- O perigo vermelho
Na terceira temporada, pessoas comuns lideradas por Butcher estão mais uma vez tentando encontrar uma maneira de eliminar o super-herói principal, Capitão Pátria – o tirano que administra todo o esquema dos Sete super-heróis. Até agora não foi possível minar os Sete por dentro com a ajuda de Starlight e até mesmo das forças de um departamento especial do FBI. Então Butcher e seus rapazes se recordam de outra organização de super-heróis, Payback, que operava na década de 1980 e entrou em colapso após a morte de Soldier Boy. Segundo a lenda, Soldier Boy se opôs com sucesso ao “perigo vermelho” e até mesmo evitou uma guerra nuclear, mas acabou sendo morto durante uma operação na Nicarágua quando as forças especiais russas apareceram inesperadamente. A arma usada para matar o super-herói aparentemente imortal poderia ser encontrada atrás da Cortina de Ferro. É por isso que Butcher e os rapazes decidem embarcar em uma jornada para a Rússia - para sua sorte, no ano 2020, os superjatos poderiam voar de Nova York a Moscou sem restrições.
- Tverskaya em Brighton Beach
Aliás, a imersão na realidade russa começa antes mesmo do voo para Moscou – com o bairro de língua russa de Brighton Beach e sua mercearia Tverskaya, que leva o nome da rua principal da capital russa. Pode-se encontrar de tudo na loja: de trigo sarraceno a potes de três litros de picles e os bolinhos que uma femme fatale chamada Nina faz com as próprias mãos, contra o fundo de pôsteres de mostarda e vodca. Ela é responsável não apenas pela cesta de compras dos imigrantes da URSS, que às vezes sentem saudades de picles e trigo sarraceno (não há escassez de vodca nas mercearias americanas comuns), mas também pelo tráfico de drogas local. Tudo isso graças a protetores poderosos, dos quais alguns permaneceram na Rússia. No caso de Nina, trata-se de “oligarcas e funcionários do Ministério do Interior”, contra os quais a mulher possui certo material comprometedor.
- O Projeto Nina
Aliás, vamos falar sobre nomes. Em “Stranger Things”, a pequena Eleven estava envolvida em um projeto secreto chamado Nina – foi lá que ela conseguiu recuperar seus superpoderes. E os criadores de “The Boys” também decidiram adotar o nome Nina para seu enredo Rússia-Estados Unidos. O nome não pode ser encarado como acidental. Na década de 1960, a história de Nina Kulagina, que supostamente tinha telecinética e outras habilidades incomuns, tornou-se conhecida em todo o mundo. O fenômeno Kulagina foi estudado por vários institutos de pesquisa, envolvendo cientistas estrangeiros, entre outros. No entanto, os especialistas sustentavam opiniões divergentes sobre os superpoderes de Nina. Além disso, Kulagina foi condenada por fraude em 1966, e isso não nada teve a ver com suas atividades extrassensoriais, mas com a venda ilegal de móveis. Com exceção de Nina, os outros nomes russos em “The Boys” foram pensados sem muita imaginação. Recorre-se aos velhos clássicos Mikhail Petrov e Piotr Semionov. No entanto, os sobrenomes mais comuns na Rússia ainda são Kuznetsov, Ivanov, Popov e Smirnov.
- Moscou com a Catedral de Cristo Salvador e grafite
Quando o cenário muda para Moscou em “The Boys”, o símbolo da cidade, que obviamente não foi filmada na verdadeira capital russa, não é o Kremlin, mas a Catedral de Cristo Salvador, localizada a cerca de 20 minutos a pé da Praça Vermelha. Foi construída no final do século 19, porém demolida sob o domínio de Stálin, para ser substituído por uma piscina. A catedral só foi reconstruída no final da década de 1990. O marco é mostrado fugazmente em “The Boys” – na rota que Butcher e os rapazes fazem a caminho do esconderijo em Moscou. Eles passam por ruas com muito grafite, mesmo considerando que o grafite – embora presente em certa medida nas regiões centrais de Moscou – seja encontrado com muito menos frequência do que o apresentado na série. O esconderijo em si é um porão com poltronas e sofás, e suas paredes estão cobertas de pôsteres nos quais palavras russas são impressas com precisão impecável.
Não se pode dizer o mesmo, porém, sobre os sotaques dos “oligarcas e fontes do Ministério do Interior” locais se divertindo em uma festa barulhenta. Ou sobre os oficiais do Ministério da Energia da Federação Russa, um edifício que em “The Boys” é quase como uma base militar. Os ministérios russos podem até ser grandes edifícios, mas na maioria são prédios de escritórios em que trabalham funcionários comuns.
- Referências musicais e cinematográficas
Butcher e os rapazes promovem uma carnificina na festa, realizada em uma mansão opulenta. Curiosamente, a cena se passa com a trilha sonora da versão russa de “I Will Survive”, de Gloria Gaynor. Além disso, a série inclui a faixa “Junk”, do grupo de rock russo Jane Air, e a música dos anos 90 “My Bright Light”, da agora esquecida cantora Tatiana Bulanova. Soldier Boy até tem flashbacks musicais nos Estados Unidos – ao ouvir uma música underground russa tocando em uma oficina de automóveis no centro de Manhattan, Soldier Boy destrói praticamente todo um quarteirão em Nova York.
“The Boys” também contém outro “eco de guerra". Na cena do banho de sangue, Butcher e os rapazes levam o espectador russo de volta aos filmes “Amanhecer Violento” e “Rocky 4”, que eram populares na década de 1980. O primeiro é um clássico da época da Guerra Fria sobre os agressores soviéticos e a resistência norte-americana. O segundo foi o filme de maior sucesso da franquia de filmes estrelado por Sylvester Stallone. É o longa da série em que Rocky luta contra o oficial soviético Ivan Drago, interpretado pelo então jovem Dolph Lundgren, que passou a incorporar vários russos em outros filmes norte-americanos.
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