A estreia do filme ‘Encouraçado Potemkin’ aconteceu em 18 de janeiro de 1926 no Eletroteatro Estatal de Moscou (atual Cinema Khudozhestvenny). Na ocasião, a fachada do edifício foi decorada com um modelo de navio de guerra e os funcionários da bilheteria estavam vestidos com camisas listradas de marinheiro. O público, surpreso, ainda não sabia que estava presente em um acontecimento histórico: o filme do então jovem diretor russo Serguêi Eisenstein mudaria o cinema mundial para sempre.
No verão de 1905, uma revolta eclodiu no navio de guerra Príncipe Potemkin-Tavrichesky. Os marinheiros se recusaram a comer borsch que havia sido preparada com carne vencida. O capitão e comandante do navio, Evguêni Golikov, os ameaçou e chamou a guarda. No meio da confusão, pessoas aleatórias foram detidas. A situação piorou quando uma lona foi trazida para o convés — os marinheiros pensaram que começariam as execuções e logo pegaram suas armas e munições. Um motim eclodiu na sequência, durante o qual os insurgentes mataram o comandante e os oficiais. Os sobreviventes fugiram do navio ou foram presos. A tripulação declarou o navio de guerra “território da Rússia livre” e seguiu para Odessa, onde uma greve geral estava acontecendo. A rebelião no navio de guerra se tornou a primeira revolta militar na Rússia no século 20 e um dos principais eventos da revolução de 1905-1907. Foi essa história que serviu de base para o filme.
Originalmente, Eisenstein deveria fazer um filme intitulado ‘1905’ para celebrar o 20º aniversário da primeira revolução na Rússia. No entanto, por conta dos prazos apertados para a entrega das filmagens, o cineasta decidiu focar em apenas um episódio – a revolta no navio de guerra.
A equipe de filmagem trabalhou em Odessa e Sevastopol, e os episódios da revolta foram filmados no navio de guerra 'Doze Apóstolos' e no cruzador 'Comintern’ — o verdadeiro ‘Potemkin’ estava muito dilapidado a essa altura.
As filmagens no primeiro navio foram estressantes: o navio de guerra estava sendo usado como uma instalação de armazenamento de minas subaquáticas na época. A embarcação foi cuidadosamente atracada com sua proa voltada para o mar para dar a impressão de que estava longe da costa e, de acordo com as imagens sobreviventes, isso conferia a ela a aparência do ‘Potemkin’. O diretor relembrou: “O trabalho é realizado sob o símbolo de minas. Não pode fumar. Não pode correr. Mesmo ficar no convés sem necessidade especial... Não foi em vão que minas se agitavam e reviraram na barriga do antigo navio de guerra e estremeciam com o rugido dos eventos recriados da história que se passavam em seus conveses…”
Os filmes de Eisenstein se distinguem por seu realismo e autenticidade excepcionais. Parece até que este é um documentário, não um longa-metragem. É por isso que ‘Encouraçado Potemkin’ entrou para a história do cinema mundial como o primeiro ‘mocumentário’ do mundo.
‘O Encouraçado Potemkin’ tem várias versões do acompanhamento musical. Originalmente, foi exibido com fragmentos das obras de Beethoven. No entanto, para distribuição na Alemanha, a música foi escrita pelo compositor Edmund Meisel — que usou melodias das canções ‘Dubinushka’, ‘Varshavyanka’ e ‘A Canção dos Mártires ’, bem como ruídos e rangidos.
O filme foi relançado em 1950 com músicas de Nikolai Kryukov e, em 1976, com fragmentos de sinfonias de Dmítri Chostakovitch.
Para criar uma série visual dinâmica, Eisenstein usou plataformas móveis; o operador de câmera Eduard Tisse literalmente “voava”.
O filme foi editado conforme o método do próprio diretor: ele dividiu a filmagem em partes e então as combinou de forma a maximizar o efeito dramático e a intensidade das emoções. Também foram aplicados efeitos especiais – por exemplo, leões de pedra “acordam” no filme.
Esta obra em preto e branco termina com um plano que apresenta uma bandeira revolucionária vermelha voando sobre o navio amotinado. Para obter tal efeito, os autores coloriram manualmente o rolo de filme.
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