O ancestral mais distante da língua russa é o protoindo-europeu, o predecessor de todas as línguas da grande família indo-europeia (ou seja, do românico, germânico, eslavo, báltico, celta, indo-iraniano, grego, albanês e armênio etc.). O protoindo-europeu era falado por numerosas tribos e povos da Eurásia pré-histórica desde a Idade do Cobre e o início da Idade do Bronze até o primeiro milênio antes de Cristo.
Desde aqueles tempos antigos, o russo, assim como muitas outras línguas de sua família, herdou a forma de flexões (a mudança das palavras por meio das suas terminações), muitas categorias gramaticais (casos, gênero, números nos nomes; pessoa, número, tempo, voz e declinação nos verbos), a ordem das palavras nas frases e sentenças, assim como a camada mais antiga do léxico.
Afinal, sequer é preciso ser linguista para ver as semelhanças óbvias entre, por exemplo, estas palavras em russo e inglês: “mat” e “mother” (mãe), “brat” e “brother” (irmão), “sin” e “son” (filho), “dotch” e “daughter” (filha), “moloko” e “milk” (leite), “den” e “day” (dia), “notch” e “night” (noite), “solntse” e “sun” (sol), “boroda” e “beard” (barba), “sol” e “salt” (sal), “volk” e “wolf” (lobo), “voda” e “water” (água), “sneg” e “snow” (neve), “novi” e “new” (novo), “kholodni” e “cold” (frio). A língua protoindo-europeia não tinha escrita.
Os pesquisadores buscam reconstruir essa língua desde o século 19 e obtiveram alguns êxitos. Para ter uma ideia de como soava o protoindo-europeu, assista ao filme “Prometheus” (2012) de Ridley Scott, em que o androide David se comunica nessa língua com um dos gigantes criadores:
Naturalmente, não devemos pensar que o proto-europeu era uma linguagem coerente e unificada. Pelo contrário, foi um conglomerado de dialetos em ativa evolução por vários milênios.
Em algum momento, o dialeto-pai de todas as línguas eslavas, o protoindo-europeu foi bem próximo dos dialetos protogermânico e protobáltico (portanto, a língua lituana de hoje é muito próxima das línguas eslavas) e, depois, se separou deles. Até o século 17 ou 18, as tribos e povos eslavos falavam em língua protoeslava, e até o século 12 as línguas eslavas eram próximas e mutuamente compreensíveis.
Desde a era do protoeslavo, o idioma russo herdou, por exemplo, a forma verbal (uma categoria característica de todas as línguas eslavônicas), bem como milhares de palavras e radicais eslavônicos comuns que, ainda hoje, soam muito similares em todas as línguas eslavônicas: “pole” (poste), “selo” (aldeia), “nebo” (céu), “svet” (luz), “zvezda” (estrela), “konets” (fim), “golova” (cabeça), “ruka” (mão), “pios” (cão), “kon” (cavalo), “derevo” (árvore), “ptchela” (abelha), “medved” (urso), “riba” (peixe), “stoiat” (ficar), “govorit” (falar), “beli” (branco), “tiopli” (quente) e muitas outras.
Para ajudar os pesquisadores na reconstrução da língua, também a primeira língua escrita dos eslavos, o antigo eslavônico tem sido de grande ajuda.
É possível imaginar como era o velho eslavo? Sim! Uma equipe internacional sob a direção da produtora croata Marina Tsvetko está atualmente filmando uma série sobre acontecimentos nos Bálcãs no século 6 em que será possível apreciar a língua, falada por muitos dos personagens do filme, como se vê aqui:
Para concluir, o antepassado mais próximo da língua russa é o russo antigo, uma língua falada e escrita secular comum aos antepassados dos russos, ucranianos e bielorrussos.
Acredita-se que ele existia desde a formação da identidade russa e do primeiro Estado feudal russo da dinastia ruríquida, no século 10, até que as terras desse Estado serem efetivamente divididas entre Moscou, Nôvgorod e Lituânia, no final do século 15.
Nas terras da Rússia Ocidental (que atualmente abrigam Belorússia, Ucrânia e parte da Federação da Rússia), a língua russa continuou a ser uma das línguas oficiais do Estado até o final do século 17, cheia de palavras tomadas de empréstimo do polonês e peculiaridades dialetais locais.
Além disso, existiam contatos culturais ativos entre Moscou e a Lituânia, por isso que se pode dizer que o russo antigo durou quase até o início do século 18 e as reformas linguísticas de Pedro, o Grande.
A partir dessa época, a língua russa, já mais próxima do russo moderno, começou a se desenvolver ativamente em todo o império, enquanto as línguas literárias ucraniana e bielorussa surgiram nos territórios da Bielorússia moderna e da Ucrânia no século 19. Mas esses glotônimos "não russos" foram fixados definitivamente para o bielorrusso e o ucraniano apenas no século 20.
No período do russo antigo, formou-se definitivamente o sistema gramatical e fonético da língua russa e o estrato eslavo oriental do vocabulário - palavras que soam aproximadamente iguais em russo, ucraniano e bielorrusso: “diadia” (tio), “ussi” (bigode), “lob” (testa), “sumka” (bolsa), “belka” (esquilo), “kolaska” (carrinho), “kipiatit” (ferver), “stutchat” (bater [na porta]) etc.
O russo antigo, como se pode deduzir, já era uma língua escrita e deixou para trás milhares de monumentos, mesmo do período mais antigo: cartas, notas nas margens dos livros, inscrições, grafites, fragmentos em russo antigo em crônicas e outros textos escritos em eslavo eclesiástico.
Apesar de bem estudado, o russo antigo ainda não está bem representado na arte moderna. Mas ele pode ser ouvido, por exemplo, no canal de um famoso linguista russo:
No cinema russo-soviético, filmes com temas históricos usam tradicionalmente o russo moderno com algumas inserções léxicas do antigo russo, como na famosa comédia soviética “Ivan Vassilievitch troca de profissão”:
Os russos modernos, em geral, já entendem bem a língua russa como ela era no final do século 18. Embora a língua russa tenha mudado muito nos últimos 200 anos, podemos dizer, com segurança, que ela é a mesma em que Dostoiévski e Tolstói escreveram.
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