Quando chegou à cidade acadêmica Potchefstroom, na África do Sul, Semion Dukchanin, um jovem de 17 anos da vila siberiana de Bogotol, ficou gripado e sofreu com a diferença de fuso horário. Mas, apesar da indisposição, o adolescente não se abalou e foi capaz de vencer a competição da Federação Internacional de Levantamento de Peso (IPF, na sigla em inglês) nas categorias sub-júnior e júnior.
Quando o torneio chegou ao fim, Semion havia conquistado uma vitória próxima contra o seu concorrente mais acirrado, Portes Filip, da República Tcheca, por uma margem de apenas 40 quilos. Mas aqueles que parabenizaram o russo em seu primeiro grande triunfo internacional não faziam ideia de que o sucesso foi fruto de muita superação – apesar das dificuldades financeiras e adversidades físicas de Dukchanin.
Campeão ao acaso
Semion entrou para o mundo do levantamento de peso por uma série de circunstâncias inesperadas. Em busca de algo que gostasse fazer, o jovem passou sete anos em uma escola de artes, dois anos praticando karatê, e um ano, arco e flecha. Até se dedicou alguns meses à musculação, mas desistiu após não conseguir resultados expressivos.
Durante esses anos, Semion ganhou peso descontroladamente, o que se tornou um problema. Ir à escola era cada vez mais difícil porque sofria bullying devido ao peso.
“Eu pesava 80 quilos quando tinha 12 anos, então, resolvi entrar na academia”, conta.
A princípio, sem levar seu novo hobby a sério, Semion ia eventualmente à academia e não levava o treinamento à risca. Foi então que, graças em grande parte às habilidades físicas naturais, o jovem russo conquistou sua primeira vitória.
“Quando comecei a ganhar competições, isso me motivou, e, em seguida, uma motivação ainda mais forte veio quando perdi”, diz Semion.
As habilidades físicas naturais e algumas vitórias subsequentes consolidaram o destino do adolescente: um dos treinadores mais proeminentes em sua pequena cidade natal, V.V. Kortunov, enfim notou o jovem atleta.
“Ele pode não ser um treinador de estrelas, mas todos os técnicos da região de Krasnoiarsk o conhecem – ele já treinou dois campeões mundiais”, afirma Semion, que ficou mais do que feliz em testar a si mesmo sob a orientação de Kortunov.
Em pouco tempo, a parceria se mostrou eficaz e bem-sucedida. O campeão atribui a sinergia positiva parcialmente às relações mutuamente respeitosas que os dois foram capazes de construir. “Nós nos comunicamos bem, sempre temos algo a conversar. Ele é como um bom amigo, sempre gentil e pronto para ajudar”, diz Semion.
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A força natural do jovem nas mãos de um treinador capacitado abriu caminho para o sucesso. Havia, porém, outro obstáculos pela frente: dinheiro.
Equipe zerada, mas unida
Semion vem de uma família simples. Seu pai trabalha em ferrovias, enquanto a mãe recebe pensão por invalidez. “Meus pais tiveram que economizar muito dinheiro ao longo de um ano inteiro para cobrir o custo da minha viagem ao campeonato mundial na África do Sul”, lembra Semion, que não tem renda própria. “Os organizadores me prometeram uma quantia pela vitória, mas ainda não fui pago.”
A falta de dinheiro frequentemente atrapalha o progresso do Semion e afeta até mesmo sua dieta. “Eu teria aderido a uma dieta, mas meus meios financeiros são limitados. Eu não posso nem comprar nutrição esportiva para treinar antes de cada competição”, conta Semion, que continua otimista, apesar das dificuldades. “Tenho sorte de ter uma boa genética”, acrescenta, encarando sua nutrição como um pequeno inconveniente.
Encontrar dinheiro para patrocinar sua viagem à África do Sul também foi uma luta.
“A equipe júnior [de levantamento de peso] da Rússia não recebe fundos suficientes. Se não fosse pelo meu treinador, que ajudou a encontrar verbas adicionais, a viagem custaria 110 mil rublos (US$ 1.700). Mas ele tem bons amigos e, assim sendo, a viagem custou apenas 60 mil (900 dólares)”, acrescenta Semion.
Sua escola de esportes também ajudou a pagar o teste de doping – um procedimento que custa 17.500 rublos (US$ 270) e é geralmente coberto pelos próprios atletas.
No final, graças ao apoio dos pais, da escola e do treinador, Semion conseguiu ir à África do Sul, onde conseguiu fazer agachamento, supino e levantamento terra de 780 quilos no total, superando todos os demais concorrentes.
Após o sucesso inicial nos esportes, Semion já começa a fazer planos: um dia se mudará para Moscou e abrirá uma academia própria. Agora, no entanto, decidiu retornar a Bogotol, sua cidade natal com 20.000 habitantes, e retomou o treinamento.
“Estou satisfeito com meu desempenho, mas poderia ter feito melhor”, conclui.
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