Os primeiros dicionários russos foram compilados no final do século 18 e eram dicionários de vocabulário eclesiástico, assim como da Academia de Ciências, que buscavam traçar um mapa da origem de todas as palavras a partir de suas raízes. Eles tinham menos de 50 mil palavras.
No século 19, Vladímir Dal incluiu mais de 200 mil palavras em seu renomado "Dicionário Explicativo da Grande Língua Russa Viva". Sua base era composta de palavras usadas normalmente no russo padrão. Dal também incorporou léxico eslavo eclesiástico usado apenas na escrita. Ele também foi o primeiro pesquisador a coletar uma grande quantidade de coloquialismos, ainda não registrados por escrito até então.
No século 20, vários outros dicionários foram compilados com 50 mil a 120 mil palavras cada. Eles tiveram edições variadas, já que os autores não decidiam se palavras derivadas de outras (mas com o mesmo radical) deveriam ser listadas separadamente. Via de regra, considera-se que a língua russa tenha cerca de 40.000 radicais.
E o russo contemporâneo?
A fonte de informação mais atualizada e confiável sobre o vocabulário do russo moderno é o “Grande Dicionário Acadêmico da Língua Russa”. Seus 30 volumes contêm cerca de 150 mil palavras - quantidade que se acredita ser usadas no russo padrão hoje.
Para se ter uma ideia, o “Dicionário de Inglês de Oxford” tem cerca de 400 mil palavras. Mas os linguistas evitam comparações como essas, porque cada dicionário é diferente. Por exemplo, o “Grande Dicionário Acadêmico da Língua Russa” traz apenas léxico moderno, enquanto o “Dicionário de Inglês Oxford” lista todas as palavras desde o ano 1150, entre elas, muitas obsoletas e mortas, assim como léxico do inglês americano e canadense.
Além disso, alguns itens lexicais não são listados em dicionários, como, por exemplo, advérbios formados a partir de adjetivos. Ou seja, o número de palavras reais é maior do que o número de itens lexicais. Também vale lembrar, por exemplo, que o russo tem cerca de 40 palavras com o radical люб-, enquanto o inglês tem apenas cerca de cinco palavras com o radical de “amor”.
“Se complementarmos as 150mil palavras do russo padrão moderno com, por exemplo, palavras do dialeto, teremos 400 mil palavras”, diz a linguista Liudmila Kruglikova, uma das autoras do “Dicionário Acadêmico”.
Todas as palavras são empregadas?
Um russo médio usa todas as 150 mil palavras da língua? Certamente não! Acredita-se que o vocabulário médio de uma pessoa instruída consista de cerca de 10 mil palavras, com apenas 2 mil delas em uso ativo. Profissionais que empregam um vocabulário especializado podem ter cerca de 2 mil palavras a mais em seu vocabulário ativo.
Um dos recordistas em termos de número de palavras em seu vocabulário foi o poeta Aleksandr Púchkin. Em meados do século 20, foi publicado o “Dicionário da Língua Púchkin”, que foi desenvolvido ao longo de várias décadas. Os pesquisadores que o elaboraram analisaram todas as obras do poeta, assim como suas cartas, documentos de negócios e rascunhos, e chegaram a quase 21 mil palavras no dicionário.
Púchkin é considerado o criador do padrão moderno de língua russa em uso na atualidade. Ele introduziu na escrita palavras coloquiais que não eram usadas antes e passou a registrar a escrita de maneira menos rebuscada, em comparação à da época, demasiadamente exagerada e formal.
Quantas dessas palavras são "emprestadas" de outras línguas?
A língua russa tomou empréstimos de muitas outras línguas: adotou palavras gregas com a difusão do cristianismo e túrquicas com o desenvolvimento de laços com vizinhos de língua turca. Com Pedro, o Grande, o russo também foi enriquecido com muitas palavras europeias em várias áreas da ciência, navegação etc.
No século 19, a aristocracia russa adotou o francês como sua segunda língua. Por isso, não é de surpreender que quase seis por cento do vocabulário de Púchkin tenha sido composto de empréstimos. Os pesquisadores afirmam que 52 por cento dos estrangeirismos no vocabulário do poeta vieram do francês, cerca de 40 por cento do alemão e apenas 3,6 por cento do inglês.
O “Dicionário de Palavras Estrangeiras” publicado na URSS tinha quase 23 mil palavras, enquanto o “Dicionário de Palavras Estrangeiras em Russo Moderno”, de 2014, já continha 100 mil palavras.
No século 20, os anglicismos eram responsáveis pela maioria dos estrangeirismos na língua russa e, após o colapso da União Soviética, esse número subiu ainda mais. Acredita-se que mais da metade das palavras em russo moderno sejam estrangeirismos e quase 70 por cento deles, empréstimos do inglês. Além disso, o número de palavras emprestadas cresce constantemente.
Os linguistas apontam que novos estrangeirismos surgem principalmente nas esferas profissionais e especializadas, mas se tornam cada vez mais parte da linguagem cotidiana. “Palavras estrangeiras se adaptam ao sistema e radicais emprestados são desenvolvidos com afixos russos. É assim que surgem palavras como постить (derivado de “post”, em português, “postar”), смайлик (de “smiley”), океюшки (de “ok”), лайкать (de “like”) e até облайканный (de “like” também)”, observa Kruglikova.
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