O comunismo como ideologia de Estado não tem mais peso na Rússia – é oficial. “Não será estabelecida nenhuma ideologia estatal ou obrigatória”, lê-se na Constituição Russa de 1993. Trata-se de uma diferença substancial em comparação com as constituições da era soviética, que enfatizavam que o Partido Comunista era “o líder e a força motriz da sociedade soviética e o núcleo de seu sistema político”.
O PCUS deixou de existir após o colapso da URSS no final de 1991. Boris Iéltsin, o primeiro presidente da Rússia e ex-membro do PCUS, proibiu o partido, que possuía 18 milhões de membros no momento de sua extinção. Isso significou o fim da Rússia como um Estado comunista, mas não implicou o fim da ideologia comunista no país.
Jesus, o comunista?
“O caminho do desenvolvimento humano leva ao comunismo... Seus slogans e bases morais podem ser encontrados no Sermão da Montanha de Jesus (...) e sobreviverão a todos os Trumps, EUA e nós mesmos”, diz Guennádi Ziugánov, que foi por anos líder do Partido Comunista da Rússia, criado imediatamente após a extinção do PCUS.
Ziugánov e seu partido continuam a ser os principais defensores do comunismo na Rússia e, desde as eleições parlamentares desde 2003, tem representado um desafio para o partido governista Rússia Unida. Em todas as últimas eleições, o Partido Comunista foi o segundo mais votado. Ainda assim, os comunistas não foram capazes de aumentar suas participação no governo: nas eleições legislativas de 2016, a sigla ganhou apenas 13% dos votos (contra 19% em 2011). Nas eleições presidenciais de março de 2018, apenas 11% votaram no candidato do partido, Pável Grudinin.
Apesar disso, ainda há milhões de pessoas na Rússia que consideram “atraente” o comunismo em seus moldes soviéticos. “O comunismo soviético era uma ideia nobre: criar um futuro melhor, unir todas as pessoas, independentemente de sua nacionalidade ou religião”, explicou Serguêi Tchibinéiev, um restaurador de arte que coleciona objetos soviéticas, em entrevista à Radio Liberty.
O passado não será apagado
Em geral, na Rússia, não há muita empenho quando se trata de se livrar do passado comunista. Por exemplo, ainda existem mais de 5.400 estátuas de Lênin no país. Entretanto, especialistas políticos, historiadores e muitos cidadãos comuns têm a certeza de que, independentemente de quão nostálgicos seus compatriotas sejam sobre a URSS, é muito improvável que as ideias comunistas prevaleçam.
“Nossos líderes atuais não querem voltar à revolução, ao comunismo militar e outras coisas”, defende Dmítri Drize, analista político do “Kommersant”. Segundo ele, ao conservar as estátuas de Lênin e seu mausoléu na Praça Vermelha, as autoridades “tentam manter a calma dos nostálgicos do período soviético”. Mas isso não significa que eles estejam seduzidos por políticas ou pelas ideias econômicas comunistas.
Nostalgia sem causa
Há uma piada sobre a URSS que diz: “Quando eu era pioneiro [um análogo soviético dos escoteiros], eles me diziam que a vida no futuro seria maravilhosa. Agora eles me dizem que a vida era maravilhosa quando eu era pioneiro”.
Na opinião do analista político Serguêi Balsammov, “nós amamos repetir velhos mitos sobre como a vida era maravilhosa sob o tsar, durante o comunismo. No futuro eles dirão o mesmo sobre Putin. É o nosso mito tradicional de ‘paraíso perdido’”.
Mas nem todos compartilham dessa nostalgia. “Na cultura soviética, o futuro comunista existia ‘aqui e agora’, juntamente com a escassez de bens, a repressão e a crise imobiliária”, disse, em uma conferência, o historiador cultural Iliá Veniakin.
Esse sonho soviético, porém, jamais se concretizou. “O projeto comunista perdeu em sua rivalidade econômica contra os Estados ocidentais. Houve uma grande decepção e o comunismo ficou para trás na Rússia”, concluiu Veniakin.
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