Gigantes da tradução e do ensino dão suas dicas de livros de referência.
Marina DarmarosSempre nos questionam quais são os melhores dicionários, livros e sites de referência do russo para o português. Decidimos, então, esclarecer isso com os novos gigantes da tradução e do ensino de russo no Brasil.
“Uso muito material de consulta, on-line e em papel. Mas, se tivermos que ficar especificamente na área russo-português-russo, minha ferramenta primordial é o dicionário russo-português de Voinova, Starets, Verkhucha e Zditovetski, que me acompanha desde os tempos de estudante do idioma, nos idos dos anos 1980. Na verdade, uso tanto esse dicionário que tive que comprar mais que um - e penso em breve em adquirir outro, pois a utilização constante vem destruindo o meu volume. Todo dicionário poderia ser mais completo, e esse, especificamente, bem mereceria uma atualização cultural e ideológica; de qualquer maneira, com o uso, a gente vai se habituando a suas idiossincrasias, e ele funciona muito bem para a literatura clássica, e também textos do período soviético.
No português-russo, uso Starets-Feershtein, embora também seja algo anacrônico. Acho que ainda dá para mencionar mais duas obras de diálogo entre as línguas, que já uso menos: ‘Locuções russas por imagens’, de Dubrovnin/Mello (as imagens são realmente divertidas), e ‘Dicionário politécnico russo-português’, de Asryantz/Matveev.
Em um assunto desses, porém, não dá para reconhecer a importância gigantesca representada pela internet e suas ferramentas de busca. A quantidade de conhecimento que podemos acessar em um clique é inimaginável, e creio que algumas de minhas traduções teriam sido inviáveis, não fosse por esse recurso. Felizmente, vai longe o tempo em que Boris Schnaiderman tinha que ir à Biblioteca Nacional para consultar o único dicionário russo-francês disponível no Rio de Janeiro.”
“Também uso o clássico dicionário russo-português organizado por N. Voinova, S. Starets, V. Verkhucha e A Zditovetski. Temos duas versões: de 1975 e de 1989 (Editora Língua Russa). Há mais alguns dicionários impressos em casa, como, por exemplo, um que saiu em 2006 (Astrel – ACT) organizado por N. V. Ivánov, mas quase não o uso.
Tenho instalado no computador o dicionário ABBYYLingvo (russo-português; português-russo), que, embora esteja mais centrado no português de Portugal (como os dicionários impressos, por sinal), tornou-se uma ferramenta indispensável para o meu dia a dia. Na verdade, muitas acepções são as mesmas oferecidas pelo primeiro dicionário que citei. No ABBYYLingvo os verbos podem ser conjugados e os adjetivos e os substantivos declinados, além de ele disponibilizar traduções do russo para outras línguas -- muitas vezes, é nessa interação de línguas que nos achamos, como sempre me diz a tradutora Graziela Schneider. O dicionário também fica conectado ao Word e o instalei até no meu celular. Existe também uma versão on-line para quem não quiser comprar o pacote. Nele não há tradução diretamente para o português, mas há para o espanhol, inglês, italiano, francês, etc. Outro recurso interessante do dicionário on-line é a possibilidade de ouvir a palavra (muito útil para quem está começando a estudar russo). No entanto, mesmo sendo um dicionário relativamente eficiente, é preciso tomar cuidado com algumas traduções, sobretudo quando se trata de comida, vestimentas etc. Nesse caso, se não conheço o termo, sempre confiro (vendo imagens e até consultando receitas).
O fato é que dificilmente um dicionário resolverá, por isso uso várias ferramentas ao mesmo tempo. São materiais impressos e disponíveis na internet: sites para conjugação de verbos e acentuação; enciclopédias; dicionários envolvendo outras línguas (russo-espanhol, russo-inglês, russo-francês, etc.); dicionários fonéticos, de termos antigos (Dal), de gírias (saíram vários na Rússia no últimos anos), de expressões idiomáticas, de sinônimos e antônimos; fóruns de discussão russos... E, conforme a tradução, procuro materiais específicos, como no caso de minha tradução de Chalámov, para o qual consultei um dicionário de termos usados em campos de prisioneiros. Por sinal, ter o alfabeto cirílico instalado no computador é uma mão da roda (existe até um dispositivo que adapta o teclado cirílico ao latino).
Além do mais, são inúmeras conversas com tradutores e pesquisadores: russos -- principalmente com Moissei Mountian, meu pai, Tatiana Lárkina, que é minha professora de russo, Valéri Sájin e Yulia Milkaelyan -- e brasileiros -- sobretudo com Irineu Franco Perpetuo e Graziela Schneider.
E asseguro que, mesmo com tudo isso, há dúvidas de sobra em minha cabeça!”
“Meu principal recurso é o dicionário Voinova-Starets. Ele é um pouco antiquado, porque a última edição é de 1988. Mas para traduzir literatura clássica é muito bom. Além disso, a parte de idiomatismo é excelente (e um pouco engraçada, também).
Também uso muito o Wiktionary para ver tônicas, flexões etc.; além do dic.academic.ru, um portal de dicionários que agrega o Dal, Uchakov, Ójegov, Iefrémova, Enciclopédia Soviética etc. Esse, geralmente, utilizo quando quero uma definição do russo para o russo mesmo.
E, claro, sempre é útil dar aquela espiada na nossa amiga Wikipédia, para uma nota de rodapé ou coisa do tipo.”
“Qualquer tradução passa primeiramente por um processo de compreensão do texto. Primeiro, uma leitura criteriosa e um registro dos termos que precisam ser estudados ou reavaliados, de acordo com o contexto. Para um trabalho cotidiano ou mesmo para um estudo sem grandes pretensões, uso o Multilex, da Paragon Software. Conforme o grau de dificultade vai aumentando, recorro ao Lingvo, da Abby ou aos tradicionais:
‘Dicionário Prático Russo-Português’ (N. Voinova / S. Starets)
Moscovo Edições 'Russki Yazik', 1986
12 mil palavras
‘Portugalsko-Russkii / Russko-Portugalskii Slovar’ (Vitalii Hlyzov)
Martin Moskva 2001
40 mil palavras
‘Bolshoi port-rus / rus-port Slovar’ (Nina Voinova)
Izd. Russkii Yazyk, 1989
53 mil palavras.
Quando a tradução fica mais técnica, ou ainda mais específica, em contextos históricos, é preciso recorrer a publicações em russo, como o Dicionário Fraseológico ou o Dicionário Linguístico, ambos da editora Russkii Yazik. Muitas vezes, em traduções técnicas, recorro às publicações da Langenscheidt ou da Oxford.”
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