De acordo com dados recentes, a proporção de divórcios para novos casamentos na Rússia é de 1 para 1,6, o que significa que os russos se divorciam mais do que se casam. Outros estudos apontam que, nas últimas décadas, mais de 60% dos casamentos terminaram em separação oficial.
Enquanto alguns culpam a imaturidade dos jovens e as difíceis condições de vida, os especialistas garantem que o fenômeno têm pouco a ver com esses dois aspectos.
Ainda assim, uma coisa é certa: a Rússia é um país onde um a cada dois casamentos acaba em divórcio, tornando-se um líder internacional nesse aspecto.
O motivo principal
“Isso [alto índice de divórcios] se deve à irresponsabilidade e à falta de consideração dos jovens antes de se casarem. Eles continuam a fazer seus jogos infantis e mal conseguem imaginar o que os espera depois do casamento”, escreve Marina em um fórum on-line relacionado a família.
Segundo psicólogos, os casais se separam de forma menos dramática do que o comentário sugere, mas, às vezes, as pessoas fazem escolhas erradas no início da vida adulta.
“Minha mulher e eu nos conhecemos quando éramos novos. Quando os jovens crescem, muitas vezes, os seus pontos de vista sobre a vida mudam. Foi isso que aconteceu conosco”, diz Aleksandr Pirogov, que se divorciou aos 32 anos.
Em parte, é verdade que os russos se tornaram mais independentes em suas escolhas de vida e aceitaram mais o divórcio nas décadas seguintes à queda da União Soviética, dizem os especialistas, mas o alto índice de divórcio no país não tem a ver com as pessoas serem imaturas e fazerem escolhas irresponsáveis.
“Seria errado comparar o número de divórcios na Rússia e em outros países, pois os processos de divórcio, que têm um enorme impacto nas estatísticas, variam muito de lugar para lugar”, explica Serguêi Zakharov, vice-diretor do Instituto da Demografia da Escola Superior de Economia.
As leis liberais na vara da família são, de acordo com o especialista, o principal fator responsável pelo grande número de divórcios na Rússia. “Elas permitem um divórcio barato e rápido, sem muito sangue derramado”, continua Zakharov.
Os russos podem facilmente encontrar na internet diversos escritórios de advocacia que anunciam “divórcio chave na mão” por valores entre US$ 190 e US$ 400. “Advogados experientes fazem o divórcio sem a sua presença, sem o consentimento do cônjuge, mesmo que um casal tenha filhos”, diz um desses anúncios.
Economia pesa na relação
“A vida na Rússia é, em geral, difícil: os salários são baixos, o trabalho não é fácil; as pessoas não conseguem aproveitar a vida em tais condições – a busca por renda, e não por amor, ocupa seus pensamentos”, escreve Anastassia no fórum.
A maioria dos homens que ligaram durante um programa de rádio recente que debatia as razões para o divórcio citaram problemas financeiros e repreensões de suas parceiras como a principal razão para separação. No entanto, os especialistas negam que a economia tenha tido um grande impacto no volume de divórcios na Rússia.
“Casamento e divórcio são muito mais fundamentais que a economia. Esses são padrões básicos de comportamento humano e são regulados pela visão que as pessoas têm do ciclo de vida. As pessoas ajustam fatores econômicos às suas necessidades básicas, e não o contrário”, diz Zakharov, acrescentando que, “por outro lado, as pessoas se sentem mais felizes quando a economia está crescendo”.
As implicações negativas da falta de renda poderiam, de fato, estar gerando um aumento das taxas de divórcio no país. Uma pesquisa nacional mostra que cerca de 40% dos russos citam o alcoolismo como razão para o rompimento. Parentes intrusos e condições de vida difíceis na ausência de casa própria também são razões citadas com maior frequência pelos casais russos – 14 e 23%, respectivamente.
União pelos filhos
Crianças, propriedade conjunta e dependência financeira reduzem o risco de separação oficial, embora dificilmente garantam uma vida feliz no casamento.
“As crianças complicam as coisas”, diz Elena Dvurechenskaia, mãe de três filhos que se divorciou aos 30 anos. “Três crianças dificultam encontrar um emprego adequado; além disso, é mais fácil sustentar as crianças com duas rendas.”
Embora os filhos não tenham impedido o divórcio de Dvurechenskaia, uma pesquisa recente mostra que 35% dos casais na Rússia não se divorciam justamente por causa das crianças, mesmo que não se sintam mais felizes.
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