O Brasil liberou uma cota para a importação de 750 mil toneladas de trigo sem impostos alfandegários para países fora do Mercosul, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (Mapa).
A medida, tomada em conformidade com um compromisso assumido pelo Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), valerá por prazo indeterminado.
A cota corresponde a cerca de 6% do consumo brasileiro em 2018.
A Rússia poderá se beneficiar da cota brasileira, mas muito dependerá da colheita e das condições de importação de grãos da Argentina, segundo especialistas russos.
A Rússia já começou a exportar grãos para o Brasil: entre setembro e outubro deste ano, quanto o imposto era de 10%, Moscou enviou dois navios com trigo ao Brasil, o primeiro, contendo 30,2 mil toneladas e o segundo, 30,8 mil toneladas.
O fornecimento anterior, de 26,2 mil toneladas, ocorreu em julho de 2018.
Segundo o diretor do centro analítico Rusagrotrans, Ígor Pavénski, o trigo russo pode facilmente competir com o argentino no mercado brasileiro, caso a colheita na Argentina se deteriore ainda mais e o país aumente seu imposto de exportação sobre grãos.
"Hoje, o trigo russo é entre 10% e 15% mais caro que o argentino. O preço no porto brasileiro é de cerca de US$ 240 a US$ 245 por tonelada, enquanto o preço do trigo argentino é de US$ 215 por tonelada", disse Pavénski à agência The Dairy News.
Assim, devido à liberação de compra de 750 mil toneladas de trigo sem impostos, o preço do trigo russo no Brasil pode cair para entre US$ 215 e US$ 220 por tonelada.
Devido à seca e ao tempo frio, as previsões de colheita de trigo na Argentina caíram de 21 milhões para 18,5 milhões de toneladas, disse Pavénski.
Além disso, o comércio de trigo também poderá ser afetado pelas eleições presidenciais na Argentina: o novo governo pode aumentar os impostos sobre a exportação de trigo e de milho de 7% para 20%, disse Pavénski à agência The DairyNews.
“Nesse caso, o trigo russo vai ter todas as chances para competir com os exportadores argentinos, cujos volumes representaram até 85% do total das importações brasileiras em 2018 e 2019", completou Pavénski.
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