rússia: dê só uma olhada na situação da cidade de Pevèk, no extremo norte do Distrito Autônomo de Tchukotka.
Na pá do trator
Você acha que o inverno é a pior época do ano nas regiões polares da Rússia? Errou feio! Cada estação tem suas particularidades e sabe como dificultar a vida das pessoas. Este vídeo foi rodado em agosto de 2012 na República de Komi. Os novos trabalhadores que chegavam por alguns meses (geralmente, nessas regiões trabalha-se no sistema “vakhta”: alguns meses de trabalho em condições extremas, e alguns meses de descanso em casa) tinham que atravessar o rio Niarma-Iakha, após uma inundação varrer a ponte temporária. A solução? Dois grandes tratores, um de cada lado. De cinco em cinco pessoas (com suas bagagens), os trabalhadores sobem na pá do primeiro, e então, lá no meio das águas correntes, eles se transferem para o segundo. Isso acontece quando as pontes ficam muito distantes e, devido ao mau tempo, os cruzamentos temporários são fechados ou completamente ignorados.
Flutuando no carro
Muitos habitantes da cidade de Labitnangi, no distrito autônomo de Iamalo-Nenets, trabalham em Salekhard, que fica bem em frente, do outro lado do rio Ob. Não há pontes, mas a locomoção é fácil no inverno: dirigir no gelo.
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No verão, é preciso fazer fila no cais, mas há balsas regulares. O problema está em meados do ano, quando o gelo derrete ou ainda não está bem formado. Nesses casos, o deslocamento se torna extremo: são necessários veículos anfíbios especiais, que muitas vezes também têm problemas. No entanto, isso não inibe os corajosos habitantes do norte russo.
De teleférico-tirolesa
O meio de transporte utilizado para chegar ao trabalho pelos habitantes da aldeia de Kazachi Luga, na região de Irkutsk, virou uma espécie de atração turística. Todos os anos, quando o rio sobe, a aldeia fica ilhada. Enquanto a água não estiver muito alta, as pessoas atravessam o rio, mas depois fica impossível, e então um teleférico improvisado entra em serviço. Os aposentados e cidadãos mais velhos também utilizam esse recurso e garantem: não é assustador, apenas não olhe para baixo.
4X4 e veículos rastreados
É apenas nos livros e filmes que uma estrada através de florestas e campos parece algo romântico. Em meados do ano, todas essas “rodovias” se transformam em pântanos intransponíveis, onde há grande risco de se ficar atolado.
E se, como as pessoas nesses vídeos, você tem que chegar ao coração da taiga para trabalhar, é melhor ser paciente e contar veículos confiáveis – talvez, com lagartas.
De avião (mas é preciso empurrá-lo para dar partida)
Imagine que você está em algum lugar no meio da Sibéria, em um lugar isolado onde só se pode chegar de avião. Lá fora faz simplesmente -50ºC. Sua aeronave tem problemas para iniciar. Esses trabalhadores que queriam voltar depressa de Igarki para Krasnoiarsk encontraram a solução: empurrar o avião como se fosse um carro atolado. Alguns chegaram supor que este vídeo fosse fake. Mas não! O avião estava realmente congelado. Não há confirmação de que o esforço de setenta passageiros ajudou a resolver o problema, mas a iniciativa deveria ser recompensada.
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