Existem diferentes tipos de sobrenomes na Rússia: alguns terminam com “in” (como “Putin”); enquanto outros terminam com “ski” [que, em russo, leva dois “i”: “ий”] (como “Tchaikovsky”). Mas o final do sobrenome mais difundido no país tem o sufixo “ov” (como “Tchékhov”).
O que significam sobrenomes russos?
Historicamente, os sobrenomes russos referiam-se ao pai da família, seu nome, trabalho ou apelido. Por exemplo, “Ivânov” significa “da linhagem de Ivan”. Outro sobrenome popular, “Kuznetsov”, originalmente significava filho do “kuznets”, ou seja, do ferreiro.
Os sobrenomes na língua russa também têm formas femininas que terminam com “ova”, finalizados em “a” assim como a maioria dos substantivos femininos (bábushka, matriôshka, balalaika). Assim, uma mulher de sobrenome Ivânova era originalmente filha de Ivan.
Hoje, ainda há uma atribuição ao pai nos patronímicos modernos (que não são, porém, sobrenomes!). “Vladímir Ivânovitch (aqui, patronímico)” significa “Vladímir, filho direto de Ivan”, enquanto “Vladímir Ivânov (aqui, sobrenome)” significa “Vladímir, da linhagem de Ivan”.
Deve-se escrever “ov” ou “off”?
Esses sobrenomes são escritos em russo com a terminação “ov” (em russo, “ов”). No entanto, na fonética russa, consoantes duras no final das palavras são suavizadas. Assim, “Ivânov” é pronunciado com “f” no final.
Historicamente, a transliteração do russo normalmente era feita para o francês como língua de destino, e os nobres russos que viajavam para o exterior ou se comunicavam com estrangeiros no século 19 adaptavam seus sobrenomes para o francês para soletrá-los. Além disso, o “f” está relacionado à pronúncia alemã da letra “v”.
O fundador da empresa de charutos Davidoff, por exemplo, era um judeu nascido na Rússia que deixou o país em 1906. Naquela época, a Rússia ainda era uma monarquia e ele soletrava seu sobrenome à maneira francesa.
Mais tarde, no século 20, a transliteração de nomes russos tornou-se mais literal e mudou para “ov”. Isso afetou todos os sobrenomes, mesmo os dos russos dos séculos 19 e 20.
Mas como o “off” ainda existe?
Após os bolcheviques tomarem o poder em 1917, mais de um milhão de nobres russos fugiram do país. O novo Estado soviético os perseguiu, nacionalizou suas propriedades, além de prender e matar muitos.
Os chamados "emigrantes brancos" (porque eles, em geral, eram partidários do Exército Branco e contrários ao Vermelho) partiram para a Europa ou se mudaram para os EUA.
Eles se estabeleceram na França, Alemanha e Áustria e se acostumaram ao estilo de transliteração francês e alemão. Assim, seus novos passaportes tinham os nomes escritos com “off” no final.
Esses novos sobrenomes não tinham a versão femininas e obedeciam às regras da língua local. Foi assim que, por exemplo, o compositor russo Serguêi Rachmaninoff, que emigrou para os EUA em 1918, teve o nome terminado em “off”.
Além disso, “Smirnoff” é a famosa vodca criada pelo emigrante Vladímir Smirnoff. Mas, originalmente, a marca russa se chamava “Smirnov”, e tinha sido criada pelo pai de Vladímir, Pável Smirnov. Os bolcheviques nacionalizaram suas fábricas e, quando Vladímir deixou a Rússia, criou uma nova fábrica com a nova grafia do sobrenome.
Portanto, se você encontrar alguém com um nome de família que termina com “off” no exterior, isso significa que ele é um descendente de russos emigrados “brancos”. Os russos recém-emigrados, porém, têm sobrenomes geralmente terminado em “ov”.
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