O ano de 2024 marca o 100º aniversário do trio criativo mais famoso da história russa. Mas os artistas Mikhail Kuprianov, Porfíri Krilov e Nikolai Sokolov são conhecidos não apenas na Rússia, como também no exterior. Os seus cartazes e caricaturas políticas se tornaram clássicos do gênero.
Kuprianov e Krilov se conheceram no início da década de 1920 quando eram estudantes das Vkhutemas (Oficinas Superiores de Arte e Técnica, na sigla em russo), a principal escola artística e tecnológica da URSS na época. Juntos, eles começaram a trabalhar em um jornal local, assinando os cartazes com a sigla “KuKri”, criada a partir das primeiras letras de seus sobrenomes.
Em 1924, Nikolai Sokolov, que já tinha o pseudônimo criativo Niks, se uniu ao dueto. Assim nasceu a “Kukriniksi”, ou seja, a combinação dos nomes dos três caricaturistas.
Em busca de métodos criativos
Os jovens artistas rapidamente definiram o seu próprio estilo e começaram a ser publicados nos periódicos soviéticos. O trio desenhava caricaturas para o principal jornal da URSS, o ‘Pravda’, bem como para as revistas satíricas ‘Smekhach’ e ‘Krokodil’. Na década de 1920, as caricaturas geralmente tinham temas literários e cotidianos e esboços de paródias de pessoas famosas.
Os Kukriniksi também colaboraram com teatros, trabalhando como figurinistas e cenógrafos. Em meados da década de 1930, sua série de caricaturas dos diretores Konstantin Stanislávski e Vsevolod Meyerhold, do compositor Serguêi Prokofiev e dos artistas Vassíli Katchalov e Ivan Moskvin, foram executadas em porcelana — e receberam uma medalha de ouro na Exposição Internacional de Arte e e Técnicas Aplicadas de 1937, em Paris.
O trio também trabalhou com ilustrações de livros, criando desenhos para as obras satíricas de Nikolai Gógol, Mikhail Saltikov-Schedrín e do principal escritor soviético, Maksim Górki.
Caricatura política
Foi Górki quem sugeriu que o humor cáustico dos Kukriniksi deveria ter mais conotações políticas e os aconselhou a “olhar com mais frequência para a Europa, para o exterior, para além de todas as nossas fronteiras”.
A partir do início da década de 1930, o nome Kukriniksi se tornou praticamente sinônimo de caricatura política na URSS.
Suas principais técnicas eram o grotesco e a hipérbole. Eles usavam metáforas vívidas, dotavam objetos inanimados de características humanas e acrescentavam elementos animais a personalidades famosas.
Os três artistas trabalharam para a propaganda oficial, denunciando os rivais políticos de Stálin e os inimigos da revolução.
A sátira dos artistas também era dirigida à política internacional. Os Kukriniksi foram particularmente ferozes em seus ataques aos nazistas durante sua ascensão ao poder e na tentativa da comunidade internacional de forjar alianças com eles.
Cartazes antiguerra e antifascistas
O verdadeiro auge da fama ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Na noite de 22 de junho de 1941, quando a Alemanha atacou a URSS, os Kukriniksi criaram um esboço do cartaz “Vamos derrotar e destruir impiedosamente o inimigo!”, que em apenas dois dias apareceu nas ruas de diversas cidades soviéticas.
As obras dos Kukriniksi, segundo o governo soviético, deveriam dar suporte ao psicológico dos cidadãos soviéticos e à moral dos soldados.
Ao longo da guerra, os artistas produziram dezenas de cartazes e caricaturas de Hitler, da liderança alemã, bem como de Mussolini e outros aliados dos nazistas.
Eles também desenharam cartazes para os soldados alemães com apelos para se renderem. O poder dessas obras era tão grande que os nomes dos três artistas apareceram até mesmo na lista de fuzilamento de Hitler. Depois da guerra, os Kukriniksi, juntamente com o poeta Samuil Marshak, publicaram livros para crianças sobre a guerra chamados “Kaput” e “Lição de História”.
Julgamentos de Nurembergue
A fama e a autoridade dos Kukriniksi cresceram tanto depois da guerra que os artistas foram enviados como jornalistas aos julgamentos de Nurembergue.
Os esboços do julgamento feitos pelos artistas soviéticos foram imediatamente publicados em jornais de todo o mundo. Um dos oficiais americanos que trabalhava no tribunal teria supostamente oferecido um lugar para os artistas mais próximo à tribuna em troca de um autógrafo.
Após o julgamento, os Kukriniksi pintaram um grande quadro intitulado “Acusação. Os Julgamentos de Nurembergue”.
Nas décadas de 1960 e 1970, os artistas voltaram à propaganda soviética e começaram a desenhar inúmeros cartazes dedicados à Guerra Fria.
“Eles sempre trabalhavam juntos. Literalmente. Durante os 60 anos eles nunca brigaram”, escreveu Mikhail Sokolov, filho de Nikolai Sokolov. Os artistas também quase moravam juntos. Todos os três receberam apartamentos no mesmo prédio na rua Chkalovskaya, em Moscou.
Após receberem a tarefa de desenhar um cartaz sobre determinado tema, eles seguiam em direções diferentes e esboçavam. Mais tarde, analisavam juntos o que havia saído e combinavam as melhores ideias em um único trabalho. Quase todas as obras foram pintadas juntos, cada autor era responsável por uma determinada parte do resultado.
Eles também trabalharam separadamente em estilo realista, pintaram paisagens, retratos e cenas urbanas. Os artistas não assinavam essas obras com o pseudônimo coletivo, mas com seus próprios nomes.
LEIA TAMBÉM: 10 pinturas impressionistas que mostram a vida soviética em cor de rosa
O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br