Como um tiroteio nos EUA matou um russo e salvou a vida de 4 americanos

Estilo de vida
NIKOLAI CHEVTCHENKO
Decisão de doar órgãos de vítima ultrapassou barreiras políticas.

Duas balas atingiram um Nissan Altima quando o carro passava pela Segunda Avenida em Pittsburgh, no dia 19 de dezembro de 2017. Inicialmente, o motorista pensou que era apenas uma pedra, mas quando olhou para seu passageiro viu que ele tinha sido atingido na cabeça.

Naquele dia, Olga Kemaeva, mãe de três crianças, atendeu o telefone em Novosibirsk, cidade a 3.000 km de Moscou, e soube que seu marido, Anton Kemaev, havia sido atingido em um tiroteio nos Estados Unidos. Ele havia viajado para visitar um amigo - mas a tragédia aconteceu.

Ao mesmo tempo, em Apple Valley, Minnesota, um sargento aposentado do Exército da Guarda Nacional, John Bond, lutava contra uma doença de rim, aos 35 anos. Casado e pai de três crianças, ele já aguardava por um transplante há três anos.

Olga tirou um visto americano, fez as malas e voou para os Estados Unidos para ver seu marido.

Quatro vidas por uma

Tragicamente, era tarde demais: Anton Kemaev havia morrido no Hospital Presbiteriano UPMC em 28 de dezembro de 2017. Para a surpresa de todos, a viúva não levou o corpo do marido de volta à Rússia. Em vez disso, concordou em doar os órgãos de Anton a pacientes americanos doentes.

Foi quando Erin Bond, esposa do sargento veterano, recebeu uma ligação urgente convocando-a com o marido a Pittsburgh, para a tão aguardada cirurgia. No mesmo dia, o casal embarcava em um voo para a cidade e John era preparado para o transplante.

A cirurgia correu bem e o veterano já voltou para casa. Antes de deixar Pittsburgh, o casal conheceu Olga, cuja decisão salvou a vida de John e mais três americanos que ela nem conhecia.

“Não posso imaginar o que Olga está passando. É realmente de cortar o coração que tenha acontecido aqui nos Estados Unidos. Ela ter escolhido pela vida após alguém tirar a vida de seu marido é um grande presente. Sua decisão de doar salvou quatro vidas americanas”, disse Erin ao Russia Beyond.

Ela disse ainda que seu marido “ainda está muito dolorido, mas seu corpo está respondendo maravilhosamente ao novo rim”.

“Isso prova para mim que a humanidade ainda existe. Somos gratos por haver doadores de órgãos, e a generosidade de Olga prova que há boas ações no mundo”, completou.

Ainda segundo Erin, Olga deixou os Estados Unidos em 19 de janeiro, mas ela pretende manter contato. “Dei a ela todas as minhas informações de contato e gostaria de ao menos enviar presentes a ela de vez em quando”, disse.

“Acho que é hora de eu aprender russo”, continuou.

Uma campanha de arrecadação de fundos foi lançada no site GoFundMe para levantar recursos para Olga e seus filhos.

Leia sobre um médico soviético que foi pioneiro em transplantes de órgão, contra todas as possibilidades.