O futuro incerto do Brics

Zuma/Global Look Press
Analistas da S&P afirmam que existência de grupo não faz mais sentido devido às significativas diferenças nas taxas de crescimento econômico dos países que o compõem. Mas governo russo discorda totalmente.

Os analistas da agência de classificação de risco de crédito Standard & Poor’s (S&P) não veem mais sentido no Brics, grupo que se iniciou reunindo países em desenvolvimento com rápida taxa de crescimento: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Segundo a S&P, o principal fator para reunir os cinco países em desenvolvimento deixou de existir: as diferenças nas taxas de crescimento econômico dos países se tornaram muito significativas.

“A divergência nas tendências de desenvolvimento econômico de longo prazo dos cinco países piora o valor da análise do Brics como um grupo econômico lógico”, lê-se no comunicado da S&P.

As taxas de crescimento econômico da China e da Índia, mais altas do que o esperado, contrastam seriamente com os resultados decepcionantes de Brasil, Rússia e África do Sul, de acordo com os analistas da S&P.

As estimativas da agência de notícias financeiras Bloomberg neste ano apontam que o crescimento econômico da China e da Índia será superior a 6%, enquanto as economias do Brasil, da África do Sul e da Rússia crescerão apenas cerca de 1%.

De acordo com a última previsão do FMI, as economias da China e da Índia crescerão 6,1% em 2019, enquanto na Rússia o crescimento será de 1,1%, no Brasil, de 0,9% e na África do Sul, de 0,7%.

Os interesses dos países do Brics vão divergir cada vez mais. “A Índia e a China, que sempre estiveram à frente dos outros países do grupo em taxas de crescimento econômico, tomarão uma dianteira ainda mais distante dos outros a longo prazo”, afirmou à agência Ria Nóvosti o professor Serguêi Ermolaev, da Universidade de Economia Plekhânov.

"Infelizmente, temos que concordar com a agência S&P. O termo BRIC foi introduzido pela primeira vez em 2001, e a África do Sul se juntou ao grupo mais tarde. Naquele momento, o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, sendo os maiores países em desenvolvimento, esperavam um crescimento econômico muito rápido", disse Ermolaev à Ria Nóvosti.

“Entre 2001 e 2010, o PIB do Brasil cresceu em média 3,7% ao ano, o da Rússia, 4,8%, o da Índia, 7,5%, o da China, 10,5% e o da África do Sul, 3,5%. Pode-se notar que, mesmo naquela década, os países do Brics diferiam bastante em termos da taxa de crescimento econômico”, disse.

Em previsões de longo prazo, a Índia e a China estarão significativamente à frente dos outros membros do grupo em termos de taxas de crescimento. Assim, os interesses dos países do grupo inevitavelmente divergirão cada vez mais.

“A China, por exemplo estará cada vez mais interessada na importação de matérias-primas russas, mas não vai querer a Rússia como concorrente nos mercados de produtos processados", completa Ermolaev.

Posição oficial

Na última segunda-feira (28), o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguêi Lavrov, declarou que o grupo Brics é um dos pilares da diplomacia multipolar que permite a criação de um mundo policêntrico.

"Rússia, Índia e China, esse triângulo passou não só no teste do tempo, mas também contribuiu para a formação dos Brics e, hoje, na minha opinião, o Brics é um dos pilares mais importantes do emergente sistema policêntrico e uma referência para a diplomacia multipolar", disse Lavrov.

Segundo o chanceler russo, o grupo já reúne diversos continentes e pode se expandir ainda mais.

"Falta incluir a Austrália no grupo, mas este é provavelmente nosso próximo passo", acrescentou Lavrov, com um sorriso.

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