O que está acontecendo na pintura de Konstantin Makóvski “Uma Festa de Casamento Boyar”?

Hillwood Estate, Museum & Gardens
O artista favorito de Alexandre 2º vendeu esta pintura por nada menos que 60 mil rublos (o que daria cerca de US$ 850.000 hoje). Vamos descobrir do que se trata e o que está acontecendo nela.

Quadros vivos

“Exposição de noivas do tsar Aleksêi Mikháilovitch (Aleixo da Rússia)”, 1886, Konstantin Makóvski.

Konstantin Makóvski (ou Makovsky) era um mestre do gênero histórico – suas pinturas com cenas da vida dos boiardos (tradução aportuguesada do termo “boyar”, que se referia a membros do mais alto escalão da nobreza) eram altamente valorizadas na Rússia e no exterior.

Em 1899, na Exposição Mundial de Paris, suas obras criaram um verdadeiro frisson e foram premiadas com a Medalha de Ouro. Pela pintura ‘A Morte de Ivan, o Terrível’, o artista recebeu a ‘Legião de Honra’.

Konstantin Makóvski

Makóvski também colecionava antiguidades. Ele comprava tudo o que gostava ou podia usar como adereços enquanto trabalhava em suas pinturas: roupas, joias, pratos, tecidos e utensílios. Também os usava para criar os chamados “quadros vivos”, uma forma de entretenimento da moda na época. Estes eram encenados em celebrações da corte, em teatros, salões da moda e até mesmo em teatros de rua. Para isso, a comitiva de uma tela específica era cuidadosamente reproduzida, e os convidados, vestidos com trajes apropriados, tomavam seus lugares “no quadro”.

O filho do artista, Serguêi, afirmou que seu pai “realmente imaginava uma pintura histórica como uma cena congelada, representada por atores de aparência adequada nas roupas da época”. Curiosamente, os “quadros vivos” às vezes davam origem a pinturas.

Foi exatamente isso que aconteceu com a ‘Uma Festa de Casamento Boyar’. Esse tema era tão popular que uma “pintura viva” foi apresentada especialmente para o imperador Alexandre 3º na casa da princesa Anna Narichkina. E eles continuaram a reproduzi-la mesmo depois de a imagem ser pintada e vendida. Por exemplo, a “imagem viva” da festa foi capturada pelo fotógrafo Andrei Karelin, com quem o artista estava familiarizado.

Boiardos, não se mexam

Konstantin Makóvski também descreveu uma das cerimônias mais solenes – o casamento de representantes de duas famílias de boiardos. Em documentos históricos, foi descrito da seguinte forma: “E o tsar e a tsarina sentam-se às mesas, e os boiardos e os membros do casamento em suas mesas, e eles começam a […] comer e beber até que o terceiro prato, um cisne, seja trazido e colocado sobre a mesa.”

Tudo na pintura aponta para o luxo da celebração: a pintura das câmaras, os homens em caftãs de brocado, os kokôchniks das mulheres enfeitados com pedras preciosas – a pintura está literalmente irradiando um brilho dourado.

O cisne assado, trazido por um servo, indica que a festa está chegando ao fim e os recém-casados ​​irão em breve para o quarto. O alimento no prato diante dos recém-casados ​​também é testemunha disso: de acordo com a tradição, eles não comiam no casamento, mas apenas se fortaleciam com aves assadas. A noiva está claramente envergonhada e a casamenteira parece empurrá-la de leve em direção ao noivo para que ela responda ao beijo.

Nas imagens dos recém-casados, o artista retratou a si mesmo e sua segunda esposa, Iúlia. E o menino curioso olhando para os recém-casados ​​foi inspirado em seu filho, Serioja.

Entre na tela

No inverno de 1883, a pintura foi apresentada na casa de leilões Kononov em São Petersburgo e depois na Sociedade de Amantes da Arte de Moscou. Makóvski pensou cuidadosamente na cenografia da exposição: os espectadores primeiro passavam por duas salas escuras e entravam em um salão iluminado por lâmpadas a gás. Graças ao sistema de iluminação especial, os visitantes sentiam como se estivessem entrando na pintura.

Em 1885, o artista recebeu uma medalha honorária pela “Festa de Casamento Boyar” na Exposição Universal de Antuérpia.

O tsar não tinha dinheiro para isso

O famoso filantropo Pável Tretiakov queria comprar a pintura, mas a quantia de 20.000 rublos parecia impensável para ele. Alexandre 3º também estava de olho, mas uma oferta do joalheiro norte-americano Charles William Schumann acabou sendo a mais interessante. Sem hesitar, ele pagou 15.000 dólares, o que equivalia a 60.000 mil rublos na época, pela obra de Makóvski.

Por muito tempo, a tela ficou em exibição na vitrine da loja de Schumann em Nova York. Aqueles que queriam vê-la de perto pagavam uma taxa de entrada e, ao longo de anos, foram arrecadados US$ 7.000. Schumann doou o dinheiro para caridade. Enquanto isso, “Uma Festa de Casamento Boyar” estampava cartões postais e caixas de chocolate.

No século 2o, a pintura mudou de mãos diversas vezes até acabar na coleção de Marjorie Merriweather Post no final da década de 1960. Junto com o restante de sua coleção de arte russa, a obra-prima de Makóvski está abrigada no Museu Hillwood em Washington, a capital dos Estados Unidos.

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