O Russia Beyond recomenda: “O Idiota”, de Dostoiévski

Cultura
NIKOLAI CHEVTCHENKO
Romance dá visão esclarecedora de uma sociedade moderna que não mudou muito desde a década de 1860... Mas você já o leu?

Um homem virtuoso e altruísta flana pelas complexidades de um círculo social restrito de São Petersburgo. Visto como uma ovelha negra por pessoas corrompidas e corruptoras, ele não desiste de seu amplo amor, semelhante ao de Cristo pelas almas dos pecadores, e acaba enlouquecendo.

Enredo

Depois de passar vários anos em uma instituição psiquiátrica suíça, o príncipe Míchkin viaja para São Petersburgo. No trem, ele conhece um homem chamado Rogójin.

Depois de se tornar herdeiro de uma grande riqueza com a morte repentina de seu pai, Rogójin planeja se casar com uma bela mulher chamada Nastássia Filíppovna, que ele ama desesperadamente, apesar da reputação dela.

Ao chegar a São Petersburgo, o príncipe Míchkin conhece Madame e General Epantchins, seus parentes distantes, e o secretária deles, Gánia.

Mas o general Epantchin, Gánia e um poderoso homem chamado Afanássi Tótski (que abusou sexualmente de Nastássia Filíppovna quando a tomou sob seus cuidados, ainda órfã, mas depois se cansou dela, uma mulher adulta que tinha raiva dele e era difícil de controlar) têm planos para Nastássia.

Tótski quer se livrar dela e está disposto a fornecer um grande dote para quem se casar com ela. O general Epantchin também quer que Nastássia vá embora, porque tem planos de casar uma de suas filhas com Tótski, um negócio que será muito lucrativo para ele. Já o secretário do general, Gánia quer se casar com Nastássia, não apenas porque a acha atraente, mas por causa do dote de 75.000 rublos dela.

Enquanto isso, a filha mais nova do general, Agláia, se apaixona pelo sincero, altruísta e atencioso príncipe Míchkin. Mas ele é inocente demais para perceber que ela está atraída por ele.

Percebendo que o casamento com Agláia traria mais benefícios sociais e financeiros, Gánia desiste de se casar com Nastássia — a não ser que seja recusado por Agláia. Sem querer, o príncipe Míchkin se torna intermediário entre Gánia e Agláia, mas logo descobre que ela não quer nada com o secretário e recusa o casamento.

Quando o príncipe Míchkin e seu conhecido Rogójin se aproximam, Míchkin fala sobre seus sentimentos por Nastássia para seu amigo. Com ciúmes, Rogójin tenta assassinar Míchkin, mas o príncipe tem um ataque de epilepsia, forçando Rogójin a abandonar seu plano.

Assim que Míchkin se recupera, ele, mais uma vez, demonstra seu profundo altruísmo e pede desculpas a Rogójin por ter pensado que ele queria matá-lo.

O príncipe Míchkin começa a ter sentimentos por Nastássia e Agláia. Seu amor por Nastássia é compaixão e, por Agláia, é por paixão. Quando ele é forçado a escolher, escolhe a compaixão, porque é mais altruísta que seus profundos sentimentos por Agláia.

O casamento entre Míchkin e Nastassia está arranjado, mas a noiva muda de ideia no último segundo. Ela acredita que o futuro marido é bom e puro demais para se casar com ela e o troca por Rogójin no dia do casamento.

O príncipe Míchkin encontra Rogójin, que o leva para casa e mostra o cadáver de Nastássia, que ele matou. Rogójin adoece e Míchkin tenta acalmar seu amigo, angustiado, e aliviar seu sofrimento.

Quando os dois são descobertos, Rogójin fica em péssimo estado, mas Míchkin já perdera a sanidade, tornando-se um “idiota”. Depois disso, Rogójin é julgado por assassinato e condenado ao exílio na Sibéria. Já Míchkin retorna à instituição psiquiátrica na Suíça, com poucas esperanças de se recuperar.

O que há por trás da novela?

Ao escrever “O Idiota”, Dostoiévski passa a explorar um personagem semelhante a Cristo - o príncipe Míchkin – e como ele se sairia em uma sociedade moderna corrompida. O escritor insere uma alma altruísta e pura a um caos caracterizado pela desigualdade social e financeira.

Os outros personagens de Dostoiévski são essencialmente humanos: apesar de suas diferentes personalidades e circunstâncias, eles se equilibram à beira da salvação e da destruição, mas não conseguem se livrar de suas piores características para se aproximarem do personagem do príncipe Míchkin — que parece ser tão gentil e virtuoso que os outros o veem como um “idiota”, incapaz de viver na sociedade mundana.

No final do romance, o protagonista torna-se aquilo de que fora taxado, depois de um colapso mental e incapaz de se recuperar.

Dostoiévski realizou mais um grande empreendimento filosófico ao escrever “O Idiota”, mas não gostou do resultado do romance. Os leitores da época também não ficaram impressionados com o livro. No entanto, com o passar do tempo, ele passou a ser considerado uma das obras mais importantes da literatura clássica russa.

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