Mudar para um novo país e ter que se adaptar a um novo ambiente de estudos nunca é fácil, mas a Rússia é um desafio particularmente difícil. Quando se trata de receber estudantes internacionais, saiba o que esperar.
Para muitas universidades locais, os estudantes estrangeiros são algo relativamente novo. Com cada vez mais países estão estabelecendo alianças de intercâmbio com a Rússia, as universidades estão se internacionalizam ainda mais, mas a vida universitária continua, em grande parte, muito russa.
O Russia Beyond compilou abaixo algumas das experiências de choque cultural mais comuns que os estudantes estrangeiros enfrentam no país e algumas dicas de como superá-las.
1. Parece que ninguém fala inglês
Um dos primeiros choques culturais que todo estrangeiro tem na Rússia é o fato de poucas pessoas falarem inglês – nada diferente do Brasil. Em algumas universidades, até as pessoas que trabalham no escritório dedicado aos estudantes internacionais têm um inglês muito limitado.
Se você, como muitos dos estudantes de intercâmbio que vão à Rússia, nunca estudou russo antes, ou se só conhece algumas palavras-chave e frases, a barreira da língua pode ser um grande desafio. Mas você não deixe isso desencorajá-lo.
Pelo contrário, busque alguém, de preferência um estudante russo que seja seu colega, para ajudá-lo a se instalar e acompanhá-lo a todos os procedimentos importantes que será preciso fazer após sua chegada.
Se você não conhece ninguém disposto a ajudá-lo, verifique se sua universidade tem uma agência da ESN (Rede Social Erasmus) ou outra associação de estudantes semelhante que vise a ajudar os estudantes internacionais.
Quando o chinês Li, mestrando em políticas públicas, foi pela primeira vez a Moscou, ele não sabia uma única palavra em russo. Depois de um mês, pegou algum vocabulário e algumas frases simples.
Mas ele diz que a chave para sobreviver é a confiança: “Pode parecer um pouco horrível, mas quando as pessoas não conseguem me entender, eu simplesmente vou em frente e falo inglês até que me deixem em paz ou tentem se comunicar em inglês também”.
Se todas as tentativas falharem, arme-se apenas com um aplicativo de tradução e pratique a mímica. Ser bom no “Imagem em Ação” pode valer de alguma coisa quando você é um estrangeiro na Rússia.
2. O pesadelo burocrático russo
A União Soviética era notória por seus procedimentos burocráticos que mais pareciam saídos de um pesadelo: desde a papelada chata até as intermináveis filas de espera e os funcionários públicos hostis.
Este capítulo da história da Rússia pode ter terminado há muito tempo, mas, infelizmente, nem tanta coisa mudou na máquina burocrática do país.
Suas primeiras semanas na Rússia provavelmente parecerão uma caçada, com tarefas como o preenchimento infinito de formulários e a ida e volta a vários escritórios da administração universitária e outros públicos. Seu único prêmio será a honra de ter que carregar 17 “bumajki” (papeizinhos) diferentes na carteira, todos de importância vital para sua sobrevivência e legalidade no país.
A búlgara Daria, que estuda direito na Universidade Estatal de Moscou Lomonosov, vive na Rússia há mais de 5 anos, mas ainda tem problemas com a burocracia local.
"Não tem como escapar dela, sempre tem alguma ‘spravka’ [atestado] ou alguma outra documentação para assinar, e isso sempre leva muito mais tempo do que deveria”, conta.
Ter que lidar com tudo isso pode fazer você querer pegar o primeiro voo para casa, mas não entre em pânico: tudo parece mais assustador do que realmente é. A solução para ter toda a documentação em ordem é se preparar com paciência, acompanhar de perto os prazos e as horas de abertura dos escritórios (que variam, inclusive, dependendo dos dias da semana, funcionando por vezes só em um período ou outro, ou apenas por algumas horas) e, o mais importante, SEMPRE CHEGAR CEDO.
Um último conselho: quando você conseguir que todos seus documentos sejam emitidos corretamente, não os perca, pois para eles serem reemitidos será duas vezes mais difícil – e fique de olho nos burocratas que os elaboram, inclusive no escritório da universidade, pois não é nada difícil que eles percam um pedaço de papel seu na bagunça de suas mesas e depois digam que você não o trouxe.
3. A frieza russa (não, não estamos falando sobre o clima!)
Quando as pessoas dizem que a Rússia é um país frio, muitas vezes elas não fazem apenas referência ao clima severo. A Rússia tirou uma classificação alta nos índices de “países menos amigáveis do mundo” e uma frieza da população é citada como um dos principais fatores que dificultam os negócios.
Para a norte-americana Rachel, intercambista na Escola Superior de Economia de Moscou, esta era uma grande diferença cultural.
"Quando cheguei à Rússia, sabia que as pessoas não seriam tão calorosas ou tagarelas quanto os americanos, mas a coisa mais estranha para mim era o fato de as pessoas nunca pedirem licença ou se desculparem quando esbarram em você na rua!”, diz.
Na verdade, é difícil não notar certas tendências nos primeiros encontros com estudantes russos: ninguém diz “olá” ou sorri para você nos corredores da escola, ninguém fica de conversinha na sala de aula e, mesmo em festas, as pessoas preferem pequenos grupos de amigos…
"Os russos parecem frios, sem dúvida, e os estereótipos que temos no Ocidente definitivamente contribuem para essa imagem", diz Boris, um franco-sérvio que estuda em intercâmbio em São Petersburgo.
Mas, apesar de todos esses estereótipos parecerem fazer sentido à primeira vista, não passam de mera fachada. Ao longo de sua conturbada história, o povo russo teve muitas razões para desconfiar de estranhos, e é por isso que ele raramente sorri ou conversa com pessoas aleatórias nas ruas. Mas não é que os russos sejam frios ou indelicados: eles simplesmente não têm facilidade em confiar.
Mesmo que pareça que o ambiente seja difícil para um estrangeiro fazer novos amigos e contatos, ele definitivamente vale a pena o esforço extra, segundo Rachel e Boris.
“De certa forma, quebrar o gelo é um desafio estimulante, porque uma vez que os russos se abrem para você, você terá esses amigos para a vida toda”, diz Boris.
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