Como os russos mudaram minha vida: Ben, da Inglaterra

Benjamin Grainger
É triste como as pessoas são mal informadas sobre a Rússia. Para os meus amigos e familiares, virei o correspondente oficial – o único que diz o que realmente está acontecendo.

Nos primeiros escritórios onde trabalhei em Moscou, havia um grupo de 10 ou 12 meninas sentadas atrás de computadores, alguns gerentes de contas. No primeiro dia, eu entrei e fui falando: “Oi, eu sou o Ben”. Recebi aquele olhar frio detrás dos computadores e nenhuma resposta, e começou a pensar – p$@#$, eu estou no lugar errado? Alguém me chamou de lado e disse: “Não é assim que você fala com as pessoas aqui, Ben”. Mas, depois de um ou dois dias no escritório, todo mundo veio e começou a falar e ser caloroso comigo, mas a reação inicial – quem é esse cara?

Antes de Moscou, passei alguns anos morando em Tóquio. Quando você entra em um escritório, uma loja, em qualquer lugar do Japão, as pessoas logo surgem para cumprimentá-lo, sendo excessivamente amigáveis e educadas. Mas um pouco de experiência provará que nenhuma delas é particularmente sincera. A Rússia tem um efeito oposto. Inicialmente, as pessoas são ríspidas e frias, mas, quando se quebra essa casca, você conhece a real.

Os russos se mostram genuinamente interessados ​, querem conhecê-lo e querem falar sobre si mesmos. E eles serão sinceros com você sobre como se sentem, e há algo muito revigorante nisso. Isso é algo que eu respeito profundamente em relação a esse lugar.

‘Bem, esta é a Rússia’

Eu vivi em lugares diferentes, e as coisas ao meu redor sempre foram bem – eu tive a sorte de escapar do tsunami de 2011 no Japão, e as coisas estavam tranquilas na Alemanha, embora houvesse problemas com o euro... Mas não em Moscou.

No primeiro ano em que cheguei, houve uma grande queda do rublo. Eu pensei: “Meu Deus, o que vai acontecer? Vai haver saques nas ruas, esse lugar vai afundar, as pessoas vão pular de pontes?”. E quer saber – você acorda no dia seguinte e tudo está exatamente como no dia anterior. Foi então que compreendi a expressão “Bem, está é a Rússia” que muitas pessoas usam aqui. E eu entendi que isso não é arrogância, isso não significa “estamos acostumados ao ruim” ou algo do tipo. Isso significa que “aprendemos a lidar com o que dá errado”, e, novamente, respeito muito isso.

É o mesmo com todas as dificuldades da vida russa: não importa o que é realmente – como as pessoas percebem é que faz a diferença. Em Manchester, estamos habituados a ter três semanas seguidas de chuva, e esquecemos que isso é deprimente. É uma experiência diferente aqui em Moscou – você começa a apreciar os contrastes da vida.

Duas Moscous em uma

Costumo descrever Moscou como duas cidades – a cidade de inverno e a cidade não inverno. Parece que o inverno aqui sempre dura um mês a mais, e esse último mês com neve – você acha que não vai acabar nunca. E então boom: tudo muda no espaço de apenas duas semanas, nós vimos a transição da neve em todos os cantos para mais de 20°C, e isso até muda um pouco a sua mentalidade de tão rápido que acontece.

O frio faz com que você aprecie o calor, e você pode passar mais noites fora de casa, em vez de “preciso ir para casa logo ou vou morrer congelado”. Mas o tempo frio é melhor do que o chuvoso. Ele não é necessariamente o inimigo – e não há mau tempo, apenas roupas erradas – você aprende isso rapidamente em Moscou.

O desmentidor de fake news           

É triste ver quão imprecisa as pessoas imaginam a vida em Moscou pela forma como é retratada na mídia. A opinião da maioria das pessoas sobre a Rússia ainda é, infelizmente, baseada em “Rocky V” ou em outros filmes como esse dos anos 80. Desde então, ninguém sabe muito sobre como as coisas progrediram e mudaram. Todos os anos volto para casa e minha família espera que eu tenha me transformado de alguma forma, e leva algum tempo para convencê-los de que o centro de Moscou não é tão diferente do centro de todas as outras grandes cidades. É lamentável que nossas opiniões na Inglaterra sejam tão desatualizadas por causa da imprensa.

Lembro de quando houve essa proibição da importação de alimentos estrangeiros da Europa. E, claro, estava lendo jornal em inglês e as fotos que foram usadas para cobrir essa matéria sobre a Rússia eram de supermercados sem comida nas prateleiras. Minha mãe me ligou perguntando se eu estava passando fome, e respondi, novamente, que tudo estava igual ao dia anterior – as pessoas simplesmente seguiram suas vidas, sem pânico, e não houve escassez.

Fico um pouco triste que as pessoas de fora da Rússia sejam tão mal informadas sobre o verdadeiro modo de vida, a real situação aqui. Eventualmente, meus amigos e família aprenderam a não confiar nas notícias sobre a Rússia, é melhor esperar que eu venha e diga a eles o que realmente está acontecendo.

Se você tem interesse pela Rússia além das manchetes internacionais, não deixe de ler também Guia definitivo de mitos e verdades sobre estereótipos russos”. 

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