Tudo o que você sempre quis saber sobre patronímicos russos (mas nunca teve para quem perguntar!)

Cena do filme "História de como se zangaram Ivan Ivânovitch e Ivan Nikiforovitch" (1959).

Cena do filme "História de como se zangaram Ivan Ivânovitch e Ivan Nikiforovitch" (1959).

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Eles abundam na literatura russa e confundem a cabeça de qualquer leitor! O patronímico é um elemento que existe em muitas línguas e liga o nome da pessoa ao de seu pai. Na Rússia, porém, ele pode dar um nó na cabeça: enquanto ele é empregado normalmente em discussões mais formais, amigos próximos, por vezes, se chamam apenas pelo patronímico. Para evitar confusão, o Russia Beyond bolou um resumo que vai te guiar pelo mundo mágico dos patronímicos.

Diversas nações têm cada qual seu modo de empregar o patronímico (a palavra que liga alguém ao nome de seu pai) . Em países de língua inglesa ou até mesmo no Brasil, esta referência ao pai é, em geral, opcional e usada junto ao sobrenome nas formas “Júnior” ou “Filho”.

Em outros países, porém, a coisa pode ser bem diferente. Na Islândia, por exemplo, as pessoas não têm quaisquer sobrenomes e é o patronímico que especifica de quem se trata. A cantora Björk, por exemplo, foi batizada oficialmente como Björk Guðmundsdóttir, que significa “a filha de Guðmund”.

Olá, Ivan Ivânovitch!

Já na Rússia, a esmagadora maioria das pessoas tem um patronímico (em russo, “ôtchestvo”, derivado de “otéts”, ou seja, “pai”) que funciona como sobrenome intermediário no passaporte e em todos os documentos oficiais.

É muito raro um russo não ter patronímico, e alguém que carece deste elemento no nome normalmente tem origens estrangeiras.

O patronímico, normalmente, é formado com os sufixos -ovitch-evitch ou -itch para os homens e -ievna-ovna ou -itchna para as mulheres.

Por exemplo, se um determinado Piôtr tiver uma filha Ekaterina e um filho Ivan, eles se chamarão Ekaterina Petróvna (acrescido de sobrenome) e Ivan Petróvitch (acrescido de sobrenome).

Se Iliá tivesse filhos com os mesmos nomes, eles se chamariam Ekaterina Ilinitchna (sim, superdifícil de pronunciar!) e Ivan Ilitch.

Questão de educação

De maneira geral, as pessoas tendem a se tratar oficialmente por nome e patronímico. Esta é a maneira mais educada de tratamento e, se você quiser demonstrar respeito durante uma conversa formal, deve buscar aplicá-la. Isto funciona melhor com pessoas mais velhas, porque se espera que as pessoas mais novas usem patronímicos quando falam com elas.

Por exemplo, se você estiver em um consultório médico e uma médica idosa resmungar irritada por você não ter preenchido corretamente um formulário, você pode ler suas credenciais e chamá-la usando o patronímico (por exemplo, Daria Serguêievna). Você derreterá o coração dela, principalmente se for um estudante estrangeiro com dificuldades no russo.

Querido Leonid Ilitch …

O líder soviético Leonid Ilitch Brejnev, que era chamado pelo povo, de maneira sarcástica, de

O patronímico tem raízes profundas na cultura russa. Na literatura, quase todos os protagonistas dos romances de Tolstói e Dostoiévski, assim como outros grandes autores do século 19 se referem uns aos outros com o uso de patronímicos porque são nobres e intelectuais.

Nikolai Gógol, por exemplo, deu a um de seus contos o título “História de como se zangaram Ivan Ivánovitch e Ivan Nikiforovitch” – algo excessivo até para os ouvidos dos próprios russos! Esta é uma história irônica de dois amigos que se tornam inimigos mortais devido a uma questão supérflua.  

É importante não extrapolar no uso do patronímico também, pois isto pode ser visto como sarcasmo. Durante a era soviética, as pessoas estavam cansadas com as menções obsequiosas aos líderes do partido Vladímir Ilitch Lênin, Iossif Vissarionovitch Stálin e Leonid Ilitch Brejnev. Por isso, chamar Brejnev, por exemplo, de “nosso caro Leonid Ilitch...” era uma maneira de fazer troça quanto ao líder, e é encontrada em muitas das piadas da época.

Durante uma conversa entre amigos

De maneira paradoxal, o patronímico formal tem outro lado, usado entre amigos, quando, por vezes, toma uma forma reduzida e vira quase um apelido.

Se o Ivan Petróvitch anteriormente citado estivesse relaxando em um bar com seu colega Andrêi Serguêievitch, eles provavelmebte se chamariam de “Petróvitch” e “Sergueitch” após alguns canecos de cerveja, reclamando sobre suas mulheres, trabalho e tempo. E isso não é nem um pouco formal.

Este modo de tratamento é mais usado entre homens, e as mulheres raramente se chamam por patronímicos, mesmo que sejam muito próximas. Entre as mulheres, o costume é mais associado às bábuchkas sentadas em bancos públicos e que normalmente se chamariam umas as outras por “Petróvna” ou “Andréievna”.

O mais importante sobre o patronímico talvez seja o fato de os russos saberem que os estrangeiros não estão acostumados a usá-los da maneira que eles estão. Assim, não tem nada de errado em omitir o patronímico e simplesmente chamar Ivan Petróvitch de “Ivan”. Ele não ficará ofendido.

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