Disfarçado de funcionário, homem rouba ‘facilmente’ obra em exposição na Galeria Tretyakov

Estilo de vida
OLEG EGOROV
Dois homens participaram de crime envolvendo “Ai-Petri. Crimeia”, pintura de Arkhip Kuindji que retrata a icônica montanha da península.

A mostra dedicada ao artista Arkhip Kuindji na Galeria Estatal Tretyakov, em Moscou, terminou em cena de crime neste domingo (27), quando um visitante roubou uma das obras expostas, “Ai-Petri. Crimeia”, e deixou o local sem ser notado pelo resto do público e pelos funcionários do museu.

O incidente só foi percebido pelas câmeras de vídeo após algum tempo, e o alarme, prontamente acionado. A polícia bloqueou as saídas e revistou todos os visitantes, porém sem sucesso.

Na manhã desta segunda (28), veio a notícia de que o ladrão, que fugira da cena do crime em uma Mercedes branca, havia sido detido em uma vila na região de Moscou. O homem negou ter roubado a obra e disse não se lembrar de suas atividades no dia anterior.

A polícia, porém, informou que a obra tinha sido escondida pelo suspeito em um canteiro de obras e já havia sido localizada, sem quaisquer danos.

Como ele roubou a obra tão facilmente?

A Galeria Tretyakov, em Moscou, é um dos maiores e mais bem guardados museus de arte da Rússia. No entanto, os ladrões cometeram o crime com aparente facilidade.

Um homem “vestido como um funcionário de museu”, como relatou o canal “Museum snob” do Telegram, simplesmente tirou o quadro da parede, posicionou-se atrás de uma coluna para removê-la da moldura e saiu do museu. De acordo com a polícia, o homem contava com um cúmplice que já estava à sua espera no carro.

Testemunhas oculares relataram que tinham certeza de que o ladrão se tratava de um funcionário do museu, e por isso ninguém reagiu.

A agência de notícias TASS mencionou que a polícia chegou à Tretyakov quase que acidentalmente, pois alguém havia chamado os agentes pelo roubo de um casaco de pele do guarda-volumes.

O que há de especial na pintura? E quem é Kuindji?

O artista de origem grega Arkhip Kuindji (1842-1910) é um dos principais pintores de paisagem russos, especialmente famoso por seu trabalho com luzes.

“Criar a ilusão de luz era como Deus para ele, e nenhum outro artista poderia ser comparado a Kuindji em termos de alcance desse efeito”, descreveu Iliá Repin.

Kuindji teve uma vida dura, porém frutífera: tentou se matricular na Academia Imperial de Artes por três vezes, depois se juntou a um grupo de artistas plásticos do realismo socialista conhecidos como Peredvíjniki (Itinerantes).

Foi elogiado e criticado por seu trabalho um tanto extravagante com luzes, e entre 1881 e 1901 fez uma longa pausa de 20 anos, não apresentando um único trabalho novo.

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“Ai-Petri. Crimeia” é uma de suas obras pintadas nas décadas de 1890 e 1900. Representa uma das mais pitorescas montanhas da Crimeia, pintada em diferentes tons de azul.

Embora longe de ser o mais famoso ou caro entre os trabalhos de Kuindji, é muito valioso: está assegurado em 12 milhões de rublos (US$ 181.000).

E de agora em diante?

A obra “Ai-Petri” será usada como prova na corte, segundo os relatórios policiais; enquanto isso, a exposição prosseguirá: a Galeria Tretyakov afirmou, em nota à imprensa, que as medidas de segurança foram reforçadas em todos as salas do museu.

O roubo de 27 de janeiro não foi o primeiro acidente do tipo na Galeria Tretyakov recentemente.

Em 25 de maio de 2018, um vândalo bêbado rasgou o quadro “Ivan, o Terrível e seu filho Ivan, 16 de novembro de 1581”, de Iliá Repin, com uma barra de metal, causando sérios danos (o processo de restauração ainda não foi iniciado).