Kukriniksi, o trio de artistas da propaganda soviética que acabaram populares no mundo todo

Retrato dos Kukriniksi, por Pável Korin, 1958

Retrato dos Kukriniksi, por Pável Korin, 1958

Sputnik
Na URSS, as caricaturas políticas eram incrivelmente populares. Esses três artistas se tornaram verdadeiras estrelas do gênero. Kuprianov, Krilov e Sokolov trabalharam juntos por mais de 60 anos e se tornaram mundialmente famosos por seus cartazes anti-Hitler e esboços dos julgamentos de Nurembergue.

O ano de 2024 marca o 100º aniversário do trio criativo mais famoso da história russa. Mas os artistas Mikhail Kuprianov, Porfíri Krilov e Nikolai Sokolov são conhecidos não apenas na Rússia, como também no exterior. Os seus cartazes e caricaturas políticas se tornaram clássicos do gênero.

Kuprianov e Krilov se conheceram no início da década de 1920 quando eram estudantes das Vkhutemas (Oficinas Superiores de Arte e Técnica, na sigla em russo), a principal escola artística e tecnológica da URSS na época. Juntos, eles começaram a trabalhar em um jornal local, assinando os cartazes com a sigla “KuKri”, criada a partir das primeiras letras de seus sobrenomes.

Da esquerda para a direita: Mikhail Kuprianov (1903-1991), Porfíri Krilov (1902-1990) e Nikolai Sokolov (1903-2000)

Em 1924, Nikolai Sokolov, que já tinha o pseudônimo criativo Niks, se uniu ao dueto. Assim nasceu a “Kukriniksi”, ou seja, a combinação dos nomes dos três caricaturistas.

Em busca de métodos criativos

Os jovens artistas rapidamente definiram o seu próprio estilo e começaram a ser publicados nos periódicos soviéticos. O trio desenhava caricaturas para o principal jornal da URSS, o ‘Pravda’, bem como para as revistas satíricas ‘Smekhach’ e ‘Krokodil’. Na década de 1920, as caricaturas geralmente tinham temas literários e cotidianos e esboços de paródias de pessoas famosas.

Caricatura de Serguêi Eisenstein

Os Kukriniksi também colaboraram com teatros, trabalhando como figurinistas e cenógrafos. Em meados da década de 1930, sua série de caricaturas dos diretores Konstantin Stanislávski e Vsevolod Meyerhold, do compositor Serguêi Prokofiev e dos artistas Vassíli Katchalov e Ivan Moskvin, foram executadas em porcelana — e receberam uma medalha de ouro na Exposição Internacional de Arte e e Técnicas Aplicadas de 1937, em Paris.

O trio também trabalhou com ilustrações de livros, criando desenhos para as obras satíricas de Nikolai Gógol, Mikhail Saltikov-Schedrín e do principal escritor soviético, Maksim Górki.

Caricatura política

Foi Górki quem sugeriu que o humor cáustico dos Kukriniksi deveria ter mais conotações políticas e os aconselhou a “olhar com mais frequência para a Europa, para o exterior, para além de todas as nossas fronteiras”.

A partir do início da década de 1930, o nome Kukriniksi se tornou praticamente sinônimo de caricatura política na URSS.

Suas principais técnicas eram o grotesco e a hipérbole. Eles usavam metáforas vívidas, dotavam objetos inanimados de características humanas e acrescentavam elementos animais a personalidades famosas.

Os três artistas trabalharam para a propaganda oficial, denunciando os rivais políticos de Stálin e os inimigos da revolução.

“Vamos destruir os culaques [termo pejorativo para se referir a camponeses relativamente ricos do Império Russo] como classe”, 1930

A sátira dos artistas também era dirigida à política internacional. Os Kukriniksi foram particularmente ferozes em seus ataques aos nazistas durante sua ascensão ao poder e na tentativa da comunidade internacional de forjar alianças com eles.

“Aliança Anglo-Italiana”, 1938-1939
“Conversa de coração para coração”, 1937

Cartazes antiguerra e antifascistas

O verdadeiro auge da fama ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Na noite de 22 de junho de 1941, quando a Alemanha atacou a URSS, os Kukriniksi criaram um esboço do cartaz “Vamos derrotar e destruir impiedosamente o inimigo!”, que em apenas dois dias apareceu nas ruas de diversas cidades soviéticas.

“Vamos derrotar e destruir impiedosamente o inimigo!

As obras dos Kukriniksi, segundo o governo soviético, deveriam dar suporte ao psicológico dos cidadãos soviéticos e à moral dos soldados.

“Lutamos bem, esfaqueamos desesperadamente, netos de Suvorov, filhos de Tchapaev!”, 1941
“Dívida boa é dívida paga”, 1941

Ao longo da guerra, os artistas produziram dezenas de cartazes e caricaturas de Hitler, da liderança alemã, bem como de Mussolini e outros aliados dos nazistas.

“Conquistadores amarrados pela amizade”, 1941

Eles também desenharam cartazes para os soldados alemães com apelos para se renderem. O poder dessas obras era tão grande que os nomes dos três artistas apareceram até mesmo na lista de fuzilamento de Hitler. Depois da guerra, os Kukriniksi, juntamente com o poeta Samuil Marshak, publicaram livros para crianças sobre a guerra chamados “Kaput” e “Lição de História”.

Julgamentos de Nurembergue

A fama e a autoridade dos Kukriniksi cresceram tanto depois da guerra que os artistas foram enviados como jornalistas aos julgamentos de Nurembergue.

Porfíri Krilov “Nurembergue. Tribuna”, 1945

Os esboços do julgamento feitos pelos artistas soviéticos foram imediatamente publicados em jornais de todo o mundo. Um dos oficiais americanos que trabalhava no tribunal teria supostamente oferecido um lugar para os artistas mais próximo à tribuna em troca de um autógrafo.

Após o julgamento, os Kukriniksi pintaram um grande quadro intitulado “Acusação. Os Julgamentos de Nurembergue”.

“Acusação. Os Julgamentos de Nurembergue”, 1967

Nas décadas de 1960 e 1970, os artistas voltaram à propaganda soviética e começaram a desenhar inúmeros cartazes dedicados à Guerra Fria.

“Otan. Corte de cabelo com máquina de cortar ´Pentágono´”, 1977
“A Estátua da Liberdade Confiável”, 1953

“Eles sempre trabalhavam juntos. Literalmente. Durante os 60 anos eles nunca brigaram”, escreveu Mikhail Sokolov, filho de Nikolai Sokolov. Os artistas também quase moravam juntos. Todos os três receberam apartamentos no mesmo prédio na rua Chkalovskaya, em Moscou.

“O Fim”, 1963

Após receberem a tarefa de desenhar um cartaz sobre determinado tema, eles seguiam em direções diferentes e esboçavam. Mais tarde, analisavam juntos o que havia saído e combinavam as melhores ideias em um único trabalho. Quase todas as obras foram pintadas juntos, cada autor era responsável por uma determinada parte do resultado.

“Fuga dos nazistas de Nôvgorod”, 1944-1946

Eles também trabalharam separadamente em estilo realista, pintaram paisagens, retratos e cenas urbanas. Os artistas não assinavam essas obras com o pseudônimo coletivo, mas com seus próprios nomes.

“Moscou. Chuva. Rua Gorky, década de 1950”, Mikhail Kuprianov
“Retrato de Lena Kalatchova”, Porfíri Krilov
“Moscou em outubro de 1941”, Nikolai Sokolov

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