As espiãs que sabiam demais

No Dia da Mulher, o Russia Beyond compilou uma seleção de espiãs que chacoalharam a história soviética.

A tradição russo-soviética na espionagem já é bem conhecida do mundo inteiro. Mas nem todos sabem o papel central exercido pelas mulheres nessa perigosa profissão.

No Dia Internacional da Mulher, o Russia Beyond traz para você uma seleção das cinco agentes mais celebradas da era soviética:

De rouxinol do tsar a assassina dos Brancos

Agente atuava com marido nos círculos de emigrados russos na Europa.

Acompanhada pelo compositor Serguêi Rakhmaninov e apelidada de "rouxinol de Kursk" pelo tsar Nikolai 2°, Nadejda Plevitskaia (1884-1940) passou de freira a uma das mais famosas cantoras de seu tempo.

Após emigrar, Plevitskaia casou-se com o general do tsar Nikolai Skoblin, então foragido, e, em 1931, os dois foram contratados pela inteligência soviética.

O casal passou informações sobre a situação nos círculos emigrantes na Europa ao longo de seis anos, mas sua operação mais ilustre foi o sequestro, em Paris, do general Evguêni Miller, líder do Exército Branco, em 1937.

Plevitskaia e Skoblin atraíram o general para um encontro com diplomatas alemães, na realidade, outros agentes disfarçados.

Miller, porém, deixou uma carta antes de partir para o encontro, e os espiões foram desmascarados.

Skoblin fugiu para a Espanha, onde morreu em seguida, e Plevitskaia foi presa, julgada e condenada a 20 anos de trabalhos forçados. A espiã morreu na prisão, na cidade francesa de Rennes, em 1940. 

Beleza que atraía a Alemanha ao salão

Celebrada como escritora de histórias de detetives para crianças, Zoia só teve sua identidade revelada em 1990.

No entre guerras, em 1929, a jovem Zoia Voskressenskaia (1907-1992), aos 22 anos de idade, tornava-se funcionária do seção estrangeira da Administração Unificada Estatal Política (OGPU, na sigla em russo, "Obedinionnoe gossudarstvennoe polititcheskoe upravlenie).

Logo propuseram à belezura que viajasse a Genebra para lá tornar-se amante de um general alemão. Mais tarde, ela relembraria o episódio: "Eu respondi: 'Está bem. Eu vou, torno-me sua amante, já que sem isso é impossível, e depois me mato'. Não me propuseram mais tarefas do gênero".

Em 1930, Zoia trabalhou na Manchúria, na Letônia, na Alemanha e na Áustria. No início de junho de 1941, como disfarçada de funcionária da VOKS (da sigla em russo, Sociedade da União para Relações Culturais com o Exterior), a informante esteve presente em recepções da embaixada alemã, onde foi convidada a dançar valsas com o embaixador, conde von der Schulenburg.

Então, os retângulos claros deixados nas paredes da sala ao lado, marcas de quadros que foram retirados, chamaram a atenção de Zoia, que ainda viu uma pilha de malas pela porta entreaberta.

Ela comunicou a seus superiores que os alemães estavam preparando uma evacuação emergencial da embaixada, mas suas mensagens foram ignoradas.

Zoia se aposentou em 1955, quando passou a escrever histórias de detetives para crianças, carreira em que teve muito sucesso. Mas apenas em 1990 sua identidade de espiã foi revelada, quando o chefe da KGB, Vladímir Kriutchkov, divulgou suas atividades em uma entrevista.

O último amor de Einstein

Mulher do escultor Serguêi Konionkov, Margarita recebeu cartas apaixonadas do físico alemão em Nova York. Einstein recebe Margarita em sua casa em Princeton, em 1935.

O renomado escultor Serguêi Konionkov chegou a Nova York com a mulher, Margarita Koniônkova (1895-1980), em 1923 para participar de uma exposição de arte soviética. A estadia se estendeu por 22 anos: o "Rodin russo" criava, enquanto Margarita organizava vernissages em seu estúdio em Greenwitch Village com todos os grandes políticos americanos e suas mulheres, era recebida na Casa Branca e conhecida da primeira-dama Eleonora Roosevelt.

Seu principal objetivo, porém, eram os cientistas trabalhando na criação de armas nucleares: ela era amiga do "pai da bomba atômica", Robert Oppenheimer, e, em 1935, conheceu Albert Einstein. Ao se analisarem as cartas apaixonadas do cientista, depreende-se que Margarita foi seu último amor.

Em serviço, a soviética conseguiu aliciar alguns físicos nucleares americanos. Também sabe-se que, a pedido seu, Einstein encontrou-se pessoalmente com um agente residente em Nova York.

Em 1945, os Konionkov foram levados de volta à Rússia, onde ela morreu em Moscou, em 1980.

A farsa que virou realidade

Elena foi incumbida de representar o papel de mulher do embaixador enquanto recolhia informações.

No final dos anos 1940, na estação de trem de Varsóvia ocupada, ocorre a seguinte cena: uma mulher, ao sair do vagão, joga-se nos braços de um homem com um buquê de flores.

O homem é Ivan Vassíliev, que dirige a embaixada da União Soviética, e ele encontra sua mulher, Maria pela primeira vez na vida - já que Elena Modrjinskaia (1910-1982) apenas desempenhava o papel de esposa de Piotr Gudimov, que também era um agente.

A principal tarefa do casal era esclarecer os planos da Alemanha em relação à URSS. Mas, em 22 de junho de 1941, os dois foram presos - a Gestapo começou a desconfiar do casal 20.   

Nos interrogatórios, porém, eles não forneceram quaisquer informações, e, como outros diplomatas, acabaram trocados por alemães em poder de Moscou.

Mais tarde, na terra natal, eles trouxeram os papeis que representavam à vida real, casando-se de verdade.

De Hitler e Trótski a uma rede no Brasil

Encarregada de atentar contra Hitler e salvar assassino de Trótski, Anna acabou no Brasil, onde organizou rede de agentes.

No segundo semestre de 1941, o Grupo de Tarefas Especiais do Comissariado do Povo para Assuntos Internos começou a preparar agentes para a possibilidade de uma tomada de Moscou pelos fascistas, entre eles a jovem, então com 23 anos, Anna Filonenko-Kamaeva (1918-1998).

Anna foi incumbida de um papel especial: ela tinha que executar um atentado contra Hitler.

Enquanto se defendia Moscou, Kamaeva foi jogada à retaguarda alemã para organizar a subversão.

Em outubro de 1944, ela foi enviada ao México, onde preparou a operação para libertar da prisão o assassino de Trótski, o espanhol Ramón Mercader, que atuava como agente da URSS. No último segundo, porém, a operação foi cancelada - e Mercader cumpriu seus 20 anos de prisão até  1961.

Após a Segunda Guerra, Kamaeva casou-se com o agente militar Mikhail Filonenko, com quem desempenhou tarefas por 12 anos no exterior: inicialmente, na Tchecoslováquia, depois na China, e, em 1955, no Brasil, onde montaram uma rede de agentes. 

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