"Anna Karenina".
PLANET PHOTOS/Global Look PressCena de "As doze cadeiras".
Mark Zakharov/Ekran, 1976Ilf e Petrov foram, provavelmente, os mais engraçados escritores soviéticos. Muitas de suas frases (como o imortal aforismo: "Salvar os afogados é um trabalho para os braços dos próprios afogados") tornaram-se parte do léxico nacional russo.
Mas sua verdadeira glória veio com a personagem satírica Ostap Bender: os dois conseguiram convencer os censores de que o charmoso vigarista de seus romances "As Doze Cadeiras" e "O Bezerro de Ouro" era uma personagem negativa do velho mundo burguês despedaçado pela Revolução de Outubro de 1917. No entanto, o leitor entendia e amava Bender por sua mente afiada, desenvoltura e nobreza interior.
Pôster de "Treze Cadeiras", com Sharon Tate.
Nicolas Gessner, Luciano Lucignani/CEF, 1969O romance "As Doze Сadeiras" foi adaptado para as telas pelo menos 20 vezes (na URSS, nos EUA, na Alemanha, na Austrália e até no Brasil, com as “As Treze Cadeiras”, que contava com Oscarito no elenco).
Bender também foi interpretado por Andrêi Mironov, Tobias Moretti (astro da série de TV "Comissário Rex"), Frank Langella e até mesmo por uma moça, Sharon Tate – a famosa atriz assassinada pela família Manson.
Cena de "Aelita".
Iakov Protazanov/Mezhrabpom-Rus, 1924Aleksêi Tolstói, o distante parente de Lev Tolstói que foi apelidado de "conde soviético", escreveu obras canônicas em vários gêneros durante a URSS e gerou um interesse frequente por parte dos cineastas de seu país.
Tolstói escreveu romances históricos épicos, como “Pedro, o Grande” e “O Caminho dos Tormentos”, sobre a Guerra Civil. Além disso, ele foi um dos primeiros autores populares de ficção científica, e o primeiro filme soviético de ficção científica, "Aelita", é uma adaptação de um romance seu — nesse gênero, "A Maquina Infernal do Engenheiro Gárin" também foi adaptado duas vezes.
Tolstói também escreveu literatura infantil e seu conto de fadas "A Chavezinha de Ouro" (uma versão livre de "Pinóquio") bateu o recorde de adaptações, tanto com atores, como de animações.
Cena de "Coração de Cachorro".
Vladímir Bortko/Lenfilm, 1988Mikhail Bulgákov foi um mestre da ficção científica e a adaptação de seu livro “Coração de Cachorro” (1988) para a tv trata de um cientista que conseguiu transformar um vira-lata em humano e goza de sucesso entre os russos até hoje.
O filme de Leonid Gaidai "Ivan Vassilievitch muda de profissão" (baseado em uma peça de Bulgákov) é uma das comédias russas mais populares da história. Além disso, a prosa histórica de Bulgákov sobre a Guerra Civil é adaptada com frequência, tanto com base em seu romance "Guarda Branca", como na peça "Os Dias dos Turbin".
Mas o maior interesse entre os cineastas é gerado por seu romance místico “O Mestre e Margarida”, sobre uma visita do diabo a Moscou. Entretanto, até hoje não há nenhuma adaptação cinematográfica que agrade a todos - os cineastas culpam o próprio texto, dizendo que ele é "amaldiçoado", mas invariavelmente voltam a ele.
Recentemente, foi lançada a quinta tentativa de adaptação da obra, com August Diehl (de "Bastardos Inglórios") no papel de Woland.
Cena de "Tio Stiôpa".
Ivan Aksentchuk/Soiuzmultfilm, 1964Mikhalkov foi o autor do texto dos hinos soviético e russo e um escritor extremamente ativo. Ele escreveu principalmente obras infantis e adaptou muitas obras adultas para o público infantil.
Por exemplo, com base em uma peça escrita por ele foi feito um filme intitulado “Querido menino” (1974), sobre a epidemia de sequestros no Ocidente de que foi vítima o filho de um diplomata soviético.
Mas ele entrou no top 10 dos escritores mais adaptados ao cinema graças à animação - dezenas de filmes de animação foram feitos com base em seus contos e poemas. O mais popular deles é sobre o Tio Stiôpa, um policial soviético exemplar.
Cena de "Pais e Filhos".
Viatcheslav Nikíforov/Belarusfilm, 1983Foi com Turguêniev que se iniciou de fato o reconhecimento da literatura russa no Ocidente. Turguêniev viveu na Europa por muito tempo, conviveu com Gustave Flaubert e George Sand e era bastante popular como escritor, mas ainda foi responsável por promover seus colegas escritores.
Embora tenha sido eclipsado por Tolstói e Dostoiévski, Turguêniev continua a ser um dos autores mais populares na Rússia e no exterior. Seus romances e contos são regularmente adaptados para as telas.
As histórias incluem, por exemplo, "Mumu" (4 adaptações), sobre a amizade entre um cachorro e o zelador surdo-mudo Guerássim, e o romance “Pais e Filhos” (13 adaptações), sobre o eterno conflito geracional.
Cena de "A Rainha de Espadas".
