Quando Putin era agente na Alemanha Oriental

Muito antes de se tornar governador de São Petersburgo ou presidente da Rússia, um agente da KGB chamado Vladimir Putin passou 5 anos em Dresden, na Alemanha Oriental. Conheça segredos dessa época.

Angelikastraße 4, onde ficava a antiga sede da KGB em Dresden (Foto: Brücke-Osteuropa)Angelikastraße 4, onde ficava a antiga sede da KGB em Dresden (Foto: Brücke-Osteuropa)

“Não existe isso de ‘ex-agente de inteligência’”, diz um provérbio russo comprovado por Vladimir Putin, que trabalhou para o serviço de inteligência soviético, a KGB, de 1975 a 1991. Mas ele não se gaba de sua carreira no KGB, que inclui os passados na residência da KGB, na República Democrática Alemã (RDA), e quase nada é conhecido sobre suas operações ou os agentes estrangeiros com os quais atuou.

Trabalho ‘de rotina’

Putin, aos 33 anos, era um agente um tanto jovem quando foi selecionado para a Alemanha Oriental por seus superiores na KGB. Naquela época, ele já estava casado com sua (hoje ex) esposa Liudmila, com quem tinha um filha, Maria (sua filha menor, Ekaterina, nasceu em Dresden em 1986). Depois de completar seu treinamento na Academia de Inteligência Estrangeira em Moscou, Putin, que fala alemão fluente, se viu diante de duas opções: aguardar vários anos para ser enviado à Alemanha Ocidental, ou seguir para o Oriente de imediato. A escolha, todos nós já sabemos.

Em um livro de entrevistas, “Primeira Pessoa”, Putin lembra que os agentes da KGB tinham interesse ​​em reunir topo tipo de informação relacionada com seu adversário estratégico – referindo-se, especificamente, à Otan. Nessa mesma obra, ele chama seu trabalho de “rotineiro” e lista suas atividades mais comuns: recrutar informantes, reunir as informações coletadas e transferi-las a Moscou.

Em 2017, durante uma entrevista ao canal estatal Rossiya 24, o presidente confessou ainda que seu trabalho no exterior estava intimamente relacionado à inteligência ilegal. Uma vez que era oficial legítimo da KGB, pressupõe-se que ele se comunicava com residentes ilegais e os ajudava a manter contato com “o centro”.

Já como presidente da Rússia, Putin parece recordar seus anos na Alemanha com carinho, sem se esquecer de seus antigos colegas. Este ano, por exemplo, visitou e felicitou pessoalmente seu ex-chefe, Lazar Moiseev, por ocasião de seus 90 anos.

Pútin durante serviço na Alemanha Oriental (Foto: Www.putin.life)Putin durante serviço na Alemanha Oriental (Foto: Www.putin.life)

12 quilos a mais (e jantar com Stasi)

A ex-mulher de Putin, Liudmila, relatou em uma entrevista que sua família ficou impressionada com a limpeza e a organização alemãs. Liudmila contou que o então marido chegou a ganhar cerca de 12 quilos “graças a toda aquela cerveja alemã que consumia para relaxar no final de dias difíceis trabalhando para a KGB”.  

(Depois de retornar à Rússia, Putin perdeu esses quilinhos a mais – possivelmente, também, porque a cerveja russa na década de 1990 não era lá essas coisas.)

O casal costumava jantar em família, convidando colegas de trabalho de Putin e também alemães, como agentes da Stasi (principal organização de polícia secreta e inteligência da República Democrática Alemã). Como a União Soviética e a RDA eram aliadas, policiais secretos da Alemanha Oriental viviam porta a porta com Putin.

Segundo Putin, a família não apreciava uma vida luxuosa, e só conseguiram economizar dinheiro para comprar um carro – o que nos países socialistas da época era uma grande coisa. Liudmila sugeriu, certa vez, que os oficiais da Stasi pareciam receber um salário maior que o de seus homólogos da KGB.

Multidão de alemães raivosos

Mas as coisas mudaram para a Stasi em 1989, com a queda do Muro de Berlim e o início do processo de reunificação alemã. Em 5 de dezembro, Putin viu a multidão de cidadãos enfurecidos atacarem o escritório local da organização, localizado na mesma rua da sede da KGB, e percebeu que este também estava prestes a ser invadido. Ele tentou então entrar em contato com o escritório da KGB em Moscou, mas ninguém respondeu – foi então que decidiu tomar uma ação decisiva por conta própria.

Como recorda Siegfrid Dannat, que fazia parte da multidão alemã, um oficial russo saiu do prédio e aproximou-se dos portões fechados. Ele pediu que as pessoas se afastassem do prédio porque era território soviético, e os guardas armados estavam prontos para disparar se alguém tentasse entrar. Segundo Dannat, o ‘tal oficial’ foi educado e se comunicou bem em alemão. Suas palavras acalmaram a multidão (ninguém queria sangue derramado), que deixou a sede da KGB sem causar tumulto.

Putin, obviamente o ‘tal oficial’, nem teve muito tempo para apreciar o seu triunfo. Por vários dias, ele e seus colegas de trabalho destruíram todos os materiais relacionados com a atividade da KGB na Alemanha Oriental. Os documentos mais valiosos foram transferidos para Moscou, e todo o resto foi queimado. “Nós queimávamos aquele material dia e noite”, lembra Putin. “Nós queimamos tanto papel que o forno até quebrou.” Logo depois, o então agente e família deixaram Dresden. A missão havia chegado ao fim, assim como a presença da KGB na Alemanha.

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