Yuri Norstein, o gênio por trás da animação “O ouriço no nevoeiro”, não usa animação por computador em seus emblemáticos filmes e é considerado um dos melhores diretores de animação de todos os tempos.
Ele criou “O ouriço no nevoeiro” em 1975 e, a partir de então, ganhou vários prêmios internacionais por ele, que foi selecionado por 140 diretores de animação de todo o mundo e classificado em primeiro lugar no Festival de Animação de Laputa, de 2003, no Japão.
Esta clássica jornada pela floresta trata-se de uma fantasia atemporal que só se vê em sonho. Na animação de Yuri Norstein, o ouriço passa por uma estrada deserta na floresta para encontra seu amigo querido, um filhote de urso. Eles bebem chá com geleia de framboesa e contam as estrelas juntos.
Durante a curta viagem solo do ouriço, o tempo diminui e os medos aumentam. O ouriço caminha através da densa névoa, seguido por uma misteriosa coruja, um caracol, um morcego, um cachorro e um magnífico cavalo branco, que surge de maneira fantasmagórica em meio à névoa.
As sombras estão sempre prontas a cair, e o ouriço se enfia pela floresta densa em busca de um milagre. Como diz um antigo provérbio alemão: “o medo torna o lobo maior do que ele é”.
Cheio de suspense, tipos estranhas e surpresas repentinas, “O ouriço no nevoeiro” parece um conto de Hitchcock em miniatura, com mistério, drama e uma bela cinematografia.
A animação de Norstein tem uma atmosfera mística e um estilo poético. O artista usou várias camadas de painéis de vidro para criar efeitos tridimensionais não convencionais. Em 1984, outra obra-prima de Norstein, “O conto dos contos”, foi eleito o melhor filme de animação de todos os tempos no Festival de Artes Olímpicas de Los Angeles.
Embora, tecnicamente, “O ouriço no nevoeiro” seja apenas a história de uma pobre criatura perdida em uma floresta com campo de visão limitado, ele trata, na verdade, da misteriosa alma russa e sua razão de ser.
“O ouriço no nevoeiro” é visualmente impressionante, emocionalmente envolvente e estilisticamente único. Ele fala a linguagem universal do medo, esperança e crença.
Fonte de inspiração
Yuri Norstein conta que, tentava descobrir, junto com a mulher, Francesca Yarbusova (com quem trabalhou em todos seus filmes) como a personagem principal devia ser, a dupla encontrou inspiração em “O Salvador Zvenigorod”, um ícone que traz o rosto de Jesus Cristo pintado por Andrêi Rublióv.
O ícone passou a transmitir o espírito do personagem que Norstein buscava espelhar em sua animação. O diretor descreveu isso como “um sentimento de universalidade do personagem”.
Mas ninguém acreditava no sucesso de “O ouriço no nevoeiro”. Quando Norstein apresentou seu projeto à comissão estatal soviética que deveria autorizar a produção do filme, o diretor foi questionado sobre o motivo de escolher uma história tão chata. Então Norstein citou Dante: “No meio da jornada de nossa vida, me encontrei dentro de uma floresta escura.” Milagrosamente, funcionou e Norstein recebeu a esperada autorização.
“O ouriço no nevoeiro” costuma ser interpretado como uma parábola, e o rio em que o ouriço cai é comparado ao Styx (o rio que separa a Terra e o submundo grego) e ao Lete, o rio do esquecimento.
“Todos os dias, o ouriço vai até o filhote de urso, mas, certa vez, ele entra no nevoeiro e sai de lá diferente. Esta é uma história sobre como, sob a influência de algumas circunstâncias das quais desconhecemos totalmente, nosso estado habitual pode repentinamente se transformar em uma catástrofe”, explicou Norstein.
A animação está disponível gratuitamente aqui.
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