Thorold Dickinson/De Grunwald Productions, 1949Púchkin é o principal poeta da Rússia e dizia que, quando estava sem inspiração, escrevia prosa. Quase todas as suas obras em prosa e teatrais foram adaptadas pelo menos uma vez - desde o drama histórico "Boris Godunov" (escrito sob a óbvia influência das crônicas históricas de Shakespeare) até a história "A Filha do Capitão" e o ciclo "Os Contos de Belkin".
“A Rainha de Espadas” (que teve sozinha 21 adaptações cinematográficas) é adaptada ao gênero de filmes de terror desde a era do cinema mudo e ainda goza de um amor especial dos cineastas. Uma de suas melhores adaptações foi feita pelo britânico Thorold Dickinson e lançada em 1949.
Mas foram principalmente os contos de fadas poéticos – “O conto do pescador e do peixe”, “O conto do tsar Saltan” e o poema "Ruslan e Liudmila" - que fizeram de Púchkin um dos queridinhos do cinema.
Cena de "Domingo Negro", baseado em "Vyi".
Mario Bava/Alta Vista Productions, 1960O "Inspetor-Geral" de Gógol, sobre um visitante simplório que é confundido com o inspetor da capital, continua a ser um sucesso nos palcos e no cinema. Ele foi adaptado às telas pelo menos 17 vezes (contando as produções de TV). A última foi em 2014. Além disso, a ação do filme "Dia da Mentira" se passa em nossos dias. Outras peças dele, como "Os Jogadores" e "O Casamento", também foram adaptadas, mas com menos frequência.
Das obras em prosa de Gógol, suas histórias de terror, lideradas por "Viy" (10 adaptações), têm enorme popularidade. A adaptação de 1967 dessa obra ainda é considerada o maior sucesso em termos de filme de terror russo.
Além disso, inspirado, embora levemente, em "Viy", o clássico italiano do terror Mario Bava fez um de seus melhores filmes, "A maldição do demônio" (1960). Posteriormente, Tim Burton confessou que esse filme o influenciou muito em suas escolhas visuais em “A lenda do cavaleiro sem cabeça”.
Cena de "Anna Karenina" (1935) com Greta Garbo.
Legion MediaA autoridade de Tolstói é indiscutível e inquestionável. Entretanto, não há muitas adaptações cinematográficas de seus principais romances. Há uma explicação simples para isso: Tolstói escreveu histórias épicas, que são difíceis de transferir sem perdas, não apenas no formato de um filme, mas também como séries de filmes ou séries de TV.
Mas, é claro, existem “ousadias”. Por exemplo, "Guerra e Paz" tem 9 adaptações cinematográficas, das quais a mais famosa é a americana de 1956 com Audrey Hepburn, bem como a soviética de 1965, que ganhou um Oscar.
“Anna Karenina" tem 22 adaptações cinematográficas. A mais recente até o momento é a série mexicana “Volver a caer” (em tradução livre, "Cair de novo"), que foi lançada em 2023. As principais adaptações de “Anna Karênina”, entretanto, foram feitas em sua terra natal, bem como no Reino Unido e nos EUA, mas a trágica história de amor e traição também foi recontada por diretores na Austrália, no Egito, na Índia e em outros países.
Cena de "O Duplo".
Richard Ellef Ayoade/Alcove Entertainment, 2013Dostoiévski ganha de lavada de Tolstói neste ranking por uma série de razões. Em primeiro lugar, seus romances são geralmente mais curtos. Em segundo lugar, ele tem mais romances clássicos (8 contra 3 de Tolstói), sem contar os contos.
Em terceiro lugar, os enredos de Dostoiévski não estão tão vinculados à época em que ocorrem e são mais facilmente transferidos para o nosso tempo e para outros países.
Um exemplo é o thriller "O Duplo" (2013), baseado no romance homônimo, com Jesse Eisenberg e Mia Wasikowska. Ou o drama romântico "Amantes" (2008), baseado em "Noites Brancas”, em que os papéis principais foram interpretados por Joaquin Phoenix e Gwyneth Paltrow.
A propósito, "Noites Brancas" continua sendo uma das obras de Dostoiévski mais adaptadas às telas (pelo menos 25 adaptações). Mas, é claro, o romance "Crime e Castigo" é um verdadeiro recorde: há 60 filmes, séries de TV e até desenhos animados baseados nele. Provavelmente, a versão cinematográfica de maior sucesso é "O Batedor de Carteiras", de Robert Bresson, de 1959 (rodado na França).
Cena de "Gritos e Sussurros".
Ingmar Bergman/Cinematograph AB, Svenska Filminstitutet (SFI), 1972As peças clássicas são sempre mais facilmente adaptadas para a tela do que qualquer outro texto. Portanto, não é de surpreender que Tchékhov esteja entre os escritores mais exibidos no mundo. Suas grandes peças - "A Gaivota", "Tio Vânia", "O Jardim de Cerejeiras" e outras – geraram dezenas, se não centenas, de adaptações cinematográficas.
A obra-prima "Sussurros e Gritos" de Ingmar Bergman foi inspirada em "As Três Irmãs", “Tio Vanya em Nova York” de Louis Malle foi baseado em "Tio Vânia", "A Gaivota" foi adaptado por Sidney Lumet e muitos outros diretores recorreram a Tchékhov.
No entanto, o dramaturgo russo ainda está longe de atingir o recorde mundial. Shakespeare continua inatingível - sua filmografia conta com mais de 1.600 títulos.
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