Como os russos mudaram minha vida: Tim, dos EUA

Arquivo pessoal
Segundo jornalista norte-americano, russos o ensinaram a apreciar seu próprio país, entre outras coisas.

Quando crescemos no Ocidente, temos certeza de que sabemos de tudo, de que nossa visão da história é a única possível. Bem, essa mentalidade morre (ou, pelo menos, entra em crise) assim que você cruza a fronteira.

A Rússia tem uma experiência histórica muito diferente e uma visão muito distinta em relação aos acontecimentos. É como cair acidentalmente em uma quarta dimensão, onde se pode ver as coisas sob um novo ângulo. É difícil de explicar em um parágrafo, mas a maioria dos estrangeiros que falam russo atestam a existência dessa “outra visão”. 

Novos hábitos

Ao viver na Rússia, nos deparamos com um grande conjunto do que poderíamos chamar de superstições ou etiquetas que precisam ser seguidas. Depois de mais de uma década aqui, eu simplesmente não consigo mais:

  • Apertar as mãos de alguém por uma porta;
  • Deixar uma garrafa vazia de bebida alcoólica sobre a mesa;
  • Comer usando chapéu;
  • Assobiar dentro de casa;
  • Passar à mão uma grande quantia em dinheiro;

e assim por diante.

Há vários pequenos hábitos que se aprende aqui, especialmente se estiver disposto, mas, quando você começa a se adaptar, nunca mais conseguirá voltar. Por exemplo, meu coração simplesmente para toda vez que vejo alguém colocar os pés sobre uma mesa ou cadeira para relaxar.

O ‘hamstvo’ funciona

Ham (Хам) era o filho de Noé que, de certo modo, desrespeitou seu pai e se tornou o primeiro idiota da história; para os russos, é daí que vem o termo hamstvo (хамство). O dicionário define isso como uma maneira de conduzir sua vida tentando afirmar sua superioridade sobre os outros, ou seja, agindo como chefe. Os russos veem essa tendência cultural como sendo 1) exclusiva deles e 2) algo muito ruim.

Eu diria o contrário. Seja nos correios, lidando com burocracia, interações cotidianas e até namoros, essa atitude “vou conseguir o que quero, vou vencer” realmente facilita a vida. É por isso que os russos nunca se queixam da burocracia ocidental, porque a vontade de aço de seu hamstvo esmaga os burocratas que estão acostumados a dizer “não” e fazem as pessoas aceitarem isso.

Um bom exemplo aconteceu recentemente, quando eu estava em uma conferência, e cada grupo tinha três cadeiras e uma mesa; no final, o grupo russo tinha sete cadeiras, duas mesas, uma espreguiçadeira e uma pilha de lanches. Eles não bateram, mentiram ou trapacearam para obter essas coisas; apenas os pegavam quando dava vontade, e nunca pensaram, nem por um segundo, que levá-los seria ruim ou teria consequências. Este é o poder do hamstvo

Encarando distâncias com outro olhar

Quando minha mãe me visitou na Rússia, ela sempre perguntava se algo estava “longe”, e eu lhe dizia que na Rússia você nunca deve perguntar se algo está longe – e sim perguntar quão longe fica. As distâncias na Rússia são enormes, assim como os deslocamentos.

A maioria das pessoas que eu conheço leva mais de uma hora para chegar ao trabalho, e isso é normal. Ir de um extremo a outro de Moscou pode levar cerca de 90 minutos. Tudo fica longe, e é preciso apenas aceitar.

Quando eu era criança, dirigir 40 minutos para chegar a uma loja que eu gostava parecia uma eternidade; agora eu diria que 40 minutos de carro soam bem pertinho.

(Re)apreciando os Estados Unidos

Quando tinha entre 16 e 22 anos, eu era como muitos millennials (pessoa nascida por volta de 1980 a 1990) são agora. Eu culpava os EUA, em vez de mim mesmo, pelos meus problemas, o que era injusto e infantil.

Após viver em um lugar bem diferente, eu aprecio muito mais os Estados Unidos, e devo dizer que a “atitude proativa ” norte-americana é algo incrível e que nem sempre se vê por aí. Os russos realmente respeitam os EUA como uma grande civilização e um concorrente digno, e fico feliz que tenham me ajudado a encontrar o melhor em meu país natal.

Veja também como os russos mudaram a vida da italiana Lucia.

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies